AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT,
UM AUTÊNTICO BRASILEIRO
Chico de Assis
01
Quero que Deus me ajude
Com a inspiração nata
Do poeta popular
Que canta o rio e a mata
Para contar a história
De um grande diplomata.
02
Falo de Augusto Schmidt
Que foi um grande escritor,
Foi jornalista e poeta,
Um grande empreendedor
E no mundo da política,
Exímio articulador.
03
Nasceu no Rio de Janeiro,
Mil novecentos e seis,
Nasceu em berço de ouro,
Filho de um casal burguês,
Mas sempre sonhou pôr fim
À pobreza, de uma vez.
04
Gozou na primeira infância
Paz, amor, felicidade,
Curtindo os prazeres da
Maravilhosa cidade
Não cedendo nem ao peso
Do peso da obesidade.
05
Não foi muito de estudar
Mas foi muito de aprender
Até mesmo reprovado
Schmidt chegou a ser
Não gostou de ler cartilhas
Mas ao mundo soube ler!
06
Mas logo com oito anos
O contratempo chegou
Pra Lausanne, na Suíça,
A família se mudou
E logo veio a doença
Que aos seus pais atacou.
07
Internos em sanatórios
Seus pais cumpriram um destino
Duro, sofrido, cruel
Marcado por desatino
E não puderam amparar
Os destinos do menino.
08
Quando completou dez anos
Viu o seu pai falecer;
Ficou sem rumo e sem prumo
Veio embora sem saber
O que faria da vida
Sem ter seu pai pra dizer.
3
09
Pra o Rio voltou tangido
Pela guerra mundial;
Voltou banhado de lágrimas
Pra sua pátria natal,
Sem pai, sem paz, mãe doente,
Num desamparo total.
10
No Rio peregrinou
Sem se enturmar, sem ter vez,
No Colégio São José,
Também no Liceu Francês
E no Colégio São Bento,
Saindo de todos três.
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Sua mãe tuberculosa
Se foi dois anos depois
Morar no céu com o marido
E ele, longe dos dois,
Teve que pintar sozinho
O quadro que se compôs!
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E eis que a mente se eleva
Por sobre o peito que chora
Não pode pagar colégios
Caros no Rio em que mora
Vai prosseguir seus estudos
Distante, em Juiz de Fora.
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Sem ter por quem esperar
Ergue o peito, segue avante,
Arranja logo um emprego
De caixeiro-viajante;
Depois, de comerciário,
Passa a ser comerciante.
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E em meio a talões de notas
Pedidos e encomendas
Schmidt foi cultivando
Do saber todas as prendas,
Logo surgiram poemas
Em meio às notas de vendas!
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Trabalhava numa casa
Onde vendia tecidos
E artigos de armarinho.
Entre os estoques sortidos
De botões, pentes e panos,
Tinha livros escondidos!
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Em meio às vendas frenéticas
Parava sempre pra ler
Na Rua do Ouvidor
Livraria Garnier
E brechava atrás da loja
A Livraria Briguier".
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O seu patrão português
Baixava dele o conceito
Dizia: com tantos livros
Para ler, esse sujeito
Jamais dará pra o comércio,
"Esse gajo não tem jeito..."
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Mas Schmidt deu o fora
Fugiu do patrão beócio,
Sua energia em excesso
Não lhe permitia o ócio
E ele partiu buscando
Montar seu próprio negócio.
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Logo montou um engenho
Pra fabricar aguardente
Com isso foi conseguindo
Dinheiro rapidamente
Até que se transformou
Num empresário influente.
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Instalou uma editora
Mostrando capacidade
E assim ficou junto da
Intelectualidade;
Tornou-se o ponto de encontro
Da cultura da cidade!
21
Empreendedor pé-quente
Sabia calcular risco
Competente, juntou grana
Ligeiro igual um corisco
Montou um supermercado,
Embrião da rede Disco.
