Avó dando cafunés no neto
Tardezinha, com o sol já frio, ela sentava no chão da latada, enquanto puxava o fumo no cachimbo de barro.
Me chamava para deitar a cabeça na perna dela. Eu, apenas aproveitava aquela vontade enorme de fazer aquilo, e fingindo ser aquela cena um castigo. Mentira minha, pois eu adorava fazer aquilo.
O cafuné. Mais cafunés. Muitos cafunés. Daqueles que a gente escutava o estalar do dedo.
Ela, fumando o cachimbo e me dando cafunés, olhava firme para a porteira da casa que ficava distante dali por uns 40 ou 50 metros.
Ninguém chegava, mas ela continuava olhando.
E tome cafunés!
Neto xingando a Avó ao ver a injeção
A febre estava alta. Garganta inflamada.
A gripe tendia ficar mais forte. Chá disso e daquilo. Chá de mastruço, colheradas de mel de abelha. Compressas de panos na testa e no peito. Unguento de Vick Vaporub para garantir uma boa respiração e o sono. Nada resolvia. Só restava uma providência.
Manhã cedo, o cachorro latia na porteira. Chegara alguém. Era a Comadre Das Dores, aquela miserável do cão dos infernos!
Um prato fundo. Uma vasilha com álcool, e o aparelho para aplicar injeção começava a ferver.
Uma ampola tivera parte quebrada e fora misturada com outra. Algodão embebido no álcool, e a rotina:
– “Vem meu fio, vem logo prumode ficar bonzim dessa gripe”!
O choro e o berreiro antes da agulha furar, com certeza acordava e assustava as pessoas que moravam por perto.
Era a “milagrosa” Benzetacil!
– O praguejar do neto era garantido: “Sai daqui mizéra. Tu num gosta de mim.”!
No dia seguinte, era difícil entender que, com a febre tendo ido embora e a gripe acabando, aquilo nada mais significava que uma dura e constrangedora prova de amor.
As avós amam em dobro e também sofrem por nós. Até nas injeções.
Só hoje eu entendo que a segunda cena nada tinha de diferente da primeira. Apenas o palco da vida era diferente. Mas tudo era amor.