BOB NELSON, O CAUBÓI BRASILEIRO
(Raimundo Floriano)
O criador do country sertanejo
Na manhã do sábado passado, 29 de agosto, estava eu, como faço habitualmente, ouvindo o programa Onde Canta o Sabiá, transmitido ao vivo pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, sob a batuta do veteraníssimo radialista Gerdal dos Santos e com assessoria da pesquisadora Patrícia Rodrigues que, vez em quando, recorre ao meu acervo musical para a obtenção de títulos não mais existentes no mercado fonográfico. No quadro Alguém Muito Especial, era homenageada a falecida cantora Emilinha Borba, imortal que deu vida à marchinha Chiquita Bacana.
No início do quadro, foi chamada para dar um depoimento a atriz-acordeonista-cantora Adelaide Chiozzo, criadora de sucessos como Beijinho Doce e Sabiá na Gaiola, estrela de 23 filmes da Atlântida, hoje com 78 anos.
Adelaide chegou com todo o gás, alegre, voz firme e contagiante. Começou o diálogo com o Gerdal, quando, ali mesmo no ar, deram-lhes a notícia do falecimento do cantor Bob Nelson na noite anterior. Adelaide não se conteve diante do choque. Caiu em convulsivo pranto e não mais teve condições de participar do quadro.
Eu, por meu lado, pegado pela surpresa, quase também cheguei às lágrimas. Bob Nelson foi um dos ídolos da minha infância. Não houve menino do meu tempo que não tentasse imitá-lo, cantando o seu famoso eu-tiro-o-leite! Até que a voz engrossasse, e isso se tornasse impossível! Naquele momento, orei por ele!
Nelson Roberto Pézez, o Bob Nelson, cantor e compositor, nasceu em Campinas, SP, a 12.10.1918. Era o 6º dos filhos de José Pérez, espanhol, ferroviário da Mogiana e dono do Hotel Dalva, e de Dona Floresmina, do lar.
Fez o grupo escolar que funcionava anexo à Escola Normal e formou-se contabilista na Escola de Comércio São Luiz. Trabalhou como caixeiro-viajante, percorrendo a Central Brasil como vendedor das meias Ethel, que quase ninguém comprava, devido ao alto preço, e iniciou sua carreira musical cantando na Rádio Educadora de Campinas. Em sua família, só ele teria pendores artísticos.
Em 1940, participou do conjunto vocal Grupo Cacique, inspirado nos já famosos Bando da Lua e Anjos do Inferno. Dele faziam parte Paulinho Nogueira, seu irmão e fundador, Armando do Couto, Aimoré Santos Matos e o Professor Enéas. Quando Carmen Miranda se apresentou em Campinas, em 1939, eles a acompanharam.
Em 1943, adotou o estilo que o caracterizaria, inspirado nos cantos tiroleses e nos filmes de Gene Autry, que incluía uma roupa completa de caubói, com a qual se apresentou cantando para o General Mac Arthur, Comandante-Geral das tropas aliadas no pacífico na Segunda Guerra Mundial. Seu nome artístico foi calcado no do ator do cinema americano Robert (Bob) Taylor, grande galã da época, sugerido por Dermival Costalima, então diretor da Rádio Tupi.
Com esse novo estilo de cantar e de trajar-se, foi o pioneiro da fusão entre a música caipira brasileira e o country norte-americano. Seus imitadores estão por aí, às centenas, aos milhares!
Ainda em 1943, interpretando sua versão de Ó Susana, de Stephen Foster, ganhou o primeiro prêmio no programa A Hora da Peneira, da Rádio Cultura de São Paulo.
Suas músicas fizeram muito sucesso, entre elas O Boi Barnabé, com Victor Simon, Eu Tiro o Leite, com Sebastião Lima, Santa Fé, composição de José Cunha e Nelson Teixeira, Vaqueiro Alegre, com Stephen Foster, Não Sou de Briga, de Santos Rodrigues e B. Toledo, Alô, Xerife, de Pedro Paraguassu e José Batista, Minha Linda Salomé, de Denis Brean e Victor Simon, e Vaqueiro Alegre, com Ben Kanter e Victor Simon.
Em 1946, época em que era um dos principais artistas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, participou do filme Segura Essa Mulher, e, no ano seguinte, de Este Mundo É Um Pandeiro, ambos de Watson Macedo.
Casou-se com Antonietta Leal Pérez, em 1950, com a qual teve dois filhos, Nelson Roberto e Eduardo José.
O Vaqueiro Alegre, seu slogan preferido, foi ídolo de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, o Tremendão, tendo este gravado uma música em sua homenagem em 1974, A Lenda de Bob Nelson.
Aposentou-se, em 1976, na Rádio Nacional, onde já deixara de cantar e atuava como Secretário do Departamento Jurídico e Diretor de Gravações. A partir de então, voltou a exercer sua primeira profissão: caixeiro-viajante, representante de produtos ópticos, percorrendo todo o Brasil para promover vendas, sempre disposto a se apresentar artisticamente, com a mesma disposição e a mesma capacidade de conquistar platéias.
Faleceu no Rio Janeiro, vítima de parada cardíaca, no dia 28.08.2009, perto de completar 91 anos de idade.
Os dados biográficos aqui constantes foram colhidos nas páginas da Editora Revivendo e da Enciclopédia da Música Brasileira, da Art Editora.
Aqui vai pequena amostra do trabalho de Bob Nelson e Seus Rancheiros.
O Boi Barnabé, marcha-country de Bob Nelson e Victor Simon. Detalhe: é o cantor Ciro Monteiro, em participação especial, quem dá os mugidos do boi:
Oh! Suzana, marcha-country de Stephen C. Foster e Bob Nelson:
Santa Fé, marcha-country de José Cunha e Nelson Teixeira:
Vaqueiro do Oeste, marcha-country de Stephen S. Foster e Bob Nelson:
Não Sou de Briga, marcha-country de Santos Rodrigues e B. Toledo:
Alô, Xerife, marcha-country de Pedro Paraguassu e José Batista:
Vaqueiro Alegre, valsa de Ben Kanter, Bob Nelson e Victor Simon:
E, para terminar, este youtube, com Bob Nelson interpretando a marchinha-country Caubói do Amor, de Wilson Batista e Roberto Martins:
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