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Crianças e adultos fizeram um abraço simbólico no local e soltaram balões brancos, em repúdio à violência
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Com cartazes e camisetas brancas, moradores do condomínio da Octogonal 4 (AOS 4), onde um casal agrediu um menino de 6 anos no dia 9, fizeram ontem uma manifestação com pedidos de paz e de respeito. O caso gerou medo entre as crianças e adolescentes que costumavam brincar no espaço e os afastou da área comum. No ato de ontem, moradores buscaram mostrar que o ambiente, apesar do incidente, é de tranquilidade e de repúdio à violência. Para a tia do garoto agredido, Jucinea Nascimento, 43 anos, a manifestação transformou uma atitude de violência em um momento de amor. Foi a primeira vez que o menino desceu à quadra depois da agressão. "Eu me sinto aliviada porque foi uma semana muito difícil para mim e para o meu sobrinho. Queremos deixar esse fato para trás para que as autoridades façam seu trabalho. O mais importante é ver o meu sobrinho acolhido. A comunidade da quadra mostrou hoje que o problema não era ele”.
Incentivadas pelos pais, crianças de várias idades brincavam na quadra antes do início do protesto. Vestidos de branco, os adultos penduraram cartolinas e cartazes, alguns deles desenhados pelas próprias crianças, com dizeres como "aqui os grandes respeitam os pequenos", “paz”, “amor” e “gentileza” nos alambrados. Os presentes organizaram um abraço coletivo no centro da quadra em que a agressão ocorreu. Balões brancos foram soltos.
Moradora do condomínio há quatro anos, a enfermeira Renata Marques, 40, diz que a intenção do ato é mostrar às crianças que o ambiente continua aberto para elas. "Quando a gente mora em um condomínio assim, busca tranquilidade e ter uma família com os vizinhos. Então, nosso ato é para mostrar para as nossas crianças que tudo continua igual. Passar a mensagem de que o importante é a união".
A moradora Luana Gonçalves, 37 anos, acredita que a manifestação representa um recomeço para a comunidade. "A ideia é resgatar o que nos foi tirado: paz, segurança, respeito. Todos nós fomos afetados", acredita. "Não é daquela maneira que se educa ninguém."
Câmeras
As agressões aconteceram na tarde do último dia 9, quando crianças jogavam bola na quadra esportiva localizada no meio do condomínio. Imagens das câmeras de segurança mostram que o filho do casal tropeçou sozinho, caiu e bateu de boca no chão, enquanto brincava com o menino agredido. O garoto saiu da quadra e voltou, minutos depois, acompanhado pelo pai.
Nervoso, o homem segura a vítima e manda que o filho bata no rosto do colega. Logo depois, a mãe, também alterada, chega ao local e empurra o menino agredido, que cai no chão. As outras crianças que estavam na quadra ficaram acuadas e foram para perto dos alambrados. É possível ver algumas delas chorando nas imagens.
O casal de agressores não mora no condomínio. Eles passavam o dia na casa de parentes e desceram, depois de ver o filho com os ferimentos na boca. Eles acreditavam que a criança havia sido agredida pelo colega. Por meio de nota, o advogado do casal afirmou que os clientes estão arrependidos.
O menino que sofreu a agressão não vive no condomínio. Morador de Feira de Santana (BA), ele passava férias com a irmã de 8 anos na casa da tia Jucinea das Mercês Nascimento. A menina e o filho mais novo de Jucinea, de 9 anos, presenciaram o incidente. O garoto e a irmã devem voltar hoje à Bahia.
Uma assembleia será realizada na próxima quarta-feira para decidir quais medidas legais o condomínio tomará em relação aos agressores. Na semana passada, em reunião emergencial, foi levantada a ideia de uma ação de danos morais, por causa do abalo psicológico sofrido pelas crianças da comunidade. Outro ponto que será analisado é o da suspensão da entrada do casal no condomínio para a proteção das crianças e dos adolescentes. “Tudo será decidido na assembleia de quarta, que é soberana”, disse o síndico da quadra, Mauro Assunção de Camargo.
O homem e a mulher, na esfera criminal, devem ser indiciados por lesão corporal, ameaça e possível constrangimento contra o próprio filho. A Polícia Civil deve concluir o inquérito ainda nesta semana.
"Eu me sinto aliviada porque foi uma semana muito difícil para mim e para o meu sobrinho.
Queremos deixar esse fato para trás para que as autoridades façam seu trabalho”
Jucinea Nascimento,
tia da criança agredida