Tomie Ohtake nasceu em Kioto, Japão, em 21/11/1913. Artista plástica e uma das mais importantes representantes do abstracionismo informal, com uma vasta obra nas áreas da pintura, gravura e escultura blica. É considerada a “Dama das artes plásticas brasileira”.
Filha de Kimi e Inosuke Nakakubo, veio visitar um irmão no Brasil, em 1936, e ficou impressionada com a intensidade da luz amarela, do calor e da umidade ao desembarcar no porto de Santos. Em seguida conheceu seu conterrâneo Ushio Ohtake; casaram-se e decidiu viver em São Paulo, no bairro da Mooca. Tiveram dois filhos -Ruy e Ricardo-, que deram continuidade a sua obra. Iniciou na pintura, em 1952, com o artista Keisuke Sugano. Em seguida integrou o Grupo Seibi e passou a produzir obras no contexto da arte figurativa. Mais tarde definiu-se pelo abstracionismo.
Iniciou na vida artística aos 39 anos, incentivada pelo pintor Keiya Sugano, num gesto de abertura de um novo território para si e para o outro. De forma independente e sem aderir à narrativa hegemônica da arte, fez seus estudos e seguiu produzindo durante décadas. Criou, investigou, experimentou e produziu pinturas, desenhos, gravuras, escultura. A carreira atingiu plena efervescência a partir dos 50 anos, quando realizou mostras individuais e conquistou prêmios na maioria dos salões brasileiros. Em sua trajetória vê-se obstinação da pesquisa, o rigor na produção e uma atitude livre, sem nunca se filiar, seja a uma ideia, movimento, grupo, linguagem ou manifesto. Uma artista que fez da sua própria casa um lugar de acolhimento e cruzamento de pessoas de diferentes gerações, perspectivas e origens.
Naturalizou-se brasileira em 1968, quando já tinha acumulado experiência na serigrafia, litogravura e gravura em metal. Nas décadas de 1950 e 1960 participou de diversas exposições nacionais e internacionais e foi agraciada com o Prêmio “Panorama da Pintura Brasileira” do MAM-Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 1972 foi convidada a participar da Bienal em Veneza e manteve afinidade com a obra do pintor Mark Rothko, “na pulsação obtida em suas telas pelo uso da cor e nos refinados jogos de equilíbrio”. Na década de 1980 foi influenciada pelo surgimento de outros artistas, como Tomoo Handa, Kazuo e Wakabayashi entre outros da comunidade nipônica. Em 1987 recebeu o “Prêmio Mulher do Ano na Arte”,
pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil e Academia Brasileira de Letras. Em 1995 foi agraciada com o “Prêmio Nacional de Artes Plásticas” pelo Ministério da Cultura.
Destacou-se também no trabalho com esculturas em grandes dimensões, ocupando espaços públicos e teve uma sala especial na 23ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1995. Atualmente tem 27 de suas obras públicas expostas em algumas cidades brasileiras, a maior parte em São Paulo, com destaque para a obra em concreto armado instalada na Av. 23 de Maio, os painéis da Estação Consolação do Metrô e a pintura em parede cega no centro (Ladeira da Memória). Entre 2009 e 2010, suas esculturas alcançaram também os jardins do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio e a província de Okinawa, no Japão. Em 2012, foi convidada pelo Mori Museum, em Tóquio, para produzir uma obra pública instalada no jardim do Museu.
Em sua extensa trajetória, participou de 20 bienais internacionais: 6 em São Paulo, além das bienais de Veneza, Tóquio, Havana e Cuenca. Seu currículo conta com mais de 120 exposições individuais em todo o mundo e umas 400 coletivas no Brasil e no exterior, sendo detentora de 28 prêmios. Em 1995 recebeu o “Prêmio Nacional de Artes Plásticas” do MinC-Ministério da Cultura. Em 2000, foi criado o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, mantido pelos filhos, tornando-se um grande centro irradiador das artes plásticas. Em meados de 2010 foi convidada pelo arquiteto Oscar Niemayer para fazer a uma tapeçaria de 800 m² decorando uma das paredes do Auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Infelizmente um incêndio, em 2013, destruiu 90% do auditório e a tapeçaria.
Em 2012 criou uma série de pinturas azuis, nas quais, mais uma vez, fica evidente o seu interesse em renovar-se ao inventar uma nova pincelada – a pincelada como forma, sem que a tela perca o movimento e a profundidade característicos de sua produção. Segundo ela mesma: “A transparência e a profundidade se tornaram elementos fundamentais no meu trabalho. A criação de um espaço, com profundidade e transparência, é trabalhada por meio de pinceladas de cores em que os intervalos entre elas dão visão para um segundo e um terceiro planos. Quando falo das camadas de tinta, são justamente as camadas que não são planas, mas pinceladas que vão se sobrepondo para criar determinada dimensão para o fundo da tela.”
Em 2013, seu centenário foi comemorado com 17 exposições pelo Brasil, destacando 2 no Instituto Tomie Ohtake: Gesto e razão geométrica, com curadoria de Paulo Herkenhoff, e Tomie Ohtake: correspondências e influxo das formas, com curadoria de Agnaldo Farias e Paulo Miyada, realizadas respectivamente em fevereiro e agosto. Anualmente o Instituto realiza o “Prêmio Territórios Tomie Ohtake”, destinado a incentivar as artes plásticas.
Seu legado e biografia foram publicadas alguns livros: Tomie: cerejeiras na noite, de Ana Miranda, baseado em depoimentos da artista, publicado em 2006 pela Cia. das Letrinhas; Tomie Ohtake: Construtiva, de Paulo Herkenhoff, pela Edições Pinakoteke, em 2013; Tomie Ohtake, de Lígia Rego e Ligia Santos, pela Editora Moderna, em 2016. Em dezembro de 2014, a cineasta Tizuka Yamasaki lançou o documentário Tomie, retratando o universo da artista, mesclando momentos íntimos com depoimentos críticos de Paulo Herkenhoff, Agnaldo Farias e Miguel Chaia. Dos 100 aos 101 anos realizou cerca de 30 pinturas e faleceu em 12/2/2015, aos 101 anos.
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