Em 1957, Nelson Rodrigues escreveu uma peça que se chamava “Boca de Ouro”, sobre um bicheiro que mandava arrancar todos os dentes e colocar uma dentadura de ouro, para “se alugar”.
Nessea período, pessoas ricas e vaidosas investiam altos valores em dentes de ouro, exibindo sorrisos dourados, o que começou a despertar a cobiça de assaltantes, que se “armavam” com “boticões” (alicates usados por dentistas), no intuito de assaltá-las, violentamente.
Uma ilustre dama da sociedade carioca, cuja boca era considerada uma verdadeira sucursal do maior banco do País, por um triz não perdeu a vida, ao ser atacada por marginais, que a raptaram e, na marra, “extraíram” seus dentes de ouro, de forma inadequada, provocando-lhe hemorragia, além de dores insuportáveis, que a fizeram perder os sentidos.
Os portadores de dentes de ouro, portanto, passavam a correr o risco de sofrer ataques de marginais, na ânsia de se apossarem da fortuna que eles traziam na boca.
Lana, 30 anos e dona de uma grande fortuna, nessa época, ao precisar de tratamento dentário, por vaidade, pediu ao dentista que lhe colocasse alguns dentes e obturações de ouro. Queria ter um sorriso dourado e uma “boca de ouro”. Quando falava, seus lábios pareciam uma porta se abrindo, para deixar à mostra um altar de ouro de uma luxuosa Igreja. A mulher dava suas gostosas risadas, para exibir seus dentes de ouro. Por isso, entrou na mira de marginais, que procuravam o momento adequado para atacá-la.
Certa noite, armados com “boticões”, marginais conseguiram arrombar uma porta da sua casa. Na mesma hora, ouviram entrar um carro na garagem. Era o dono da casa que chegava. Por ter encontrado o portão aberto, e temendo que houvesse ladrão dentro de casa, desceu do carro armado de revólver, atirando para cima e gritando pelos empregados, que prontamente apareceram, também armados. Viu dois bandidos fugindo. Ele e dois empregados, todos armados, percorreram os cômodos da casa e tiveram uma surpresa: Encontraram, debaixo de uma cama, um dos ladrões, escondido. Arrastado pelos empregados, o marginal foi imobilizado, tendo pés e mãos amarrados, enquanto a polícia era aguardada.
O marginal confessou que estava ali, somente, para levar a fortuna guardada na boca de ouro da dona da casa. Ao lado dele, estava a arma: um “boticão”, usado por dentistas.
Por um triz, Lana não foi vítima de uma grande violência, mesmo numa época em que a criminalidade era menor.
Felizmente, esse modismo passou e já não se usa dente de ouro.