Terra do bumba meu boi
Tradição dos ancestrais
Onde guará é vermelho
E outros lindos animais
De um verde encantador
Dos ricos carnaubais
Mês de junho no maranhão
As ruas viram calçadas
Os turistas se deleitam
Com as praças enfeitadas
E festas animadíssimas
Até altas madrugadas
Tudo isso em louvor
A São Pedro e São João
Santo Antônio e São Marçal
São os santos de tradição
Dessa forma assim começa
A festa do Maranhão
As mais autênticas brincadeiras
Quadrilha que não é pouco
Lelê e tambor de crioula
Cacuriá coisa de louco
Encanta toda plateia
A linda dança do coco
Quem criou todas elas
Não posso afirmar quem foi
Se é fã de algumas delas
Eu peço que me perdoe
Porque dela a que mais gosto
Pois é o Bumba meu Boi.
Porém uma certa vez
Viajei pro Maranhão
Conheci lá uma pessoa
De um meigo coração
Perguntei se ela não tinha
Livros velhos da região.
Índia, uma das componentes importantes
Ela disse por exemplo
Eu respondi no momento
É sobre Bumba meu Boi
Sem haver constrangimento
Por acaso adquirir
Tem meu agradecimento
A mulher disse eu tenho
Uma boa coleção
Vou dar tudo de presente
Não cobrarei um tostão
Só porque você gosta
Das coisas do Maranhão
O nome dessa mulher
Chama Dona Vitória
De acordo com o que li
E o que tenho na memória
Vou descrever o caminho
E o roteiro da história.
Era um casal de negros
Que morava na fazenda
Simplesmente moradores
De barraca ou de tenda
E sua esposa lhe pediu
Uma difícil encomenda.
Pois o casal de escravos
Vivia na triste sina
Trabalhando de sol a sol
Como o patrão determina
Mas vivia satisfeito
Seu Francisco e Catarina.
A mulher estava grávida
O filho próximo a nascer
Desejou imediato
A língua do boi comer
Exigiu que Chico trouxesse
Antes do dia amanhecer
Seu Francisco encabulado
Sem ter outra solução
Nunca lhe foi na memória
De um dia ser patrão
Furtou o touro mais lindo
Do seu querido patrão.
O fazendeiro ao chegar
Viu o gado num só brilho
As galinhas no terreiro
Cantando e comendo milho
Só estava ali faltando
O seu querido novilho.
O patrão disse vão todos
Vê se uma cobra mordeu
Revire toda fazenda
Vejam o que aconteceu
Só retorne com a notícia
Se o novilho apareceu.
Bem antes do meio dia
Chega um vaqueiro sem ar
Disse olha meu patrão
É muito triste o seu penar
Eu achei seu novilho
Tenha calma vou contar.
Quando eu encontrei o boi
Estava no mato sozinho
Achei perto da braúna
Afastado no caminho
Levaram a língua do boi
Ficou o resto todinho.
O fazendeiro cara dura
Não dava uma risada
Deu ordem a seus capangas
Pra dar uma averiguada
E descubro com urgência
O autor da presepada.
Após grande investigação
Só teve Chico culpado
Foram prender seu Francisco
Mas ao ser localizado
Nega o fato acontecido
Daquele crime passado.
Chico foge do seu patrão
Se embrenha no matagal
Mas o fazendeiro quer
Saber porém afinal
Por qual motivo Chico
Fez aquilo com animal.
Grande tribo de índios
Formada pelo patrão
Para procurar Francisco
Nas matas do Maranhão
Os indígenas sabem bem
Como a palma de sua mão.
Sem ver dificuldade
Logo logo foi encontrado
Preso pelos indígenas
Pai Francisco desarmado
Conduzido ao seu patrão
Após ser localizado.
Ao chegar na fazenda
Nega todo envolvimento
Vem aí o interrogatório
Tristonho e violento
Após uma grande tortura
Ele deu o depoimento.
Querido nobre patrão
Que minha pena lhe faz
Eu furtei da sua fazenda
O boi que gostava mais
A mulher estava grávida
E tirou a minha paz.
Pediu a língua de um boi
Pra arrumar em qualquer canto
Quando ela falou isso
Eu tive o maior espanto
Pedi perdão a Deus
E me valei de todo santo.
Meu consciente falando
Talvez você se arrependa
Só pensava no meu filho
E na difícil encomenda
Fiz todo crime sozinho
Afastado da fazenda.
O patrão disse eu vou ver
Se o seu santo é muito forte
Vamos ver qual de nós dois
Quem é que tem mais sorte
Se o boi ressuscitar
Escapa da pena de morte.
Primeiro foi os doutores
Com sua alta formatura
Foi feito todo possível
Mas o boi não teve cura
Chico tristonho dava
Um passo pra sepultura.
Um índio disse patrão
Nunca perca sua fé
Vá na tribo do Cazumba
E procure nosso Pajé
Só ele é quem sabe como
Deixa o seu boi em pé.
O fazendeiro mandou
Um vaqueiro dar o recado
Falasse para o Pajé
Que viesse aqui vexado
Dar vida a seu novilho
Com o seu poder sagrado.
O Pajé de imediato
Desembrenhou no matagal
Ao chegar na fazenda
Fez aquele ritual
Finalmente conseguiu
Ressuscitar o animal.
Isso sim que é preservar
A cultura da região
O Bumba Meu Boi é
Maior festa de tradição
Essas e muitas outras
No estado do Maranhão.
(João Peron de Lima, nascido em Recife aos 14 de agosto de 1985. Contatos: Rua São João, 219 – Distrito de Anjinhos, Santa do Cariri/CE. CEP 63190-000 – Fone: (88) 3545-0006).
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