11 de junho de 2022 | 05h00
Vasco e Cruzeiro já se enfrentaram inúmeras vezes em seus mais de 100 anos de história. Porém, o encontro deste domingo, às 16h, no Maracanã, pela 12ª rodada da Série B, inaugura uma nova era comum aos dois: a das Sociedades Anônimas de Futebol. Dois dos principais clubes do País, eles duelam pela primeira vez nesse novo cenário. O clube mineiro já se tornou empresa. O carioca, oficialmente, ainda não.
Há algumas semelhanças, mas mais diferenças no modelo de investimento e de gestão de Vasco e Cruzeiro, cujas SAFs, comandadas pela 777 Partners e por Ronaldo Fenômeno, respectivamente, estão em estágios distintos. "Mas já percebemos uma similaridade: as duas estão focadas em profissionalizar definitivamente as gestões", diz Armênio Neto, especialista em negócios do esporte.
Oficialmente, o Vasco ainda não se tornou empresa. A expectativa em São Januário é que receba uma proposta definitiva da 777 Partners na próxima semana. Os valores da transação são de R$ 700 milhões por 70% das ações. Desse total, R$ 70 milhões já foram usados como empréstimo-ponte no início do acordo entre as partes e serviu para aliviar as contas do clube a curto prazo. O período de due diligence já foi concluído e o clube recebeu, nas últimas semanas, executivos da companhia para acertar os últimos detalhes.
"Todo o dinheiro deve ser investido nos próximos, eu diria, quatro anos, mais ou menos. Depende de algumas coisas. Parte do dinheiro para infraestrutura, uma parte diferente será para pagamento de dívidas, etc", explicou Juan Arciniegas, diretor da 777 Partners, em entrevista recente ao Estadão.
Ainda falta aprovação dos conselheiros e, posteriormente, dos sócios em Assembleia Geral, para concluir o acordo. A previsão é que de seja aceito por ampla maioria, como foi nos pleitos anteriores para decidir se o Vasco poderia se tornar uma SAF. Concluindo todo o processo, a 777 quer utilizar a próxima janela de transferências para começar a reforçar o time.
O projeto da 777 no futebol começou há pouco tempo. Hoje é sócia minoritária do Sevilla, da Espanha, mas virou dona do Genoa no segundo semestre do ano passado. O clube italiano até contratou vários atletas na janela, mas acabou rebaixado à segunda divisão. Em março, a empresa também passou a comandar o Standard Liege, da Bélgica. O discurso da companhia é pensar no projeto a longo prazo e o Vasco passa a ser sua referência no futebol sul-americano.
"A parte de gestão, governança e controle vai ter que ser feita com mais cuidado. É interessante ver a 777 trabalhando nesse sentido. Acredito que estão montando um grupo similar ao do City", avalia Luiz Henrique Martins Ribeiro advogado que participou junto ao Congresso de audiências públicas e comissões na construção da legislação sobre clubes-empresa no Brasil. Hoje presta consultoria para clubes que pretendem migrar do modelo associativo para o empresarial.
"Esse movimento de conglomerados de clubes é uma tendência que o mercado começa a mostrar. Clubes que buscarão exportar jogadores brasileiros provavelmente terão essa possibilidade de criar conglomerados, de modo que facilite essa experiência", completa.
No Cruzeiro, as coisas estão mais avançadas. Ronaldo Fenômeno concluiu a compra de 90% das ações do clube mineiro em abril. Foram quase 120 dias entre a assinatura de intenção de compra do Cruzeiro, dia 18 de dezembro, até o acordo ser firmado em definitivo. Adquirir a SAF foi um maneira encontrada para recolocar o time na elite nacional e tentar diminuir as altas dívidas de R$ 1 bilhão.
O ex-jogador vai injetar inicialmente R$ 50 milhões e tem compromisso de aportar mais R$ 350 milhões ao longo dos próximos anos. Ele assume também uma dívida de tributos de R$ 200 milhões.
"Me sinto honrado por poder liderar o processo de reconstrução do clube. A torcida, mercado e demais stakeholders podem ter certeza de que não descansaremos até implementar amplamente um modelo de gestão eficiente, ético e que traga sucesso desportivo ao clube", garantira Ronaldo, dono também do Valladolid, da Espanha.
O Cruzeiro engatou oito vitórias seguidas e lidera a Série B com 28 pontos em 11 jogos. O Vasco, mais irregular, soma 21 e ocupa o terceiro posto. Os dois estão, portanto, dentro da zona de acesso à elite do futebol brasileiro, grande o objetivo de ambos e que não foi alcançado em 2021.
O Vasco segue à procura de um técnico desde a saída de Zé Ricardo para o futebol japonês. Quem comandou a equipe na boa vitória sobre o Náutico por 3 a 2, na última rodada, fora de casa, foi o assistente técnico permanente Emilio Faro, que vai novamente estar na beira do campo contra o Cruzeiro.