AS BRASILEIRAS: Teresa de Benguela
José Domingos Brito
Teresa de Benguela nasceu em princípios de 1700, na região de Benguela, atual República de Angola. Líder quilombola, liderou uma revolta no Quilombo do Quariterê (ou Quilombo do Piolho) na Capitania de Mato Grosso; tornou-se “rainha” no início dos anos 1750, e se manteve por 20 anos, quando o quilombo foi destruido em meados de 1770.
Sua origem é controversa. Há registros portugueses que afirmam se tratar de uma escravizada angolana, embarcada para o Brasil no porto de Benguela. Mas há historiadores que afirmam ter nascido no Brasil. O Quilombo foi criado em 1740 por seu marido José Piolho e tornou-se um núcleo de resistência de negros fungidos da escravidão. Sua localização na selva amazônica, além de dificil era perto da fronteira pemitindo fugas para o lado espanhol. Tais condições permitiram uma resistência mais prolongada.
Por volta de 1750, deu-se a morte de José Piolho e ela, na condição de rainha viúva, assume seu lugar. A mudança ocorrida no Quilombo não foi apenas no comando. A rainha Teresa passa a governar ao modo de um Parlamento, com um local apropriado e reuniões em dias fixos todas as semanas com seus “deputados” e os convidados, presididos pela rainha. Segundo a pesquisadora Edir Pina de Barros, junto ao aspecto “democrático’ era mantida uma rígida disciplina afim de garantir sua defesa e sobrevivência.
Ainda segundo a pesquisadora, o Quilombo Quariterê contrastava com a escassez na região: “Tal abundância relacionava-se à forma de apropriação da terra (pelo trabalho), disponibilidade de mão de obra e, sobretudo, trabalho cooperativo e solidariedade social... Através de relações mantidas com a sociedade ‘branca’, obtinham ferro, além de sal e outros artigos”. A prosperidade e o crescimento do Quilombo alertaram o governo português, que passou a se preocupar com seu exemplo entre outros quilombos existentes no período colonial.
O Quilombo foi invadido pelos portugueses em 1770. A rainha Teresa comandou a resistência, mas após alguns combates muitos quilombolas morreram e 79 negros e 30 indígenas foram capturados e levados para Vila Bela da Santíssima Trindade, atual estado de Mato Grosso, e devolvidos aos seus proprietários. Entre eles estava a rainha, que, segundo o sociólogo Clóvis Moura, ingeriu umas ervas venenosas e faleceu. Teve a cabeça decepada e pendurada no centro do Quilombo para servir de exemplo.
Mas este ainda não foi o fim do Quilombo Quariterê. Muitos quilombolas que fugiram do ataque se esconderam na mata e se reorganizaram noutro assentamento. O final do quilombo se deu em 1795 com outra investida dos portugueses, guiados por um negro forro capturado na invasão de 1770. Por essa época ainda se falava na liderança da rainha Teresa. Mas aos poucos foi caindo no esquecimento e tornou-se umas das mártires menos conhecidas do período colonial.
Sua memória foi resgatada pelos historiadores e em 1994 a Escola de Samba Viradouro, do Rio de Janeiro, desfilou no carnaval com o enredo “Teresa de Benguela, uma Rainha Negra no Pantanal”. Antes disso ela foi lembrada em 1992 no I Encontro de Mulheres Negras da América Latina e do Caribe, realizado na República Dominicana. Em 2014, o dia 25 de julho foi instituído como “Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra”, através da Lei nº 12.987/2014.
Mais uma homenagem ocorreu em 2020, em São Paulo, feita pela Escola de Samba Barroca Zona Sul, no desfile de carnaval com o samba-enredo “Benguela... A Barroca Clama a Ti, Teresa’. A historiadora Thais de Campos Lacerda realizou uma pesquisa que pode ser vista como um bom ensaio biográfico -Tereza de Benguela: identidade e representatividade negra-, publicado na Revista de Estudos Acadêmicos de Letras da UNEMAT, vol. 12, nº 2, de 2019, à disposição na Internet, link https://periodicos.unemat.br/index.php/reacl/article/view4113