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Entrosou-se rapidinho
Com a turma modernista
Oswald e Mário de Andrade
E muito nacionalista
E até com Plínio Salgado,
Mas não foi integralista!
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Entrou mesmo de cabeça
Na cultura e no seu clima
Lendo, escrevendo em jornais
Cultivando prosa e rima
Com Jackson de Figueiredo
E Alceu Amoroso Lima.
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Chegou mesmo a editar
Nomes que viraram heróis
Um Graciliano Ramos,
Uma Raquel de Queiroz
E até um Jorge Amado
Que não tinha vez nem voz.
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Editou Gilberto Freyre
Um crítico da realeza
Da Casa Grande & Senzala,
Lúcio Cardoso, a surpresa;
E um Otávio de Faria
Com a "Tragédia Burguesa".
26
Com Carlos Drumonnd de Andrade
Começou a se entrosar
Foi amigo de Bandeira,
Nosso poeta exemplar
Schmidt ia visitá-lo
Na Avenida Beira-Mar!
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Envolveu-se na política
Sem nunca ser candidato
Com direita e com esquerda
Sempre conseguiu bom trato
E achava que pra servir
Não precisava mandato.
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Foi dele a última conversa
Com Getúlio no Catete;
Enquanto a oposição
Baixava nele o cacete,
Getúlio traçava o plano
De fugir do tirinete!
29
Getúlio calmo demais
Em meio ao mar do despeito,
A lama golpista entrando
No Palácio sem respeito
E o velho pronto pra o gesto
De explodir o próprio peito!
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Conversavam sobre a fome
Que empanava nossa glória...
No outro dia, Getúlio
Deu a resposta à escória
Pulando fora da vida
E entrando firme na História.
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Schmidt então se aliou
Ao mineiro Juscelino,
Jogou suas esperanças
No médico diamantino
No desejo que o Brasil
Achasse um novo destino.
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Apoiou sua campanha
Defendeu-lhe com afinco,
Das portas de uma vitória
Deu-lhe a chave, abriu o trinco,
Criando até o slogan
"50 anos em 5"
33
Pra Juscelino, Schmidt,
Resolveu muitos problemas
Articulava os apoios
Enquanto armava os poemas
Todo dia os dois trocavam
Dois ou três telefonemas!
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Teve que aplacar a sanha
De alguns eternos golpistas
Por JK receber
Apoio dos comunistas
Num tempo de guerra fria
E militares fascistas.
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Elaborava os discursos
Que JK proferia.
A fama de orador bom
Pra o presidente crescia
Mas seus discursos poéticos
Schmidt era quem fazia.
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Algumas frases de efeito
Que JK citou cedo,
Eram lavra do poeta
Que escondia o segredo,
Como aquela: "Deus poupou-me
Do sentimento do medo"
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E na área diplomática
O poeta destacou-se
Representava o Brasil
Com brilho, fosse onde fosse,
Á causa de um Brasil Grande
Ele sempre dedicou-se.
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Idealizou a OPA
Tentando unir as Américas,
Aplainando as divisões
Geopolíticas hemisféricas
E pondo um freio no fogo
Das ameaças histéricas.
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Dos direitistas raivosos
Ele explorava com afã
O medo de uma revolta
Ocidental e cristã
Que tirasse o continente
Das garras do Tio Sam!
40
Depois que a Segunda guerra
Levou Marx à Polônia,
Tchecos, búlgaros e alemães
Ele explorava a insônia
Dos yanques que o temiam
Do México pra Patagônia.
41
Depois que a China com Mao
Derrubou seus mandarins,
Implantando o comunismo,
Derrubando espadachins
Havia o pânico que ele
Chegasse aos nossos confins.
42
Logo naquele momento
Que Coréia e Vietnan
Se inspirando em China e Rússia
Pisavam os pés do titã
Fazendo bolhas de sangue
Nos calos do Tio Sam.
43
Quando Cuba já mostrava
Que ia brigar também
Pra derrubar um sargento
Que dizia só "Amém".
