Algumas pessoas supersticiosas acendiam velas para espantar o Demônio, quando sentiam flatos espalhados pelo ar.
Foi aí que começou o famoso costume de se riscar um fósforo, para acabar com o mau cheiro da flatulência..
Martinho Lutero, inclusive, recomendava aos fiéis soltar puns para afastar o diabo.
O enxofre é um elemento químico com odor igual a ovos podres. Por isso, ninguém consegue suportar a catinga de flato sem demonstrar indignação.
O odor dos flatos provém de pequenas quantidades de sulfeto de hidrogênio (gás sulfídrico) e enxofre e os mercaptanos livres na mistura.
Quanto mais rica em enxofre for a dieta, mais desses gases vão ser produzidos pelas bactérias no intestino, fazendo portanto com que estes gases cheirem ainda pior.
Alimentos como cebola, repolho, batata doce, milho, pimenta, couve-flor, leite e ovos são notórios por produzirem esses gases.
Flatulência é muitas vezes referida, vulgarmente, como pum (onomatopeia), peido (do latim peditu), bufa, gases, bomba, traque (onomatopeia), entre outros nomes.
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Pois bem. Décadas atrás, entrando pelo século passado, numa certa noite, em plena campanha política para prefeito de Nova-Cruz (RN) e governador do Estado, durante a realização de um acirrado comício da UDN, com a presença do candidato a governador Djalma Marinho, houve um acontecimento hilário: “Balançaram o pé de fava” e o povo se dispersou.
Alguém que parecia ter comido guisado de urubu cozinhado no fogo do inferno, se infiltrou na multidão e “empestou” o comício com uma catinga de carniça e enxofre, que denunciava a chegada do Demônio ou da Besta Fera. No mesmo instante, Dona Neném Calango, mulher cinquentona, viciada em comício e desbocada, gritou:
– EU NÃO FUI!!!
E uma voz de homem respondeu:
– AH, CONDENADA INFELIZ!!! QUEM PRIMEIRO SENTIU DO SEU LHE SAÍU!!!!
Muitos insultos foram dirigidos a Dona Neném, que perdeu a “classe” que nunca teve e respondeu com palavrões, pagando na mesma moeda.
Muita gente cuspiu e escarrou, e algumas pessoas chegaram a vomitar, com a sensação de que tinham engolido o “traque”.
Foi o caso de Lúcia, nossa vizinha, que estava com a tia no comício. A jovem chegou em casa doente, com a sufocante catinga do traque entranhada no nariz. Vomitou a noite toda. Estava gritando “Já ganhou”, de boca aberta, quando a catinga de carniça se espalhou no ar. Em pânico, botou na cabeça que tinha engolido o traque. Adoeceu na hora. Teve uma intoxicação, que levou uma semana para ir embora.
Dona Neném Calango já era conhecida, por expelir gases podres, onde quer que se encontrasse. Certa vez, acabou com o velório de um político, ficando, por alguns minutos, na sala da casa, apenas ela e o distinto “de cujus”.
Por isso, sua presença era evitada pelos conhecidos, em qualquer aglomeração. Era uma presença indesejável.
A história do comício se espalhou e Dona Neném Calango ganhou a fama de ter sido responsável pela intoxicação de Lúcia. Sua ideia infeliz de gritar “eu não fui !” quando a catinga se espalhou, contribuiu para que isso fosse uma declaração de culpa, ou melhor, uma confissão.
Valeu o ditado popular:
“Quem primeiro sentiu, do seu lhe saiu”!!!
Pela primeira vez, em Nova-Cruz (RN), alguém adoeceu por ter engolido um “traque ”.
Este caso é Verdade e dou Fé.