RIO — A montagem do clássico "Grande sertão: veredas", encenado por Bia Lessa no foyer do CCBB, e a volta do mítico "‘O rei da vela" por José Celso Martinez Corrêa, foram alguns dos destaques de 2018, ano em que os palcos abordaram questões como identidade, gênero e censura. As peças foram selecionadas com votos dos críticos Patrick Pessoa e Macksen Luiz.
As melhores peças de 2018
'Grande sertão: veredas'
Bia Lessa transformou o foyer do CCBB numa grande instalação cênica para apresentar ali a sua adaptação para o palco do romance épico de Guimarães Rosa. A saga de Riobaldo, interpretada com paixão pelo elenco liderado por Caio Blat, conjugou a força poética do texto a uma encenação vigorosa e com imagens arrebatadoras construídas pelos corpos dos atores.
'O rei da vela'
Cinquenta anos depois da encenação original no Teatro Oficina, em São Paulo, José Celso Martinez Corrêa trouxe à Cidade das Artes sua remontagem para o romance de Oswald de Andrade. O país já não era o mesmo daquele que vivia sob uma ditadura, mas a criatividade, a iconoclastia, e o talento do diretor ao contar “a vida, paixão e morte de um burguês brasileiro” sobreviveram, intactos, no espetáculo que ainda recuperou os primorosos cenários de Hélio Eichbauer.
'Preto'
Em época de debates sobre identidade e lugar de fala, a Cia Brasileira de Teatro estreou no CCBB uma peça contundente. Com direção de Marcio Cruz e elenco espetacular, que incluía Grace Passô (foto) e Renata Sorrah, “Preto” partia de uma situação ficcional — a conferência pública de uma mulher negra — para abordar racismo, a condição do negro no país, construção e desconstrução de identidades, imagens sociais e estereótipos.
'Cérebrocoração'
Primeira incursão de Mariana Lima na dramaturgia, a peça que ocupou o palco do Oi Futuro com direção de Renato Linhares e Enrique Diaz costurava ficção e realidade, razão e emoção, delírio poético e discurso científico, num veículo perfeito para a atuação densa e envolvente da atriz.
'A invenção do Nordeste'
O Grupo Carmin, de Natal, apresentou no Teatro Sesi Firjan esta peça exemplar do teatro-documentário brasileiro. Uma questão aparentemente simples — qual será, afinal, a essência do nordestino? —, se desdobrava, diante do espectador, de modo irônico, inteligente e bem-humorado, em diferentes registros de atuação conduzidos pela diretora Quitéria Kelly: tragédia, comédia, teatro épico, dança contemporânea.
'A última aventura é a morte'
Dirigido por MIguel Vellinho, o novo espetáculo da Cia Pequod subverteu as noções de palco e plateia para promover uma reflexão vigorosa sobre dramas coletivos da História. O espectador se deslocava pelo ambiente do CCBB numa experiência imersiva e intensa, que reunia teatro, cinema, artes visuais e manipulação de bonecos.
‘Traga-me a cabeça de Lima Barreto’
Um congresso de eugenistas brasileiros vai dissecar o cérebro de Lima Barreto para descobrir como um cérebro de raça “inferior” poderia ter produzido tantas obras literárias. A ótima premissa do texto de Luiz Marfuz, dirigido por Fernanda Júlia, foi veículo para Hilton Cobra ( brilhar como o escritor redivivo no palco do Centro Cultural da Justiça Federal no espetáculo que ecoava como um grito contra o racismo.
'Domínio público'
Vítimas de episódios de censura, os performers Wagner Schwarz, Renata Carvalho, Maikon K e Elisabeth Finger se reuniram neste espetáculo que estreou no festival Panorama para propor uma outra maneira de relação com a arte. Como ponto de partida, diferentes abordagens de uma obra icônica da cultura odcidental: a “Mona Lisa”.
‘Elza, o musical’
O musical de Vinícius Calderoni mirou na emoção da plateia para narrar a trajetória de uma vida repleta de situações-limite, mas também de sucesso e riso. No palco do Teatro Riachuelo, dirigidas por Duda Maia, sete atrizes representaram Elza Soares, no espetáculo que ainda tinha um trunfo poderoso: o repertório da cantora.
‘A ordem natural das coisas’
O ator Leonardo Netto escreveu e dirigiu este seu segundo espetáculo, que aborda o quanto de controle se tem sobre a própria vida e a interferência do outro sobre ela. O texto bem estruturado e sem desperdício chamou a atenção da crítica