Evandro de Castro Lima – “Príncipe de Riad”
Emplaquei 85 anos de vida. E agora? O que me resta é continuar vivendo com saúde e relembrar boas coisas.
Volto ao passado como se aquelas épocas fossem um aperitivo para a nova vivência. Principalmente as fases do jornalismo.
Em 1989, fui entrevistar o carnavalesco Evandro de Castro Lima, campeoníssimo apresentador de fantasias, que se preparava para desfilar no Sport Club do Recife.
Nos bastidores a primeira pergunta que lhe fiz foi banal, mas a resposta foi inteligente e deu boa manchete:
– O senhor deve gostar muito de carnaval. não é mesmo?
– Gosto. Mas não para ficar rebolando nas pistas. Apresento-me como o “Príncipe de Riad”, como agora, o “Sultão de Marraquexe”; até me transformo em “Nuvens de Prata” e vibro com esses momentos em que desfilo apenas nas passarelas.
– Qual a empresa que cria estas maravilhas?
– Tenho uma equipe de trabalho que transforma meus sonhos em fantasias de tecidos e lantejoulas. São pessoas competentes que fazem as pesquisas, os desenhos, e bordadeiras dedicadas que se empenham vários meses para que eu possa brilhar nas passarelas.
Estive por instantes com um homem de fino trato, culto e de prosa fácil. Era natural sua dificuldade para falar em função da fantasia que lhe envolvia a face. Mas se ofereceu em todos os ângulos que Diógenes Montenegro precisou fotografá-lo.
E na primeira página do Diário da Noite surgiu a reportagem:
Príncipe de Riad no Recife.
Certo exagero de um jovem repórter, naturalmente.
Outro momento que guardo boa lembrança foi quando viajei certa vez por via aérea, vindo do Rio, com o etnógrafo Mário Souto Maior, diretor da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais.
Era noite e o jeito foi puxar conversa para superar duas horas sem as belas paisagens nas janelinhas. omem de alta cultura, logo nos identificamos pelos mesmos gostos. A prosa correu frouxa.
Fizemos amizade tão próxima que lhe solicitei o prefácio para um dos meus livros. E ao receber o texto, dias depois, me encantei, pois começava assim:
Conheci o autor numa atmosfera de sonhos; ou seja, nas nuvens, pois viajávamos de avião retornando ao Recife.
Não poderia imaginar que aquele escritor fosse – como constatei depois – autor do famoso livro: Dicionário do Palavrão. Mas é importante salientar que sob sua especialidade publicou mais de 15 livros, alguns dos quais prefaciados por Gilberto Freyre.
Uma obra de paciência. Mário foi homem dedicado à pesquisa. Deixou um legado expressivo:
Antologia da Poesia, Comes e Bebes do Nordeste, Dicionário da Cachaça, Nordeste: A Inventiva Popular, Livro das Adivinhações, Nasce um Cabra da Peste, Alimentação e Folclore, Dicionário de Folcloristas Brasileiros, Painel Folclórico do Nordeste, A língua na Boca do Povo, Em torno de uma Possível Etnografia, O Homem e o Tempo, Nomes Próprios Pouco Comuns, Galaláus e Batorés, a Morte na Bota do Povo e por aí vai.