AS DÁDIVAS DO AMANTE
Carlos Pena Filho
Deu-lhe a mais limpa manhã
que o tempo ousara inventar.
Deu-lhe até a palavra lã,
e mais não podia dar.
Deu-lhe o azul que o céu possuía
deu-lhe o verde da ramagem,
deu-lhe o sol do meio dia
e uma colina selvagem.
Deu-lhe a lembrança passada
e a que ainda estava por vir,
deu-lhe a bruma dissipada
que conseguira reunir.
Deu-lhe o exato momento
em que uma rosa floriu
nascida do próprio vento;
ela ainda mais exigiu.
Deu-lhe uns restos de luar
e um amanhecer violento
que ardia dentro do mar.
Deu-lhe o frio esquecimento
e mais não podia dar.