Disputar um título de beleza pode parecer um sonho distante para muitas mulheres que não se enxergam dentro de um padrão estético socialmente desejado. Uma realidade que vem mudando com o aumento de segmentos que valorizam diferentes tipos de corpos, e foi justamente esse potencial que atraiu a modelo brasiliense Talita Beda Hostensky, de 33 anos. Moradora do Guará II, ela está de malas prontas para representar o Distrito Federal no concurso Miss Continente Brasil Plus Size, que ocorre na próxima semana, em Salvador — de 4 a 6 de novembro.
A competição é o ponto alto de uma carreira que começou há quatro anos, quando ela descobriu que finalmente poderia trabalhar como modelo mesmo não sendo uma mulher magra. Ela desfilará com outras 15 representantes de outros estados. “Sempre quis ser modelo, mas, para mim, era algo totalmente inviável porque eu nunca tive um corpo padrão. Sempre tive aquela coisa de viver de dieta para tentar ser magra, mas não conseguia chegar nesse corpo. Eu cheguei a ficar doente, anêmica, durante esse processo”, lembra.
Aceitação
Encarar a pressão estética para quem deseja brilhar no mundo da moda é uma constante e, com ela, não foi diferente. Após várias frustrações, e um processo de reflexão, Talita começou a acompanhar as carreiras de modelos plus size e percebeu que ela se encaixaria ali. “O começo foi bem difícil, eu acabei tomando um golpe de um book. E isso quebrou minhas pernas, porque eu não tinha dinheiro, na época, e foi meu marido que pagou pelas fotos. Depois desse episódio, pensei em desistir de tudo”, conta. No entanto, o apoio do companheiro, que a incentivou a insistir, e o de uma amiga, que a convidou para o primeiro desfile, a carreira da brasiliense começou a prosperar.
Desde 2019, ela atua como modelo profissional e concilia a atividade com o cargo de gerente comercial que exerce na empresa da família. A trajetória de superação de Talita é acompanhada com vibração pelo seu fã clube particular, composto pelo marido e pela filha Esther Beda, 8, que não escondem o orgulho.
Para Talita, eventos destinados ao mercado o plus size são essenciais. “É preciso normalizar os corpos gordos. O normal não é o 36. Cerca de 60% da população está acima do peso, e como essas pessoas vão comprar uma roupa se elas não se veem representadas nas modelos?”, ressalta. “Ser gorda não é sinônimo de doença e nem a magreza é sinônimo para saúde. Quando eu estava mais magra foi o período em que eu estava mais doente”, finaliza a brasiliense.
Três perguntas / Geisa Izetti Luna
professora do curso de Psicologia do IESB
Como o padrão de beleza tem influenciado na auto estima das mulheres?
O padrão de beleza já passou por mudanças bem acentuadas, por exemplo, em relação ao formato do corpo. Para as mulheres, atualmente, verificamos uma transição da “magreza de passarela” para um perfil “magro e musculoso”. Esse perfil passou a ser ultravalorizado, não apenas como expressão de beleza, mas também como potencial para despertar sentimentos e emoções de poder/controle, sucesso, conquista, vitória... Por isso, dizemos que tem relação, não apenas com ela, mas também com a autoimagem — ambos associados a aspectos sociais de pertencimento e de valorização. Nesse ponto de vista, reforçamos a possibilidade de empoderamento independente do formato do corpo que o indivíduo tenha.
O que fazer para sair do pensamento que ter um corpo magro é sinônimo de beleza e de saúde?
É preciso entender que conceitos de saúde e beleza são subjetivos e que não podem, portanto, ter como significado a expressão de um único formato de corpo ou qualquer outra coisa na sociedade. Trabalhar esse entendimento individualmente e acrescentar que a diversidade é esperada e biologicamente ressaltada pode ajudar nesse reconhecimento.
O universo de modelos plus size enfrenta maior pressão, com muitas mulheres que não se acham bonitas. Como lidar com isso?
Mudanças no corpo não devem ser impostas pela sociedade, ao contrário, a mulher deve buscar a valorização de si mesma e desenvolver autoestima. Esse é o ponto mais importante.
"Cerca de 60% da população está acima do peso, e como essas pessoas vão comprar uma roupa se elas não se veem representadas nas modelos?”
Talita, modelo