RIO —A pouco mais de 40 dias da eleição, a distribuição geográfica das intenções de voto mostra o desafio do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, na briga pelo segundo turno: recuperar eleitores que já foram do PSDB. Em 2014, Aécio Neves foi o mais votado em dez unidades da federação no primeiro turno — hoje, Alckmin não está à frente em nenhuma delas.
Um levantamento feito nas 22 pesquisas estaduais do Ibope divulgadas até ontem mostra que Jair Bolsonaro (PSL) avançou sobre um eleitorado tradicionalmente tucano. Ele lidera em seis estados onde Aécio se saiu melhor há quatro anos, enquanto no Paraná quem está na frente é Alvaro Dias (Podemos). É um universo de 39 milhões de eleitores, com base em dados da eleição presidencial passada. Ainda não foram feitas pesquisas no Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde Aécio também venceu.
No mapa eleitoral que já foi tucano, Bolsonaro lidera em São Paulo, com 22%, enquanto Alckmin, que governou o estado por quatro mandatos, marca 15%. O candidato do PSL também está à frente em Santa Catarina, Goiás, Espírito Santo, Rondônia e Roraima, outros redutos tucanos há quatro anos. No Paraná, Alckmin enfrenta ainda a concorrência de Alvaro Dias, ex-governador do estado, que chega a 27% — Bolsonaro tem 22%, e Alckmin, 5%.
Em 2010, no primeiro turno, José Serra (PSDB) já havia vencido em cinco desses estados: São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rondônia e Roraima, além de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre.
Bolsonaro alcança o maior resultado percentual em Roraima (39%). Ele foi ao estado durante a pré-campanha e defendeu a criação de campos de refugiados para venezuelanos. Roraima vive uma crise migratória e, na semana passada, moradores de Pacaraima expulsaram venezuelanos que estavam na cidade. A eleição local expõe também o descolamento entre as campanhas nacionais e estaduais: a disputa para governador é liderada pelo candidato do PSDB, Anchieta (36%), mas a popularidade não está sendo transferida a Alckmin até o momento.
Segundo o cientista político David Fleischer, da UnB, Bolsonaro capturou parte do sentimento antipetista:
— A campanha toda dele até hoje foi antiLula, o que pode até enfraquecer um pouco o discurso no caso de uma saída do ex-presidente.
DIVISÃO SEM LULA
Para o cientista político Carlos Pereira, da FGV-Rio, é preciso aguardar para observar se a estrutura de campanha do PSDB poderá virar o jogo:
— A campanha está aberta. É preciso ver se os métodos tradicionais, como tempo de rádio e televisão, e as coligações estaduais podem dar força ao Alckmin.
Os dados do Ibope analisados compõem o cenário em que o candidato do PT é Fernando Haddad, vice de Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a candidatura contestada pelo Ministério Público, com base na Lei da Ficha Limpa.
A distribuição das intenções de voto por estado também mostra a divisão do eleitorado lulista. Sem o apoio formal do ex-presidente, Haddad não alcança resultados expressivos. Hoje, o quadro é dividido entre Marina Silva (Rede), que está à frente em estados como Pernambuco e Bahia; e Ciro Gomes (PDT), que tem seu melhor resultado no Ceará (39%), onde tem sua base política.
O Rio Grande do Norte é o único estado do Nordeste onde Bolsonaro aparece numericamente à frente (14%), porém em empate técnico com Ciro (12%). É no Rio Grande do Norte que a segurança é vista por um percentual mais alto da população como um dos principais problemas: 80%.
O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, minimiza possíveis estratégias para reforçar o voto em territórios tucanos. Bolsonaro está desde quarta-feira no interior de São Paulo e hoje vai à Festa do Peão, em Barretos.
— A estratégia é continuar o que vem sendo feito nos últimos anos: ter contato com o povo de forma indiscriminada — diz Bebianno.