Naíse Domingues*
Há mitos, mudanças e controvérsias sobre o que é, de fato, uma alimentação saudável. Há dez anos, por exemplo, uma pesquisa mudou toalmente a maneira como os nutricionistas encaravam o ovo na dieta humana. Até então, havia ressalvas em relação ao alimento, que deveria ser consumido com moderação. Mas um estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido, publicado em fevereiro de 2009 no "Boletim da Fundação Britânica de Nutrição", virou esse jogo. "De vião a herói da dieta", estampou O GLOBO no título da reportagem sobre a pesquisa.
- Muitas pessoas ainda têm dúvidas, perguntam se aumenta mesmo o colesterol e querem saber quantos ovos podem comer por dia. Mas, hoje, podemos dizer que o ovo está absolvido. Podemos ingerir diariamente, na quantidade indicada dentro da dieta pelo nutricionista - explica a nutricionista Aline Rodrigues, especializada em Nutrição Clínica e Controle de Qualidade de alimentos.
Comer um ovo por dia protege o coração, sugere estudo
O alimento, que já foi considerado inimigo número 1 dos níveis de colesterol no organismo, hoje é um queridinho para quem mantém uma alimentação saudável, devido a seu valor nutritivo, principalmente para pessoas que praticam musculação e outras atividades físicas. Além de ser fonte de vitaminas e minerais do complexo B e de ômega 3, a proteína encontrada na clara do ovo, chamada albumina, auxilia na construção de massa muscular. E, ao contrário do que se acredita, a gema não deve ser descartada, pois também tem valor nutricional para esse fim.
- Uma publicação recente no “American Journal of Clinical Nutrition” indica que a ingestão de ovos inteiros, imediatamente após exercícios de resistência, gera maior estímulo à síntese de proteínas do que somente a ingestão da clara. As gemas melhoram a capacidade do corpo de utilizar a proteína nos músculos, auxiliando no aumento de massa muscular e emagrecimento - diz Aline.
Quatro motivos para você comer ovo
O ovo fama de ser uma bomba de colesterol, proibido para quem tem problemas cardíacos ou quem precisava perder peso. A partir dos anos 1990, estudos começaram a mostrar que, na verdade, o ovo seria ótimo para uma alimentação saudável. A publicação do estudo no boletim britânico consolidou, de uma vez por todas, essa mudança na avaliação do ovo. Apesar de ser mesmo um alimento rico em colesterol, apenas uma pequena parte dessa substância é absorvida pelo corpo.
Mas por que certos alimentos têm fama tão controversa? Para Bia Rique, nutricionista e mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social (IMS) da UERJ, a falta de cuidado na disseminação de informações é um fator. Segundo a especialista, um dos exemplos é a ideia de que o ovo faz mal ao coração.
- Um ovo contém 213mg de colesterol e, por isso, era considerado um alimento quase "proibido" na dieta de pacientes com doenças cardiovasculares. Se o paradigma nutricional não fosse tão métrico e quantificado, o ovo não teria tido tantas variações na sua reputação, as quais até hoje deixam o público leigo confuso - observa a nutricionista: - A obsessão por precisão nutricional torna o alimento apenas um conjunto de nutrientes. Isto leva ao surgimento de "certezas" ou expressões que caem no senso comum, como "ovos são ricos em colesterol".
A divulgação de forma equivocada de pesquisas sobre alimentos constrói imagens de vilões e mocinhos da alimentação a todo tempo. O ovo se tornou incompreendido por grande parte da população, com a disseminação de informações conflitantes sobre seus efeitos. Segundo Bia Rique, a presunção de que há alimentos milagrosos ou proibidos, muitas vezes presentes em reportagens sobre o assunto, é um problema a ser combatido.
- Laticínios e ovos já foram demonizados várias vezes ao longo da história. Outro exemplo seria a polêmica entre a manteiga e a margarina. O pavor de gorduras e comidas que possam "intoxicar" o organismo é apenas um exemplo da demonização temporária de algumas substâncias ou alimentos.
Não se pode diminuir a credibilidade das pesquisas, mas nutricionistas defendem que a divulgação desses estudos pela imprensa deve ser feita de forma responsável, sem sensacionalismo, observando seu valor acadêmico e informativo. Afinal, são essas pesquisas que promovem a coleta de dados para nortear diretrizes de para uma alimentação saudável. Segundo Ricardo Santin, diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e presidente do Conselho Diretivo do Instituto Ovos Brasil (IOB), a propagação de informações precisa de embasamento teórico.
- Os trabalhos científicos têm papel preponderante. De nada seria viável fazer marketing se você não tivesse base científica de alguém que estudou muito e apresentou justificativas embasadas, sólidas.
*Sob supervisão de William Helal Filho