27 de setembro de 2021 | 05h00
Meu fim de semana esportivo foi salvo por dois jogadores do Corinthians. Pensei em escrever hoje sobre a partida entre Atlético-MG e Palmeiras desta terça-feira, que vale vaga para a final da Libertadores. Mas depois de ver a vitória do Corinthians por 2 a 1 sobre o Palmeiras, quebrando jejum diante do rival, me rendi ao bom futebol de Willian e Roger Guedes, este último autor de três gols, mas somente dois confirmados pela arbitragem – o outro, após contra-ataque e passe puxado por Willian, o bandeira viu, e o VAR dedurou, o joelho do corintiano à frente do marcador. Portanto, em impedimento.
Willian parece ser uma Mercedes (antes se falava Ferrari) perto de seus companheiros e adversários. Aos 33 anos, mas com físico de bem menos, ele não toma o menor conhecimento dos oponentes, acelera em quase todas as jogadas e vai para dentro dos adversários, em direção ao gol. Seu único objetivo é ganhar terreno, avançar e chutar ou passar para os colegas mais bem posicionados do que ele no lance.
Contra o Palmeiras, foram cinco ou mais arrancadas daquelas de correr com a bola nos pés, lembrando nossos pontas e pontas de lança do passado. O saudosismo é grande, confesso. Willian, em sua segunda partida pelo Corinthians, mesmo ainda sem condicionamento físico adequado, enche de esperança o torcedor por um futebol que há muito tempo não se vê no Brasil.
Os jogadores brasileiros no País são lentos, preferem tocar para trás mesmo quando não se trata de nenhuma armadilha para abrir a marcação do rival, reclamam de faltas o tempo todo e quando as sofrem se entregam ao gramado como se estivessem entre a vida e morte. São adeptos de parar a disputa por nada. Willian volta ao Brasil com outra mentalidade depois de 14 anos fora, principalmente no corrido futebol inglês, o melhor do mundo.
Não reclama, não fala com o árbitro, cai e levanta no mesmo minuto, não pede atendimento por nada e enche o peito para vencer seus marcadores.
Salvou meu fim de semana depois de uma partida entre Palmeiras e Atlético-MG arrastada, sem ataque, medrosa e disciplinada dos dois lados, com maior responsabilidade do time da casa de sair para o jogo e buscar jogadas e gols.
Viva Willian! O futebol brasileiro precisa de mais jogadores como ele, com sua coragem e jeito de atuar. Abaixo os treinadores que temem atacar e tiram de seus homens de frente sua alma, pedindo para eles recuarem e marcarem atrás da linha da bola. Tomara Sylvinho, formado como treinador basicamente na Europa, tenha essa coragem e jamais tire de Willian sua disposição e característica de correr com a bola nos pés, de mirar o gol e de partir com ela dominada para dentro dos seus ‘joões’ do futebol brasileiro.
Roger Guedes também trabalha para entrar em forma. Esteve melhor no sábado do que em partidas anteriores. Joga aberto pela esquerda, mas com facilidade de entrar pelo meio. Dele, me agrada muito a disposição de chutar a gol, sua rapidez para posicionar o corpo de modo a pegar bem na bola. Roger não bate de qualquer jeito. Ele tem essa facilidade que para muitos outros é impossível. Também trouxe essa característica do futebol de fora, ou aprimorou sua condição depois de deixar o País.
É atacante que se doa, parece meio desligado em determinados momentos da partida, com os braços arreados, mas está sempre atento. Reclama quando não recebe os passes que gostaria de receber dos companheiros. Tem apetite. Como Willian, não é jogador ‘cai-cai’, tampouco simulador de faltas e de tapas no rosto – a nova praga do futebol brasileiro.