Não ia mais ser bordel
Nem quintal de "Sêo Ninguém"
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Schmidt por cá mostrava
Que evitar revolução
Se evita com mais progresso,
Terra, emprego, paz e pão,
Justiça e democracia
Saúde e educação.
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Na verdade ele tentou
Criar um Plano Marshal
Conseguiu a Aliança
Para o Progresso, afinal,
Dos países atrasados
Da América do Sul e Central.
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Uma ação que veio antes,
Fruto do seu argumento:
Banco Interamericano
Para o Desenvolvimento;
O BID que continua
Nos trazendo investimento!
47
O grupo dos 21
Articulou e fez planos.
Este grupo reunia
Governantes veteranos
De todos os 21
Estados americanos.
48
Até mesmo a OEA
Foi fruto desse trabalho
Pra que todo o continente
Vestisse um mesmo agasalho
E um Estado não fosse
No outro meter o malho.
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Porém na diplomacia
Não ficou só na estréia
Foi nosso representante
Com firmeza e boa idéia
Na grande Comunidade
Econômica Européia.
50
Se entrosou pela direita
Com Castelo, militar,
Junto a Raquel de Queiroz
Ajudou a derrubar
O governo e escreveu
Contra Brizola e Goulart.
51
Fundador do Instituto
De Pesquisas Sociais
E Econômicas também
Defendendo a todo gás
O sistema baseado
Nas idéias liberais.
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Amou com força a política
Nos bastidores foi forte,
À labuta literária
Entregou-se até à morte
Mas ele também gostava
De incentivar o esporte.
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Presidiu o Botafogo
De Futebol e Regatas,
Levando a ganhar
Troféus de ouros e pratas
Foi cartola e não meteu-se
Em trambiques e mamatas.
54
Havia dois botafogos
Cada qual pela metade
Juntou os dois em um só,
Cresceu-lhe a capacidade
E botou na presidência
Eduardo Góis Trindade!
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É este o homem que trago
À memória brasileira;
Um homem que batalhou
Pelo bem a vida inteira
Tanto dentro do País
Quanto na terra estrangeira.
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Em meio às atribuladas
Vidas de comerciante,
De político e diplomata,
De editor e viajante
Nunca deixou de botar
A poesia pra diante.
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No ano de 28
Lançou seu livro primeiro
Que trazia o grande título
O "Canto do brasileiro,
O Augusto Frederico
Schmidt", tão verdadeiro.
58
Depois "Canto do Liberto"
Tendo seu nome seguido;
Já no ano 29
Lançou "Navio Perdido"
E em 30, o "Pássaro Cego",
Um livro reconhecido.
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A "Estrela Solitária"
Lançou com glória e com brio
"Mensagem aos Poetas Novos"
Foi um grande desafio;
"Galo Branco" e "As Florestas"
Depois, "Caminho do Frio".
60
Lançou "Paisagens e Seres",
"Babilônia", uma canção...
Também belíssimos "Discursos
Aos Jovens" desta nação,
"Antologia de Prosa"
E "Prelúdio à Revolução".
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Seus mais famosos trabalhos
No campo da poesia
Foram "Soneto Cigano",
"Quando", "Lembrança", "Elegia",
"Noiva", "Soneto a Camões",
Foi tudo pra Antologia!
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"Retrato do Desconhecido",
"Quando eu Morrer" e "Vazio",
Sonetos, "Ouço uma Fonte"...
Fonte perdida no frio.
Encheu de poemas quentes
As brisas doces do Rio.
63
Casou com Yedda Ovalle,
Grande amor da sua vida,
Pra ela lavrou poemas,
E ela foi dele a querida
Até em 65
Quando fez a despedida...
64
Por fim, foi esse o Schmidt,
Um autêntico brasileiro,
Articulador gigante
Empreendedor pioneiro,
Augusto, doce, valente,
Diplomata competente.
Poeta de corpo inteiro!