ATENTO
Luís Turiba
tento ter medo e não tenho medo
tento ter depressão e não consigo
tento sentir culpa e culpa não há
tento me desentender da realidade
que pulsa me atentando sem parar
tento tento tento e tento
e nada nada nada: fico atentado
tento sentir o sangue pulsar nas veias
tento entender que o hoje veio do ontem
e o amanhã será outro tempo nesse
jogo do pêndulo da história de tentativas
parece que leio meu país radiograficamente
(mas não choro, meu segredo é que sou
um poeta esforçado)
eles tentam ser honestos e não conseguem
cometeram um atentado em minhas esperanças
agora tentam morder o próprio rabo com a língua
parece que já convivo com fantasmas há tempo
mesmo assim eu tento e não dá tempo
só uma coisa tenho e vou em frente
viver é o nosso maior templo
por isso tento, tento tento e tento
enquanto há tempo de continuar tentando