19 de dezembro de 2019 | 03h00
Mais um tombo no comércio exterior está previsto para 2020, com exportações em queda e novo aumento das importações. Na pior projeção, o saldo brasileiro deve encolher 42,18%. Outras previsões são menos alarmantes. Todas, no entanto, são alertas importantes para quem se preocupa com a saúde das contas externas. A firmeza dessas contas tem sido uma preciosa barreira contra choques vindos de fora. Mas a deterioração já é evidente no comércio de bens. Ficou em US$ 43,33 bilhões o superávit acumulado no ano até a segunda semana de dezembro. Esse valor é 20,1% menor que o de um ano antes, ou 20,8% quando se consideram os dias úteis. Explicações frequentes apontam a insegurança criada pela disputa comercial entre Estados Unidos e China, a onda protecionista, a perda de vigor do comércio global e a crise na Argentina, terceiro maior mercado para exportações brasileiras. Parte dos problemas, no entanto, está dentro do Brasil.
A projeção mais sombria foi elaborada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), informou a Agência Estado. Segundo cálculos divulgados ontem, as exportações em 2020 devem recuar para US$ 217,34 bilhões, soma 3,2% inferior à receita de US$ 224,44 estimada para 2019. Na direção contrária, as importações devem passar de US$ 179,24 bilhões para US$ 191,21 bilhões, com expansão de 6,6%. Como resultado, o superávit deve diminuir 42,18%, de US$ 45,19 bilhões esperados neste ano para US$ 26,13 bilhões calculados para 2020.
A despesa maior com produtos estrangeiros deve refletir a reativação mais sensível da economia brasileira. Aumento de importações normalmente acompanha a expansão da atividade, com elevação do consumo das famílias e do investimento em máquinas e equipamentos. A esperada perda de receita é atribuída a causas citadas com frequência pelos analistas, como a desaceleração e a crise argentina.
As vendas de não commodities (principalmente manufaturados) diminuíram 7% em volume e 5,3% em preços. Redução de vendas para a Argentina, país em recessão, e para outros países da América Latina, também grandes clientes da indústria brasileira, explica boa parte do retrocesso.
Mas é preciso, segundo os autores do relatório, considerar outros fatores para explicar as fracas exportações da indústria brasileira. O Brasil, assinalam, deveria melhorar seu desempenho nas vendas de não commodities para a China e para outros mercados da Ásia, caracterizados por taxas de crescimento econômico bem maiores que as de países de outras áreas. Esse comentário poderia abrir uma discussão sobre a pouca integração da maior parte da indústria brasileira no mercado global. A baixa presença na Ásia é especialmente notável, mas também seria preciso atuar mais intensamente em outros mercados. Há muito mais que problemas conjunturais na piora do comércio brasileiro.
O superávit comercial tem sido importante fator de segurança. Contrabalançando em parte os saldos negativos das contas de serviços e de rendas, o comércio de bens tem permitido manter em níveis administráveis o déficit das transações correntes, até agora financiado com folga pelo investimento direto. Mas esse déficit tem crescido. Em um ano, até outubro, passou de 2% para 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Não é sinal vermelho. Mas certamente é amarelo.