RIO - O presidente eleito Jair Bolsonaro ameaçou, na noite desta segunda-feira, afastar o economista Marcos Cintra da equipe de transição do novo governo. Em entrevista ao apresentador José Datena, da Band, Bolsonaro reagiu à informação de que Cintra publicara na internet um artigodefendendo sua proposta de criação de um imposto sobre transações bancárias nos moldes da antiga CPMF. O economista rebate críticas à ideia, argumenta que a comparação com a CPMF é indevida porque sua proposta elimina outros tributos federais e critica a ideia de um Imposto de Valor Agregado (IVA), defendida por outros integrantes da equipe econômica do presidente eleito.
Na última sexta-feira, após reportagem do GLOBO revelar que a equipe do presidente eleito cogitou criar um imposto sobre movimentações financeiras para acabar com a contribuição ao INSS que as empresas recolhem sobre os salários dos funcionários, Bolsonaro usou as redes sociais para desautorizar "quaisquer informações prestadas junto à imprensa por qualquer grupo intitulado 'equipe de Bolsonaro' especulando sobre os mais variados assuntos, tais como CPMF, previdência, etc". A informação de que o plano estava sendo analisado havia sido confirmada por Cintra.
- Esse cara já foi deputado. Está lá na equipe de transição. Já conversei com ele para não falar aquilo que não estiver acertado com o Guedes, comigo - disse o presidente eleito ontem ao ser informado do artigo por Datena, que leu ao vivo uma matéria da Agência Estado no site UOL. - Parece que tem certas pessoas, se é verdade a informação, que não podem ver uma lâmpada e se comportam como mariposa. Não pode haver crítica, não interessa quem seja. Não pode um assessor do Paulo Guedes, que ele confia, fazer críticas. Quem critica é oposição. E quem quer ser oposição tem que estar fora do meu governo. Espero que não seja (verdade a notícia), até porque tenho profundo apreço pelo Marcos Cintra.
O presidente eleito afastou qualquer possibilidade de recriar a CPMF:
- Eu tenho falado para a equipe econômica. Às vezes um outro colega pensa apenas em números, como um jogou aí. Vamos criar uma CPMF de 0,45%, mas paga quem recebe e quem também saca. Falei: negativo. Primeiro, não existe essa coisa da CPMF. A imprensa deu um cacete em cima de mim no tocante a isso daí. E muito menos uma hipótese absurda dessa de 0,9%. No meu entender, toda cadeia produtiva é onerada mais de uma vez. Isso está sendo organizado e conduzido pelo Paulo Guedes e a gente sempre puxa a orelha de um ou outro assessor.
A ideia de tributar movimentações financeiras cogitada na equipe de Bolsonaro foi revelada pelo jornal “Folha de S. Paulo” ainda no primeiro turno e causou uma crise na campanha de Bolsonaro, devido à impopularidade do “imposto do cheque”. Na ocasião, o então candidato negou a criação de impostos. Depois do episódio, Guedes cancelou encontros e a campanha não tocou mais no assunto.