Betty Faria atende o telefone com bom humor: dias antes da ligação, leu a notícia de que haverá uma mostra de filmes em sua homenagem no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, em 2021, quando ela completará 80 anos. Com 54 de carreira, a atriz tem prestígio não só no cinema. Dois de seus marcantes trabalhos na TV estão em reprise atualmente no streaming do Globoplay, "A indomada" e "Tieta".
— Fiquei honradíssima de ganhar uma mostra de cinema. Imagina só! Fiquei felicíssima! Ah, e eu morro de vontade de voltar a trabalhar. Só que eu sou grupo de risco, né? Então tenho que esperar a vacina chegar. Gosto muito de fazer televisão e cinema. Tenho lido muitas mensagens na quarentena sobre os meus trabalhos, principalmente "Tieta". É um sucesso alucinante. Ela mexe com o coração de tanta gente porque é livre e prega a solidariedade e a amizade, sem preconceitos. A adaptação do Aguinaldo Silva foi magistral, maravilhosa. Eu fui muito feliz — vibra.
A atriz conta que, durante a quarentena, trocou de empresário e também de casa nova, na Zona Sul do Rio de Janeiro:
— Gosto de experimentar novas formas de viver. Precisei fazer melhoramentos no meu apartamento. Na quarentena, a gente vai vendo as coisas e vendo muito. Cada cômodo, cada parede, cada madeira que descola, cada janela que não está bacana... Falei: "Tem coisa no apartamento inteiro para fazer. Não vou querer ficar no meio de uma obra, não". Mas a mudança também tem a ver com a minha inquietude. Sou muito das experiências novas, da vida nova. Tenho isso. A verdade é essa: foi a minha inquietude, com minha insatisfação com a vida e a necessidade de mudar. Na quarentena é difícil ter essas coisas, né? Mas eu não me acomodo de jeito nenhum.
Para a coluna, a atriz abriu uma rara exceção posando com a neta Giulia Butler, de 18 anos, filha de Alexandra Marzo (que atou em novelas nas décadas de 80 e 90). A veterana explica por que não é de mostrar a família nem expor seus amores:
— Prefiro blindar a minha família, prefiro não dizer. Tem filho, filha, neto, neta, amor, crush... Prefiro sempre blindar as pessoas à minha volta. Tenho muito cuidado e blindo mesmo. Minha vida é dentro de casa, quem está comigo... Esse tipo de coisa eu não coloco para jogo porque não quero ninguém exposto. Tenho pavor que fofoquem da minha vida. Quando surgem boatos de gente dizendo que me namorou, eu penso: se eu entro, desminto e arraso com o cara, dou publicidade a ele. Então, é melhor ficar calada que passa. Teve muita gente que já disse que transou comigo e não foi verdade. Responder sobre esses assuntos acaba dando publidade a quem quer audiência com meu nome. Eu deixo passar. Bobagens de vaidade de homem eu deixo para lá. Uma vez entrei numa festa e fui ao escritório procurar uma amiga. Ao chegar, tinha um cara contando para quatro homens que tinha tido um caso comigo. E foi na minha cara. Eu ouvi e disse: "Não. Isso é uma mentira". Agora essas coisas eu deixo passar porque uma semana depois já vem outro assunto.
Já nas redes sociais, a atriz mostra outros recortes de sua vida: imagens do dia a dia, mensagens otimistas, memes de suas personagens e protestos políticos pautados pelo humor estão entre eles. Um dos últimos registros nesse estilo foi uma foto sorrindo com a legenda: "Pensando no dia que o governo vai libertar nosso sequestrado dinheiro do cinema brasileiro". Ela detalha como vêm as ideias:
— Eu pensei: "O que eu vou botar hoje no Instagram? Vou colocar isso!". Aí saiu! Saiu! O que mais me dói ao falar da cultura muita gente já falou. Agora, vamos ser objetivos: o que está acontecendo com o cinema? Não é só na pandemia. Na quarentena há, sim, cerca de 400 mil pessoas envolvidas com o audiovisual desempregadas. As pessoas estão vendendo quentinhas na rua. O governo deveria dar força à indústria cinematográfica, assim como foi feito nos Estados Unidos. Aqui, as produções estão paradas. Então, no Instagram, pesquiso perfis de cinema de fora do Brasil e demais assuntos que me interessam. E tem dias que posto; outros dias, não. Não sou assídua. Às vezes fico cansada.