BÁLSAMO
Casimiro de Abreu
Eu vi-a lacrimosa sobre as pedras
Rojar-se essa mulher que a dor ferira!
A morte lhe roubara dum só golpe
Marido e filho, encaneceu-lhe a fronte,
E deixou-a sozinha e desgrenhada
– Estátua da aflição aos pés dum túmulo! –
O esquálido coveiro p’ra dois corpos
Ergueu a mesma enxada, e nessa noite
A mesma cova os teve!
E a mãe chorava,
E mais alto que o choro erguia as vozes!
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No entanto o sacerdote – fronte branca
Pelo gelo dos anos – a seu lado
Tentava consolá-la
A mãe aflita
Sublime desse belo desespero
As vozes não lhe ouvia; a dor suprema
Toldava-lhe a razão no duro trance.
“Oh! padre! – disse a pobre s’estorcendo
Co’a voz cortada dos soluços d’alma –
“Onde o bálsamo, as falas d’esperança,
“O alívio à minha dor?!”
Grave e solene,
O padre não falou – mostrou-lhe o céu!