Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Estadão domingo, 15 de março de 2020

AS FALSAS CRISES E AS VERDADEIRAS

 

As falsas crises, e a verdadeira

Já é possível dizer que a grande crise que o Brasil enfrenta não é a economia travada ou a ameaça do coronavírus; a verdadeira crise é não ter governo quando ele é mais necessário

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

15 de março de 2020 | 03h00

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a disseminação do coronavírus atingiu a proporção de pandemia global. A designação é, na prática, pouco mais que simbólica, mas com ela a OMS pretende chamar a atenção de todo o planeta para os graves riscos econômicos e de saúde pública associados à expansão desenfreada da doença. “Estamos profundamente preocupados tanto com os alarmantes níveis de disseminação e de severidade da pandemia como com os alarmantes níveis de inação”, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Assim, a OMS torna oficial o que já era a conclusão de epidemiologistas de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. A crise do coronavírus é concreta, não uma “fantasia” criada pela “grande mídia”, como disse o presidente Jair Bolsonaro. Preocupa sobremaneira que o governo brasileiro, a julgar pelas declarações inconsequentes do presidente, esteja propenso a considerar a pandemia como sendo apenas uma “pequena crise”. Isso é “brincar com fogo”, como comentou o biólogo Fernando Reinach em sua coluna no Estado. “E provavelmente vamos nos queimar”, completou ele, ao lembrar que o sistema de saúde da Itália já entrou em colapso e que tal perspectiva levou diversos países a adotar medidas drásticas para tentar frear a expansão do vírus. No Brasil, contudo, as autoridades nem sequer decidiram quais são os cenários possíveis e, como escreveu Reinach, parecem preferir “esperar para ver”.

É assim que Bolsonaro encara crises verdadeiras: menospreza seus riscos e as considera criações da imprensa. Tem sido assim também no trato da crise econômica: enquanto milhões de cidadãos continuam a enfrentar a dura realidade do desemprego graças ao crescimento pífio do PIB sob Bolsonaro, o governo tenta convencer o distinto público de que tudo vai bem. 

 No caso dos efeitos da pandemia do coronavírus sobre a economia global, com óbvias consequências negativas sobre o já claudicante crescimento do Brasil, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a dizer que estava “absolutamente tranquilo”. Esse estado de negação, a exemplo do que acontece no caso do coronavírus, atrasa a adoção de medidas que poderiam ajudar o País a enfrentar a crise. 

Enquanto trata problemas reais e graves como pouco relevantes, o presidente da República despende a energia que extrai de seu cargo com crises inventadas pela inesgotável imaginação dos bolsonaristas. O mais recente delírio manifestado pelo presidente foi a denúncia de que a eleição de 2018 foi “fraudada”.

“Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse Bolsonaro, com sintaxe muito peculiar. Mais tarde, questionado sobre quando mostraria as tais “provas”, o presidente desconversou: “Eu quero que você me ache um brasileiro que confia no sistema eleitoral brasileiro”.

É evidente que uma declaração dessa gravidade merecia o repúdio imediato das instituições democráticas, como fez o Tribunal Superior Eleitoral ao reafirmar a lisura das eleições de 2018 e das anteriores. E é espantoso que o presidente da República, no auge de uma combinação de turbulências que ameaçam seriamente o futuro imediato do País, prefira mobilizar a opinião pública e as instituições em torno de seus devaneios persecutórios e conspirativos. Isso talvez indique que ele acha que o mundo gira em torno de sua excelsa figura.

Infelizmente, esse tem sido o padrão de comportamento do presidente Bolsonaro ante os inúmeros desafios que se lhe apresentam desde que tomou posse, e nada indica que será diferente até o final do mandato, especialmente à medida que fica mais clara a sua incapacidade de governar, qualquer que sejam as circunstâncias.

Ou seja, hoje já é possível dizer que a grande crise que o Brasil enfrenta não é a economia travada ou a ameaça epidêmica do coronavírus; a verdadeira crise do País é não ter governo justamente quando ele é mais necessário.


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