Emocionante até a última rodada, o Campeonato Brasileiro de 2023 bateu o recorde histórico de público da competição. Desde 1971, a maior média de uma edição da Série A havia sido em 1983, com 22.953 pagantes por jogo, de acordo com a CBF. Nesta temporada, foram 26.524 torcedores por partida.
Os números, além de representarem melhora de 15,5% em relação ao recorde, demonstram também crescimento de 22,5% sobre o Brasileirão de 2022, que teve 21.646 torcedores por confronto. Uma das razões para um aumento tão expressivo pode estar justamente no rumo que o campeonato tomou até a rodada derradeira, na última quarta-feira. Se, na parte de cima, o Palmeiras precisava apenas confirmar seu título, na outra ponta, três times com torcidas de massa brigavam contra o rebaixamento à Série B: Vasco, Bahia e Santos. Mas as razões para o sucesso são maiores.
— Além da competitividade, tivemos uma melhora no acesso aos estádios. Os programas de sócio-torcedor estão cada vez mais desenvolvidos, com ingressos eletrônicos, reconhecimento facial... — analisa Bruno Romeiro, gerente da agência de marketing esportivo Absolut Sport e com oito anos de experiência no marketing da CBF.
Fernando A. Fleury, PHD em Comportamento do Consumidor Esportivo e CEO da Armatore Market + Science, acrescenta que este foi o ano da “ascensão dos torcedores”.
— Questões relacionadas a engajamento com os fãs começam a se transformar num dos pontos importantes a serem tratados pelos clubes. Além disso, estamos saindo de uma questão de torcidas reprimidas pós-pandemia — diz Fleury, que ainda destaca um ajuste nos valores dos ingressos.
ESPAÇO PARA CRESCER
Ainda que os clubes da Série A tenham implementado uma série de melhorias, especialistas afirmam que há potencial para que a presença nos estádios cresça ainda mais. É também o que indicam os números. Com exceção de 2020 e 2021, quando, em razão da pandemia, muitos jogos aconteceram com portões fechados, em todos os Brasileiros desde 2017 a média de público aumentou em relação ao ano anterior.
Entre os aspectos a ser priorizados pelos clubes e entidades envolvidas, há desde a acessibilidade até a segurança, principalmente no entorno dos estádios.
Fleury volta a destacar a relação entre os clubes e seus torcedores, que deve ir além das arenas:
— Existe espaço para que os times aumentem suas taxas de ocupação, mas também para criarem outras formas de conteúdo e de relação com o torcedor. Nessa “briga” se o torcedor é torcedor ou consumidor, ressalto sempre que ele vai além disso: o torcedor é cocriador do espetáculo esporte. O caminho para potencializarmos o crescimento da audiência, em todos os canais, é entendermos como tratar o fã.
PARÂMETRO EUROPEU
Embora ainda menores, os números do Campeonato Brasileiro de 2023 estão próximos dos de algumas das principais ligas do futebol mundial. Por exemplo, a Ligue 1, da França, tem média de 27 mil torcedores por partida na temporada 2023/2024. Já La Liga, da Espanha, conta com 28,9 mil torcedores a cada jogo.
— A Ligue 1 e a La Liga ainda estão um patamar acima em alguns aspectos. Por exemplo, os jogos desses campeonatos são televisionados em todo o mundo, já os jogos do Brasileirão ainda carecem de um mercado maior. Precisamos trabalhar na internacionalização do nosso campeonato, investir mais no nosso produto, na experiência do torcedor. Quanto mais jogadores de alto nível jogarem no Brasil, como Suárez, melhor será para o nosso produto — analisa Romeiro.
— Não somos benchmark (referência do mercado). Devemos nos espelhar nessas ligas mais evoluídas.