Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão sábado, 22 de maio de 2021

BETE COELHO: ATRIZ ENCARA EM TEATROFILME NOVA VERSÃO DE MEDEIA

 

Bete Coelho encarna em teatrofilme nova versão de 'Medeia'

Em esplendoroso branco e preto, a peça sobre a mitológica personagem grega foi filmada durante a pandemia e está disponível online

Luiz Carlos Merten, Especial para o Estadão

21 de maio de 2021 | 05h00

Se não foi a primeira filicida da história - antes dela, conta a Bíblia, Abraão esteve a um passo de sacrificar o filho, Isaac, ao Senhor -, Medeia talvez tenha sido a mais célebre da mitologia. Filha do rei Eetes, da Cólquida, neta do deus Sol, ela traiu seu povo e matou o próprio irmão enlouquecida de desejo por Jasão. Para ele, roubou o Tosão de Ouro e tornou-se maldita. Quando o marido a repudiou para unir-se a Gláucia, filha de Creonte de Corinto - e tornar-se rei -, sua vingança foi cruel. Medeia matou os próprios filhos. 

Essa história é contada na tragédia de Eurípedes e no conto mítico de Jasão e os Argonautas. Virou filmes, no plural, de Pier Paolo Pasolini, com Maria Callas, e de Lars Von Trier, com Kirsten Olesen. Callas é uma soberba Medeia, uma máscara de dor e sofrimento, e só no desfecho, ela solta a voz. A voz da Callas. Pasolini já havia bebido em Sófocles para fazer seu Édipo Rei. Em Eurípedes, buscou a tragédia do feminino. Medeia lamenta que deseje tanto o homem que odeia. Diz que gostaria de trucidá-lo e, no entanto, deitaria agora com ele, se a desejasse: ‘Ai de mim’. Sendo uma tragédia que move mar e terra, e atinge a cosmogonia do Sol - o irmão, que retorna como fantasma, diz que quem planta a escuridão não pode colher a luz -, são famosas as lamentações da mulher traída. 

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A bordo do Argos, e com Jasão, ela singrou os mares e duas vezes seu ventre inchou. Mas tudo isso é passado. Jasão queixa-se de que Medeia nunca o amou, apenas o irmão que matou. E ela - “Quanto mar, quanto leite, quanto sangue derramado”. Você ainda pode ver Medeia como programa avulso na plataforma Belas Artes à La Carte. O programa estará disponível até julho. Durante a pandemia, e por conta do isolamento, o teatro virou híbrido - gravado, filmado. Houve coisas interessantes nesses processos. Existe agora a Medeia de e com Bete Coelho. Ela assina a direção com Gabriel Fernandes. Ele assina fotografia, câmera, montagem. A produção é da BR116, que exibe o trabalho em seu canal no YouTube, e da Teatrofilme. Poucas vezes o preto e branco foi tão esplendoroso. 


 

 

‘Medeia’. Bete Coelho protagoniza e assina a direção com Gabriel Fernandes, em versão de texto de Consuelo de Castro.  Foto: Cia BR 116

Talvez esteja no olhar de quem vê. Em 1930, ainda na era de ouro do cinema soviético, Alexandre Dovjenko fez de Terra, o mais belo (e telúrico) poema revolucionário do cinema. Os campos de girassóis filmados em PB formam o cenário glorioso do que já era uma tragédia. O jovem urina no trator para batizá-lo. Vem por aquela estrada, feliz e cantando. Irá se casar. Morre assassinado, um tiro. Em 1961 e, depois, em 76, o grego Michael Cacoyannis e seu grande fotógrafo inglês Walter Lassaly fizeram Electra, a Vingadora e Ifigênia. Entre os dois filmes, as duas tragédias, fizeram também As Troianas. O lamento de (H)Écuba, ‘Ai de mim.’ Electra e Ifigênia são as melhores. O preto e branco é suntuoso. Coloca na tela um mundo bárbaro e primitivo. Na concepção de Fernandes (e Bete), Medeia é uma tragédia do desejo. 

Medeia deseja Jasão, que deseja o trono de Creonte, que deseja Medeia. Um vidro separa os personagens em cena, mas é somente para que, muitas vezes, e pelo efeito do reflexo, os rostos e corpos se confundam, e se interpenetrem. Na terra, está enterrado o vestido de ouro que o Sol deu à neta, e que Medeia vai usar para se vingar de Clélia. Terra, fogo, mar. Medeia, a Feiticeira do Amor, título do filme de Pasolini no Brasil. O feitiço vira-se contra a feiticeira. A Medeia de Fernandes e Bete é a revista por Consuelo de Castro. Proibida pela censura do regime militar, sua primeira peça, Prova de Fogo, só foi montada nos anos 1990, com outro título, A Invasão dos Bárbaros. Bastou a segunda, À Flor da Pele, para torná-la famosa. À Flor da Pele virou filme, de Francisco Ramalho Jr. Ganhou Gramado. 

Consuelo escreveu outras peças retratando casais, e dando voz a mulheres libertárias, que se rebelam e recusam ser oprimidas. Seu texto Medeia - Memórias do Mar Aberto teve leitura dramática em 1997. O mar que entra em cena é lindamente estilizado. Poderia ser o mar de celofane dos filmes finais de Federico Fellini. É um mar de gravetos, e Jasão cospe na cara dela. Medeia está presa a esse barco podre, sonhando fugir (com ele). O universo mítico é fechado, não oferece saída. Todo mundo paga um alto preço. Jasão, para se sentar no trono. Medeia, para se vingar. Bete é poderosa soltando o verbo em closes que, ao mesmo tempo, a vulnerabilizam. Os homens, viris, destacam-se pela careca imposta aos atores. Poucas vezes o híbrido funcionou tão bem nessa pandemia. Teatrofilme ou cinema? As velhas teorias de teatro e cinema não estão mais dando conta das transformações ocasionadas pelo isolamento na era do coronavírus. Cinema, teatro. Nada está sendo como antes. Será preciso esperar pelo retorno à normalidade para ver.


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