Existem fotógrafos de moda, fotojornalistas, retratistas de estúdio, especialistas em paisagens, objetos, decoração... E existe Bob Wolfenson, um paulistano apaixonado pelo “imponderável instante em que o retrato acontece”, não importam a personalidade, o cenário ou o moodboard. Conhecido tanto pelas fotos de mulheres nuas das capas de revistas masculinas nos anos 1980 quanto pelos retratos de moda, Wolfenson circula com desenvoltura por várias outras frentes, como fica claro em “Desnorte”, livro independente que acaba de lançar em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Por chamada de vídeo, o fotografo de 66 anos falou à ELA sobre sua trajetória.
Qual o critério de seleção das 128 imagens que compõem “Desnorte”?
Embora o livro chame “Desnorte”, o norte foi se apresentando. Joguei mais de mil imagens da minha carreira na mão do Edu Hirama, editor de arte. Ele me apresentou uma primeira conexão entre elas, depois, fui burilando. Como não era uma retrospectiva, mas uma obra baseada em retrospecto, foi natural. Não queria uma revisão cronológica da minha carreira. Queria um trabalho novo, com fotos velhas.
A política ficou de fora. Não foi algo proposital, mas evita suscitar questões que o tempo todo aparecem no meu Instagram. (No dia da morte da dona Marisa, Wolfenson publicou a foto da família Lula da Silva no quintal de casa e foi alvo de ataques impublicáveis). Antes eu respondia cada um dos haters. Mandava pararem de me seguir, e me chamavam de arrogante. Depois, me convenceram a ignorá-los. Foi a melhor coisa que eu fiz. Quando você não responde aos imbecis que se escondem atrás do anonimato, eles deixam de te encher.
Mulheres nuas, fachadas de prédios, ensaios de moda. Você faz de tudo em um mercado de especialistas?
Durante um tempo, busquei essa especialização. Há uma cobrança para que os fotógrafos tenham um estilo definido, uma cara só. Mas eu transito por personalidades diferentes, o que me traz um olhar diverso. Tenho interesses distintos, antagônicos até. Por que não posso fazer mulheres nuas e fachadas de prédios? Eu gosto das duas coisas, e de tantas outras. Nunca fui um fotógrafo de moda, eu estive um fotógrafo de moda. Gosto de estar em todas as frentes. O retrato é um encontro que obedece a natureza dos encontros. Tem algumas coisas que são constantes. Outras acontecem no imponderável. É aí que eu entro.
Em 50 anos de carreira o que ainda não fez mas gostaria muito de fazer?
Não tenho grandes ambições. Os desejos aparecem em pequenas notinhas de jornal, em um livro que eu leio, na observação de uma estação climática. Outro dia, uma menina de uma cidadezinha do interior me escreveu no Instagram dizendo que era miss e queria ajuda para trabalhar. Pensei: “Taí, vou sair fotografando misses”. Não misses que são mulheres lindas, mas as que sonham em ser...
Nos tempos da “Playboy”, como sua mulher encarava o fato de você ser o fotógrafo das beldades nuas? O que ela falava sobre isso?
Não falava. Era um assunto tabu (risos). Marisa (Couto, figurinista, mãe de suas filhas Chica, Helena e Isabel) trabalhava com cinema e ficava fora um ou dois dias. Cada trabalho tem sua particularidade. Obviamente, no meu, havia uma sedução que não há em outras áreas. Mas havia uma assepsia também. Eu fornecia imagens poderosas no sentido da sensualidade, mas o trabalho em si era asséptico, cheio de gente no estúdio e de pressão para vender um milhão de exemplares. Sem clima.
A ereção que você provocava em casa, então, não acontecia no estúdio?
Poderia até acontecer, mas havia uma barreira nítida. De comportamento, de respeito. Eu jamais ultrapassei limites. Sei que era muito invejado nessa época. Mas nunca gostei disso, de ser o invejado. De fálico ali, só mesmo a teleobjetiva (risos).