Minha falecida avó, aquela mesma de quem vocês já leram tantas referências de minha parte, demonstrando toda a sabedoria de quem tinha “rodado estrada” na vida, ainda que nunca tivesse sequer conhecido um Médico, tinha o hábito (e a sorte) de acertar nos resultados das “meizinhas” que indicava às pessoas.
– Pra gente chata, o mais mió é café amargo ou chá de aio!
Era assim que ela ensinava a lidar com pessoas inoportunas, que parecem não terem nada para fazer, e ficam nas casas dos outros atazanando, falando da vida alheia.
Outras “meizinhas” que ela sempre acertava: pra quem tá cum nervoso, nada mais mió que chá de camomila; agora, se vosmecê tá cum caganeira, intestino cum difluxo, nada mió que chá do broto da goiabeira, ou, inté mermo mastigar e ingulir uma goiabinha verde. Arrolha e disinflama!
Acostumada a manter e alimentar sua sustança com “tutano de boi batido nim riba do feijão, misturado com rapadura raspada e uma quantidade de farinha seca, prumode fazer “capitão”, minha avó também ensinava um santo remédio para quem sofria de asma.
Certa vez, numa tarde em que estava tirando uma madorna na latada da casa, escutou o latido de Cangaio, o cachorro vira-lata que fazia a segurança da casa. A chegada de alguém na porteira foi confirmada com o berro do bode Pai de todos e o seu avisante toque de chocalho.
– Quem taí? Entre, se achegue mais!
Não demorou muito para que sua vista já cansada permitisse reconhecer compadre Bibiu, trabaiador da roça que ficara meio abestaiado, adispois que perdeu a mulher Zefinha, vítima de uma doença grave nas partes íntimas.
– Eita cumpade Bibiu, é você hômi de Deus?! Sente aqui, puxe o tamborete e se assente.
Mesmo sem tirar as esporas dos pés, e ainda com certa dificuldade no falar, Bibiu cumprimentou minha avó, agradeceu a gentileza e foi logo dizendo a que veio:
– Minha cumade, é a tal da asma siora. Tá me incomodando que só o diacho! Tresnontonte num consegui drumir quessa danada num dexô!
Assim com o semblante da paciência que a vida lhe transmitiu durante tanto tempo, vovó puxou mais uma cachimbada e deu o veredito da cura:
– Cumpade de Deus, dizem que, quem tá com essa doença, só fica bom se cumê um gato!
Pois não é que, até mesmo sem dizer até logo e obrigado, Bibiu, mais que com depressa deu meia volta e pegou o caminho de casa. A asma começara a incomodar de novo – e o remédio para acabar com ela, ele já sabia.
Semanas depois, com nova crise de asma, Bibiu voltou “ao consultório” da vovó, agora para aprender como deveria fazer para sarar os arranhados que o gato lhe fizera.
Não é que o miserável tentou “comer” o gato vivo, e do jeito que aprendera na vida mundana das bolinagens?!