A tão malfadada briga de foice no sertão
Morei por 14 anos num mesmo apartamento no Rio de Janeiro. Por igual tempo, nunca descobri o nome de nenhum vizinho – incluindo os do mesmo andar. Não sei se isso é bom ou ruim. Por mais de 10 anos eu trabalhei feito um burro de carga. Durante o dia, numa Editora Gráfica, onde trabalhava, também, fazendo horas extras de segunda à quinta-feira (a sexta-feira era o dia do chope).
Por igual período, aos sábados e domingos, trabalhava numa empresa inglesa – nunca “gastei” um centavo ganho nessa empresa (Arthur Andersen). Juntei tudo e, assim, pude comprar com pagamento à vista, uma casinha em Fortaleza, onde moram minhas filhas do primeiro casamento, com a mãe.
Com o tempo descobri que, o povo carioca é muito cordial e excelentes pessoas quando se tornam amigos. E mais, não são difíceis de fazer amizades. São abertos, gentis, educados e respeitadores. Morei também alguns meses em Curitiba e em São Paulo e já estou morando em São Luís há 31 anos. Não posso dizer do povo desses outros estados, o mesmo que disse dos cariocas. Só depois de muito tempo, descobri que, “carioca”, não é quem nasce no Rio de Janeiro. “Carioca” é muito mais um “estado de espírito”. O “carioca” leva tudo numa boa, sem problemas e sem brigas.
Tentei dizer nesses três primeiros parágrafos que não tenho entendido o comportamento de algumas pessoas, curtidas na casca do alho, que frequentaram escola e de boas árvores genealógicas que, nas redes sociais estão desfazendo amizades (algumas até de longo tempo) por posições contrárias à política brasileira.
Fico sem entender, como pessoas adultas e escolarizadas se indispõem por essa “merda” chamada política brasileira. A política brasileira é uma merda. Fedorenta, mais que lama apodrecida.
Mais estranho é que as discussões acabam gerando um verdadeira “briga de foice no escuro”. E, muito mais estranho ainda é que partem de pessoas que dizem conhecer e discutir a tal da “democracia”.
Quem não soma ou não aprova as ideias “democráticas” de outrem, logo é adjetivado de golpista, fascista, coxinha, esquerdistas e daí em diante. Que porcaria de democracia é essa que alguns defendem?
Quando será que alguém vai descobrir que é uma verdadeira idiotice brigar e desfazer uma amizade por conta de Lula, Dilma, Collor, Maluf, dória ou seja lá qual político for?
A bola da pelada de todas as tardes
Quando será que alguém vai procurar descobrir por que os gestores municipais e estaduais gostam tanto de “construir ginásios com quadras poliesportivas?
E, isso, muito antes de existir a Odebrecht. Pois bem!
Provavelmente os que jogavam peladas na rua todas as tardes (depois de fazerem os deveres escolares – quando alguém precisava fazer uma prova, no dia seguinte, sequer aparecia na rua), não estejam mais neste plano terreno. Mas, se estiverem, certamente vão lembrar que, os traves dos “campos” imaginários eram, quase sempre, as camisas – que aparecia sempre um FDP para mijar nessas camisas.
O melhor jogo nunca acontecia com placar de 10 (aquele que, quando algum time fazia 10 gols, acabava a partida). Terminava, mesmo, quando ninguém conseguir enxergar a bola.
Nesta semana “pesquei” uma das nossas famosas regras utilizadas para nortear as salutares brincadeiras de fins de tarde. Vejam:
Regras do Futebol de Rua de Antigamente
(Aprovadas pela FIFA – Federação Infantil de Fazer Amigos)
(1) Os dois melhores não podem estar no mesmo time. Logo, eles tiram par-ou-ímpar e escolhem os times
(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação
(3) Um time joga sem camisa e o outro com camisa
(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de agarrar
(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um agarra até sofrer um gol
(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só para tentar defender a cobrança
(7) Os piores de cada lado formam na zaga
(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador
(9) Não tem juiz
(10) As faltas são marcadas no grito: se você foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirá a falta
(11) Se você está no lance, e a bola sai pela lateral, grite ” é nossa” e pegue a bola o mais rápido possível, para fazer a cobrança – essa regra também se aplica ao escanteio
(12) Lesões, como arrancar a tampa do dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais
(13) Quem chuta a bola para longe tem que buscar
(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, na porrada
(15) A partida acaba quando todos estão cansados; quando anoitece; ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa; ou quando aquela vizinha prende a bola que caiu na casa dela; ou corta a bola
(16) Mesmo que esteja 15 x 0, a partida acaba com o tradicional “quem fizer gol, ganha”
(17) rua de baixo contra rua de cima valendo refrigerante Grapette
Lembrou tua infância!!??*
Então fostes uma criança normal…
Velhos tempos que não voltam mais.
Dessa forma foi minha infância.