Maria Odília Teixeira nasceu em São Felix, BA, em 5/3/1884. Médica e professora, conhecida como a primeira médica negra do Brasil e primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia-FAMEB.
Filha de Josephina Luiza Palma, cuja mãe foi escravizada, e do médico José Pereira Teixeira, aos 13 anos foi estudar no Ginásio da Bahia, uma escola da elite soteropolitana em Salvador, formando-se professora. Em 1904, ingressou na FAMEB, tendo como tutor o irmão Joaquim Pereira Teixeira, ingressado no curso 2 anos antes. Formou-se médica em 1909, a única mulher numa turma de 47 alunos. Sua tese – Algumas considerações acerca da curabilidade e do tratamento das Cirrhoses Alcoólicas – também foi pioneira ao fugir de temas ligados à ginecologia e pediatria. Na época o estudo sobre o alcoolismo estava vinculado à raça.
Em seguida, passou a viver em Cachoeira, onde trabalhava sob a tutela do pai, do irmão ou de outro médico. Depois passou a atender a clientela, majoritariamente feminina, sozinha. Em 1914 foi convidada para lecionar na FAMEB na cátedra de Clínica Obstétrica. Em 1917, teve que deixar a docência para cuidar do pai doente. Após breve estadia em Cachoeira, mudou-se com a família para a cidade de Irará em busca da melhora do pai. Aí conheceu o advogado Eusínio Lavigne, com quem se casou aos 37 anos. Uma idade avançada para o casamento naquela época. A família do noivo não acreditou que ele ia se casar com uma negra e não compareceu no casamento.
Ela sentiu o preconceito da família do marido e da sociedade quando chegaram à Ilhéus. Pouco depois deixou a medicina para se dedicar à família com dois filhos. Por essa época, o marido, inspirado em ideias comunistas, ingressou na política e tornou-se intendente (prefeito) de Ihéus até 1937. Mesmo na condição de primeira-dama da cidade, ela permaneceu sofrendo preconceito. As filhas relatam que ela se manteve serena e mantendo a dignidade do cargo, mesmo diante do preconceito.
Em 1937, o marido foi destituido do cargo e preso durante a ditadura do Estado Novo, no Governo Vargas. Os ideais políticos por uma sociedade mais solidária e menos desigual continuaram ao longo de sua vida. Uma nova prisão por motivos políticos viria ocorrer anos depois, em 1964, na ditadura militar. Logo que foi solto, a família mudou-se para Salvador, onde veio a falecer em 1970, aos 86 anos. Deixou filhos, netos e bisnetos, que também se tornaram médicos.
Partilhava os ideais políticos do marido e interferiu numa polêmica que ele manteve com um desafeto politico. Em 1960, Ruy Santos, que chegou ao cargo de senador da Bahia, publicou o livro Teixeira Moleque, pela editora José Olympio, desmerecendo os feitos de seu pai. Ao tomar conhecimento do fato, Maria Odília escreveu-lhe uma longa carta avisando sobre as providências que iria tomar. Não temos notícia sobre algum processo movido por ela contra o inimigo político de seu pai.
Deixou um legado para a Medicina que ultrapassa a pesquisa histórica e tornou-se referencia de conduta profissional para seus familiares. Uma terceira bisneta médica -Paula Lavigne- afirma que “Acredito que toda a minha paixão pelo cuidar veio da minha bisa Odília. Formar-se em Medicina sendo mulher negra há tanto tempo não deve ter sido fácil. Muita luta, muita força e muito amor”. Outra bisneta – Luciana Lavigne – oftalmologista, emenda: “um estimado apreço e reconhecimento por sua honrosa história e trabalho, e isso se faz presente diariamente em minha vida profissional”.
Seu filho, também médico, José Leo Lavigne, conta que “minha mãe, sem nunca ter saído do Brasil, falava cinco línguas fluentemente, e não concebia como os professores ousavam ensinar o português, sem ao menos dominar o grego e o latim”.