Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial domingo, 15 de setembro de 2024

AS BRASILEIRAS: Maria Odília (CRÔNICA DO COLUNISTA JOSÉ DOMINGOS BRITO)

AS BRASILEIRAS: Maria Odília

José Domingos Brito

Maria Odília Teixeira nasceu em São Felix, BA, em 5/3/1884. Médica e professora, conhecida como a primeira médica negra do Brasil e primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia-FAMEB.

 

 

Filha de Josephina Luiza Palma, cuja mãe foi escravizada, e do médico José Pereira Teixeira, aos 13 anos foi estudar no Ginásio da Bahia, uma escola da elite soteropolitana em Salvador, formando-se professora. Em 1904, ingressou na FAMEB, tendo como tutor o irmão Joaquim Pereira Teixeira, ingressado no curso 2 anos antes. Formou-se médica em 1909, a única mulher numa turma de 47 alunos. Sua tese – Algumas considerações acerca da curabilidade e do tratamento das Cirrhoses Alcoólicas – também foi pioneira ao fugir de temas ligados à ginecologia e pediatria. Na época o estudo sobre o alcoolismo estava vinculado à raça.

Em seguida, passou a viver em Cachoeira, onde trabalhava sob a tutela do pai, do irmão ou de outro médico. Depois passou a atender a clientela, majoritariamente feminina, sozinha. Em 1914 foi convidada para lecionar na FAMEB na cátedra de Clínica Obstétrica. Em 1917, teve que deixar a docência para cuidar do pai doente. Após breve estadia em Cachoeira, mudou-se com a família para a cidade de Irará em busca da melhora do pai. Aí conheceu o advogado Eusínio Lavigne, com quem se casou aos 37 anos. Uma idade avançada para o casamento naquela época. A família do noivo não acreditou que ele ia se casar com uma negra e não compareceu no casamento.

Ela sentiu o preconceito da família do marido e da sociedade quando chegaram à Ilhéus. Pouco depois deixou a medicina para se dedicar à família com dois filhos. Por essa época, o marido, inspirado em ideias comunistas, ingressou na política e tornou-se intendente (prefeito) de Ihéus até 1937. Mesmo na condição de primeira-dama da cidade, ela permaneceu sofrendo preconceito. As filhas relatam que ela se manteve serena e mantendo a dignidade do cargo, mesmo diante do preconceito.

Em 1937, o marido foi destituido do cargo e preso durante a ditadura do Estado Novo, no Governo Vargas. Os ideais políticos por uma sociedade mais solidária e menos desigual continuaram ao longo de sua vida. Uma nova prisão por motivos políticos viria ocorrer anos depois, em 1964, na ditadura militar. Logo que foi solto, a família mudou-se para Salvador, onde veio a falecer em 1970, aos 86 anos. Deixou filhos, netos e bisnetos, que também se tornaram médicos.

Partilhava os ideais políticos do marido e interferiu numa polêmica que ele manteve com um desafeto politico. Em 1960, Ruy Santos, que chegou ao cargo de senador da Bahia, publicou o livro Teixeira Moleque, pela editora José Olympio, desmerecendo os feitos de seu pai. Ao tomar conhecimento do fato, Maria Odília escreveu-lhe uma longa carta avisando sobre as providências que iria tomar. Não temos notícia sobre algum processo movido por ela contra o inimigo político de seu pai.

Deixou um legado para a Medicina que ultrapassa a pesquisa histórica e tornou-se referencia de conduta profissional para seus familiares. Uma terceira bisneta médica -Paula Lavigne- afirma que “Acredito que toda a minha paixão pelo cuidar veio da minha bisa Odília. Formar-se em Medicina sendo mulher negra há tanto tempo não deve ter sido fácil. Muita luta, muita força e muito amor”. Outra bisneta – Luciana Lavigne – oftalmologista, emenda: “um estimado apreço e reconhecimento por sua honrosa história e trabalho, e isso se faz presente diariamente em minha vida profissional”.

Seu filho, também médico, José Leo Lavigne, conta que “minha mãe, sem nunca ter saído do Brasil, falava cinco línguas fluentemente, e não concebia como os professores ousavam ensinar o português, sem ao menos dominar o grego e o latim”.

 

 

 

 


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