Há cinco jogos sem vencer e no primeiro após a demissão do técnico Álvaro Pacheco, o Vasco vivia um ambiente de panela de pressão. Uma semana marcada por protestos culminou num São Januário com apenas cinco mil torcedores, que vaiavam o elenco desde o aquecimento. Seria preciso muita força psicológica e um grande jogo para tirar de um confronto difícil contra o São Paulo um bom resultado e afastar o Vasco da zona de rebaixamento. Mas a ousadia e a personalidade da garotada e do técnico interino Rafael Paiva transformaram o clima ruim da noite em festa, alívio e goleada: 4 a 1.
Técnico do sub-20, Paiva conta com certo prestígio da torcida pela boa passagem que teve após saída de Ramón Díaz, mas precisaria de coragem para mexer num time que vinha desgastado e com pouquíssima inspiração defensiva e ofensiva. Foi o que fez, trazendo para seu lado jogadores que conhece: os jovens da base.
Em uma temporada e meia complexas e nervosas do ano passado para cá, os jovens cruz-maltinos vêm tendo pouco espaço ou situações confortáveis para entrarem no time. Ontem, porém, três mostraram a que vieram. O primeiro deles, o meia Guilherme Estrella, de 19 anos. Já nos acréscimos, recebeu de Adson e conduziu contra-ataque com muita inteligência e personalidade, levando para o meio e vencendo o goleiro Jandrei para virar o jogo ainda no primeiro tempo (2 a 1). Marcou seu primeiro gol como profissional em sua primeira partida no Brasileiro. Ele já havia sido testado no Campeonato Carioca.
Assim como o lateral-esquerdo Leandrinho, também de 19 anos. Nos poucos minutos que teve em campo, substituindo Lucas Piton, produziu outro golaço, o terceiro do Vasco na partida, em linda finalização, esta já no segundo tempo. Ele, que já havia marcado um golaço contra o Boavista, no Estadual, recebeu de David e teve a chance de cruzar para o meio da área, mas foi muito feliz ao bater quase sem ângulo para o gol.
O próprio David completou uma goleada inesperada, mas que veio em ótima hora, ao receber passe de outro garoto da base: JP, que vinha ganhando oportunidades como titular e em seu quarto jogo como profissional voltou a ter boa atuação, desta vez acionado no segundo tempo. As três intervenções, os chutes de Estrella e Leandrinho e o passe de JP, foram fruto da inteligência, talento e coragem da juventude que fazem muito bem ao time em meio a esse momento conturbado.
Modificações
Além dos jovens, Paiva fez mexidas das mais simples às mais complexas. No meio, com as suspensões de Zé Gabriel e Galdames, optou por Hugo Moura e Mateus Carvalho, que fizeram jogo seguro na contenção. No ataque, voltou com a dupla David e Adson nas pontas, a que melhor funcionou no início da temporada.
Atuando pela direita, onde sempre rendeu melhor — vinha sendo deslocado para a esquerda quando Rossi iniciava —, Adson fez ótimo primeiro tempo e deu origem ao primeiro gol: uma boa trama com Paulo Henrique, recebendo em profundidade e batendo para o gol, chute que causou a rebatida de Igor Vinícius em Alan Franco e resultou no gol contra do empate.
Antes disso, o cruz-maltino já havia sofrido com um expediente comum: levar um gol inoportuno quando ainda se acostumava ao ritmo do jogo e não aparentava ser ameaçado. Em jogada bem trabalhada no escanteio, Nestor encontrou André Silva para cabecear no ângulo de Léo Jardim.
Se o lema de “time da virada” tem funcionado pouco até aqui no Vasco, os dois trabalhos de Rafael Paiva têm mostrado que esse elenco tem, sim, a capacidade de contornar adversidades. Já havia sinalizado isso quando, também sob o comando dele, virou o jogo contra o Fortaleza no épico 3 a 3 pela Copa do Brasil. Seja quando for, o treinador entrega para o próximo comandante um time com muito mais perspectiva que há algumas semanas. Mas seu desafio pode continuar: na próxima rodada, quarta-feira, o Vasco visita o Bahia, na Fonte Nova.