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Mayara Noronha, que é advogada e está no 7º mês de gestação, nasceu no Hospital Santa Luzia, mas cresceu em bairros de Taguatinga Sul e Norte |
Ceilândia e Taguatinga, duas das três cidades mais populosas do Distrito Federal, também são berço de primeiras-damas. Enquanto Michelle Bolsonaro, mulher do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), nasceu em Ceilândia, região administrativa de 489.351 habitantes, segundo dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Mayara Noronha, esposa do futuro governador do DF, Ibaneis Rocha (DEM), foi criada como taguatinguense — a cidade tem 222.598 moradores.
Aos 30 anos, Mayara assumirá o posto de primeira-dama da capital em 1º de janeiro, quando o emedebista será empossado chefe do Executivo local. A advogada nasceu no Hospital Santa Luzia, na Asa Sul, mas a família morava em Taguatinga Sul. Depois, mudaram-se para a M Norte e para a QNL, ambas em Taguatinga Norte. Ela está no sétimo mês de gestação. Espera pelo terceiro filho do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB/DF), que tem outros dois, do primeiro casamento. A expectativa é de que o caçula nasça até 22 de dezembro.
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A ceilandense Michelle conheceu o marido ao trabalhar como assessora parlamentar na Câmara dos Deputados |
Michelle de Paula Firmino Reinaldo Bolsonaro, 36 anos, conheceu Jair Bolsonaro, 63, em 2007, quando trabalhava como secretária parlamentar na Câmara dos Deputados. Namoraram e, em seis meses, ficaram noivos, quando ele estava no quinto mandato como deputado federal. Os dois casaram-se no civil em 2013, no Rio de Janeiro, onde moram.
Michelle e Mayara, além de terem nascido em cidades do Distrito Federal, têm em comum a discrição. A cientista política Denise Mantovani, da Universidade de Brasília (UnB), estuda a participação feminina na política e acredita que as companheiras dos líderes de governo deveriam ser conhecidas pelas profissionais que são e não apenas por serem casadas com homens poderosos.
Para Denise, a construção da figura de primeira-dama é uma forma de ver a mulher de maneira subordinada, o que deveria ser algo ultrapassado no século 21. “Esse posto enquadra a mulher em atividades vinculadas à assistência social. O modelo que é seguido hoje é patriarcal”, argumenta.
A futura primeira-dama Michelle atua voluntariamente como intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras) nos cultos da igreja que frequenta, no Rio. Em recentes entrevistas, ela demonstrou interesse em trabalhar com atividades inclusivas para pessoas com deficiência auditiva. Além de advogada, Mayara é servidora do Ministério dos Direitos Humanos. Ela coordena a Comissão Interministerial de Avaliação Pensão da pasta e atua na Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
Defesa
A tentativa de ligar a imagem da primeira-dama à área social também ocorre no governo do presidente Michel Temer. Com um orçamento de R$ 300 milhões, o projeto Criança Feliz, lançado pela embaixadora Marcela Temer, em outubro de 2017, concentra-se em visitas a famílias com crianças de até 3 anos — que recebem Bolsa Família e estão em condições de vulnerabilidade — e com meninos e meninas de até 6 anos com necessidades especiais.
Órgãos representativos, como o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e o Conselho de Psicologia de São Paulo, criticaram o programa. Ao Correio, a Presidência respondeu que “a esposa do presidente Michel Temer desenvolve trabalhos voluntários, sem orçamento ou remuneração”.
Ainda não se sabe como será a participação de Mayara e Michelle nos respectivos governos. A futura primeira-dama do DF pouco apareceu durante a campanha de Ibaneis. Continuou trabalhando como advogada. Michelle fez poucas aparições ao lado de Bolsonaro. Mas o defendeu de acusações sobre machismo, misoginia e homofobia.
Moradora de Ceilândia, a ambulante Ciranda Fonseca, 50 anos, vê as primeiras-damas como uma esperança para melhorias nas duas cidades do DF. “Quero que elas olhem para a periferia e sensibilizem Ibaneis e Bolsonaro”, disse.