Deus criou Adão, ilustrado na obra de arte de Michelangelo, e os semideuses do futebol inventaram um "malvado" favorito ao prêmio de melhor do mundo. Vinicius José Paixão de Oliveira Junior tinha sete anos quando o brasiliense Kaká desbancou Cristiano Ronaldo e Lionel Messi e conquistou a Bola de Ouro em 2007 — a última do país no tradicional prêmio criado em 1956 pela revista France Football. Para o garoto que sonhava em viver do futebol, a ascensão do camisa 8 do Milan e da Seleção era inspiração. O talento forjado em São Gonçalo (RJ) só não imaginava que poderia ser ele o responsável por restaurar uma dinastia 17 temporadas depois. Após Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Kaká, hoje, às 16h, Vini pode ser coroado número 1 na cerimônia no Théâtre du Châtelet em Paris.
O camisa 7 do Real Madrid desembarcou na Cidade Luz com os troféus da Liga dos Campeões e do Campeonato Espanhol debaixo dos braços. As conquistas da temporada 2023/2024 e as 35 participações em gols em 39 partidas — 24 bolas na rede e 11 assistências — o colocam como um dos favoritos ao prêmio, ao lado inglês e companheiro, Jude Bellingham, do volante espanhol Rodri, do Manchester City.
Vinicius Junior é acompanhado de perto e há mais tempo por um treinador especialista em transformar boleiros em melhores do mundo. Voz da consciência do brasileiro à beira do gramado desde 2021, Carlo Ancelotti precisou de quatro anos até tornar Kaká a maior estrela do Milan campeão da Champions em 2006/2007 e do mundo. Três anos antes, havia alçado o ucraniano Andriy Shevchenko ao posto de principal do planeta pelo rossonero. O técnico italiano completou o quadrado perfeito em 2014 e 2022, quando Cristiano Ronaldo e o francês Karim Benzema receberam a Bola de Ouro. Vini pode ser o próximo da linha de sucessão.
"O Ancelotti gosta muito dos brasileiros. Ele tem me ajudado bastante, conversado comigo e dado toda a confiança que todo jogador precisa. Sobre ser o melhor do mundo, eu estou no início da minha carreira ainda, tenho 21 anos. Espero seguir evoluindo e conquistar os títulos que são importantes para estar na disputa da Bola de Ouro. Eu sou muito tranquilo em relação a isso e espero fazer grandes jogos no Real e aqui na Seleção para estar bem comigo mesmo, que é o mais importante", respondeu Vini Junior ao Correio, em 2021.
A vida de Vinicius Junior mudou sob batuta de Ancelotti e após a declaração. Fortalecido fisicamente para driblar adversários, atento e solidário para distribuir assistências e mais íntimo da bola para marcar gols, assumiu o protagonismo no Real Madrid, principalmente depois da saída do centroavante francês Karim Benzema. A temporada 2023/2024 do brasileiro também escancara o amadurecimento. Os títulos do Campeonato Espanhol e Liga dos Campeões foram conquistados em meio à cruzada contra o racismo. Gente como a gente, o brasileiro confessou ter pensado em sair do Real Madrid, mas optou por responder em campo.
O desempenho pelo clube gerou expectativas sobre protagonismo de Vinicius Junior na Seleção Brasileira, sobretudo sem o lesionado Neymar. Na Copa América, ensaiou brilhantismo ao marcar dois dos quatro gols na vitória sobre o Paraguai. No entanto, tanto o grupo quanto o camisa 7 não corresponderam às expectativas na sequência da campanha, com queda nas quartas de final para o Uruguai, nos pênaltis.
A menos de uma semana da abertura do envelope com o nome do melhor do mundo, Vinicius teve uma atuação que seria capaz de mudar a opinião de indecisos e dos opositores. O jogo contra o Borussia Dortmund pela terceira rodada da primeira fase da Champions não valia para a Bola de Ouro de 2024, mas o brasileiro anotou três da virada do Real Madrid por 5 x 2 no Santiago Bernabéu e mostrou confiança para a conquista do prêmio individual. "Eu sempre disse que queria que todos os brasileiros me apoiassem e espero que na segunda eles façam isso. Passei por muitas coisas, mas sempre trabalhei com minha família, com todos os esportistas que viram todo o meu processo e entenderam que, com o tempo, eu seguiria evoluindo pela qualidade que tenho", comentou à TNT Sports.
Como funciona
A edição de 2024 da Bola de Ouro é a primeira da revista France Football em parceria com a Uefa. Desde 1995, são avaliados jogadores de todo o mundo entre o segundo semestre de um ano e o primeiro do seguinte, conforme calendário o europeu. Votam um jornalista de cada país do top-100 do ranking da Fifa. A função dos jurados é montar uma seleção com os cinco melhores entre os 30 finalistas. O representante do Brasil é o narrador Cléber Machado. Mais quatro troféus serão entregues ao futebol masculino: treinador do ano; Kopa, para o melhor sub-21; Yashin, de melhor goleiro; e Gerd Müller, parao artilheiro da temporada por clubes e seleções.