RIO — Ninguém pode dizer que falta bom humor na receita de vida de Bela Gil. Em seu quinto livro, “Da raiz à flor — Um novo olhar sobre os ingredientes do dia a dia”, ela faz graça ao escrever, logo na apresentação: “... muitos de nós conhecemos e consumimos melancia (alguns fazem até churrasco...), mas poucos enxergam a casca da melancia como um ingrediente culinário...”. Bela brinca, mas leva muito a sério a missão de ensinar que se alimentar de forma saudável não é algo chato e que, das frutas, legumes e verduras, tudo se aproveita. Até mesmo a casca da banana ou o caroço da jaca podem ir para a panela. A autora afirma que há uma receita que simboliza bem o seu novo livro: almôndegas de casca de banana. Ela brinca que o prato é o novo churrasco de melancia.
RECEITA: Aprenda a fazer macarrão com almôndegas de casca de banana
A jaca é um dos alimentos que se destacam nas páginas da publicação, que será lançada na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, dia 18, às 19h, pela editora Globo Estilo. Tem petiscos, acompanhamentos, saladas e pratos principais feitos com a fruta. Exemplos? Coxinha de batata-baroa com carne de jaca, empadinha de jaca, jaca verde frita, curry de caroço de jaca, moqueca de caroço de jaca...
Nas 57 receitas do livro, Bela também mostra que talos de couve, agrião, coentro e salsinha têm sabor e textura dignos das partes mais convencionais desses alimentos. Ela também ensina a usar folhas de rabanete, couve-flor, brócolis, beterraba e cenoura, que, dificilmente, são vendidas nos mercados. A apresentadora mostra que são nutritivas e também gostosas.
A publicação é dividida em quatro capítulos (Petiscos, acompanhamentos e saladas; Pratos principais; Sobremesas; e Bebidas). Bela gosta de dizer que este é um livro com “novos ingredientes que todo mundo já conhece”. E explica que a intenção é mostrar alternativas novas, partindo de alimentos comuns.
— Todo mundo conhece a melancia, mas talvez não saiba o que pode ser feito com a casca dela. Todo mundo conhece o mamão, mas também não sabe como usar a semente. Com a utilização desses ingredientes, a ideia é diminuir o desperdício de comida, além de melhorar a economia doméstica. É importante fazer com que as pessoas gastem menos para comer melhor — comenta Bela.
A apresentadora do canal a cabo GNT tem consciência de que produtos mais saudáveis pesam no orçamento. Ela acredita, porém, que criatividade, conhecimento e informação na cozinha estão entre as soluções para baratear o custo de uma alimentação mais orgânica.
— Se você gasta R$ 10 em um melão e joga toda a casca fora, você está quase jogando a metade da fruta no lixo. Usar a casca é uma forma de fazer o dinheiro render mais. É o que hoje está na nossa mão, mas acredito que também precisamos de políticas públicas. O governo tem que dar mais incentivo para a agricultura orgânica — afirma.
Bela diz que gosta de escolher os próprios alimentos e que frequenta as feiras de produtos orgânicos da Zona Sul. Uma delas é a da Praça Nossa Senhora da Paz, na esquina das ruas Joana Angélica e Visconde de Pirajá, em Ipanema, às terças-feiras.
—Adoro porque conheço os produtores e sempre trocamos ideias. A feira orgânica permite que você conheça quem está produzindo o seu alimento. É diferente de uma feira convencional, onde as pessoas compram de um centro de abastecimento sem saber como e por quem foi plantado — diz a autora.
Para quem quiser encontrar uma feira orgânica no bairro ou região onde mora, a dica, segundo ela, é entrar no site do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) (www.feirasorganicas.org.br), no qual consta um mapa com todas elas.
Segundo Bela Gil, a maioria das receitas que aparecem no livro é de pratos que ela já vinha preparando em casa. Uma das que passaram por teste foi a que transforma a semente de mamão, já desidratada, em uma espécie de pimenta-do-reino.
—Tinha um ateliê onde testava as receitas. Sempre chamava amigos para comer ou eles mesmos me ligavam e perguntavam se eu estava testando alguma coisa. As pessoas provam, dão palpites e criticam de uma maneira legal as receitas — comenta.
De acordo com a apresentadora, ingredientes novos não aparecem nas receitas.
— Todos já foram citados por mim ou apareceram nos programas que gravei ou nos outros livros que publiquei. As novidades estão na maneira como eu os utilizo. Faço, por exemplo, creme de painço com chocolate — diz Bela Gil.
Terminar o mestrado em slow food na Universidade de Ciências Gastronômicas, na Itália, está entre os planos de Bela para 2019. Fundada em 2004 e promovida pela associação Slow Food Internacional em colaboração com as regiões de Piemonte e Emilia Romagna, a instituição é um centro internacional de formação e pesquisa.
Depois de mais estudo e experiências, quem sabe não vem outro livro por aí?