Médicos afirmam que o chá causa uma falsa impressão de emagrecimento. Isso porque dentre os cinco compostos, três deles são laxantes, um antioxidante e um diurético. Ou seja, ao tomar o mix de ervas, a pessoa evacua e é estimulada a urinar muitas vezes, o que causa a perda de água e sais do organismo e promove a sensação de estar menos inchado. Mas não há a perda de gordura.
Os laxantes cascara-sagrada e sene são ervas usadas contra a constipação intestinal, ou prisão de ventre. Mas se forem consumidos com frequência e por longos períodos podem causar um desequilíbrio de eletrólitos, ou seja, a perda de potássio, zinco e magnésio, que leva a cãibras e aumento da pressão arterial. Além delas a alcachofra também pode ser considerada um laxante natural e antiflatulento, visto que é um importante auxiliador no processo digestivo, colabora na diminuição do colesterol e diminui a gordura no sangue.
— O segredo é o marketing. Esse chá nada mais é do que a junção de ervas laxantes, diuréticas e digestivas. Ele pode melhorar o trânsito intestinal e a constipação, mas não funciona como emagrecimento. Não existe um alimento, erva, fotoquímico ou bebida, seja chá, suco ou shake, com essa capacidade. Existe o déficit calórico, ou seja, consumir menos calorias do que gasta. Existe uma alimentação saudável e balanceada aliada a atividade física. Não podemos esperar que esse chá faça milagre — explica a nutricionista e colunista do GLOBO, Priscilla Primi.
A especialista afirma que apesar do chá unir compostos conhecidos para médicos e nutricionistas é necessário ter certos cuidados, principalmente na quantidade de uso, no tempo e quem vai utilizar a bebida. Gestantes e mulheres que estão amamentando não devem consumir, bem como pessoas que utilizam medicação anticoagulante ou que tenham pressão alta.
— Estudos mostram que as pessoas costumam apresentar reações adversas depois de seis meses de uso diário — diz Primi.
Riscos
Apesar de ser vendido na internet como um chá natural composto por “cinco ervas típicas da região Norte do país”, a médica nutróloga Isolda Prado, membro da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e professora de Nutrologia da Universidade do Estado do Amazonas, afirma que “a origem de todas essas ervas não provém da região amazônica, sendo oriundas da região do mediterrâneo, Ásia e América do Norte”. Ela aponta que, por conta da perda de líquidos no processo, há riscos severos para a saúde do paciente o uso excessivo e sem acompanhamento médico.
A centelha asiática, mesmo tendo pouco efeito ativo, é considerada um termogênico, que aumentam o gasto energético do corpo do paciente. Seu uso prolongado pode causar arritmia cardíaca.
Obesidade
O coquetel ainda é descrito na internet como um tratamento para a obesidade. Fato rechaçado pela presidente do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Maria Edna de Melo. Segundo ela, nenhum dos cinco componentes tem eficácia no tratamento da obesidade, evidência científica ou de segurança contra a doença.
— Pessoas obesas ou acima do peso comem por diversos motivos, os remédios para o controle da obesidade agem no sistema nervoso central do paciente regulando o apetite. Nenhuma dessas ervas exercem função ali. É preciso tomar muito cuidado ao fazer uso dessas bebidas milagrosas sem acompanhamento médico. A sociedade em geral e profissionais da saúde entendem que o tratamento do excesso de peso está na força de vontade, que é só fechar a boca que resolve, mas tem características biológicas e outros fatores que fogem da vontade própria — explica Melo.
Um levantamento conduzido em 2022 pela SBEM com 3.621 pessoas, sendo 89% delas mulheres, revelou que 93,6% dos entrevistados já tinham tentado perder peso. Destas, 31% admitiram ter tentado por conta própria, 55,7% recorreram a serviços privados e apenas 12,9% usaram o SUS. Entre as técnicas utilizadas para emagrecer, a mais comum foi dieta mais exercícios (65%), seguida de apenas dieta (15%). Outros 10% usaram medicamentos e, ao todo, cerca de 9% recorreram a chás, shakes, fitoterápicos e internet.
Morte
A endocrinologista cita o chá “50 Ervas Emagrecedor”, que no começo do ano foi a principal causa da morte de uma enfermeira em São Paulo. A profissional de saúde, que fazia uso desse suplemento com promessas de emagrecimento, foi diagnosticada com hepatite fulminante, passando a precisar de um transplante de fígado com urgência. O corpo da enfermeira rejeitou o órgão transplantado e ela teve morte cerebral.
Na época, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma nota alertando sobre o produto e informando que eles estão proibidos no Brasil desde 2020 porque não têm regularização como medicamento.
"Não pode ser classificado como alimento, ou mesmo como suplemento alimentar, pois contém ingredientes que não são autorizados para o uso em alimentos", disse a agência.
No rótulo do produto havia compostos de ervas que são tóxicas para o fígado, entre elas a sene e a centelha asiática, ambas encontradas no coquetel amazônico.