Maria Isaura Pereira de Queiroz nasceu em 26/8/1918, em São Paulo, SP. Socióloga, escritora e tradutora, conhecida como a grande dama da sociologia brasileira. Foi pioneira no estudo do povo do interior do Brasil, produzindo obras clássicas sobre o sertanejo, o caipira, a vida no campesinato e analise do “mandonismo local”.
Filha de Maria Moraes Barros Pereira de Queiroz e Manoel Elpídio Pereira de Queiroz, foi sobrinha da primeira deputada brasileira Carlota Pereira de Queiroz, na década de 1930. Teve os primeiros estudos na Escola Normal Caetano de Campos e ingressou no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Ciências e Letras da USP-Universidade de São Paulo, concluído em 1949. Emendou um mestrado em Sociologia, Antropologia e Política na USP, em 1951 e um doutorado em Sociologia na École Pratique des Hautes Études, em 1959, com bolsa do governo francês.
Foi aluna – e herdeira intelectual – de Roger Bastide que, em 1938, inaugurou os estudos sociais na USP, com a criação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, onde lecionou até se aposentar, em 1978, como professora emérita. Lecionou também na École des Hautes Études, em 1963-64; no Institut des Hautes Études d’Amerique Latine, na Universidade de Paris em 1961-1970; Université Laval, em Quebec, em 1964, e na Université des Mutantes, no Senegal, em 1979.
Membro da SBPC-Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência por mais de 40 anos. Sua obra abrange 3 temas: reforma e revolução por meio dos movimentos religiosos, messiânicos e do mandonismo na política; estudos rurais com base no campesinato e a cultura brasileira, destacando as histórias de vida, relações de gênero e o carnaval.
Principais livros: A Guerra santa no Brasil: o movimento messiânico no Contestado (1957), O messianismo no Brasil e no mundo (1965), Réforme et Révolution dans les société traditionnelles (1968), Os Cangaceiros : les bandits d’honneur brésiliens (1968), Images messianiques du Brésil (1972), O campesinato brasileiro (1973), O mandonismo local na vida política brasileira (1969), além dos ensaios: Cultura, sociedade rural e sociedade urbana no Brasil (1978), Carnaval brasileiro: o vivido e o mito (1992).
Em 1964 fundou o CERU-Centro de Estudos Rurais e Urbanos, ligado ao Departamento de Sociologia da USP, no qual se distinguiu por longo tempo, seja como presidente, seja como diretora de pesquisas. Sua finalidade é desenvolver pesquisas, organizar encontros de estudiosos das mais diversas áreas das ciências sociais e oferecer treinamento a estudantes de graduação e pós-graduação em ciências sociais. Edita uma revista e realiza encontros anuais, cujo tema do 49º Encontro Nacional de Estudos Rurais e Urbanos, em 2023, foi “Memórias & Patrimônios: as relações entre sujeitos, histórias e sociedades”.
Como socióloga, foi mais reconhecida fora do Brasil. Seus trabalhos foram traduzidos na Europa. Eric Hobsbawn, qu e muito a respeitava, traduziu para o inglês um de seus trabalhos. Teve destacada atuação logo após o Golpe Militar de 1964. Quando Florestan Fernandes foi preso, ela se encontrava no Canadá. Ali sua voz foi ouvida e repercutiu nos meios intelectuais. O Presidência da República, general Castelo Branco, alarmado com as repercussões, determinou que se apurasse quem era Florestan, para entender o acontecido. No movimento estudantil de 1968, os alunos da Faculdade de Filosofia organizaram a grande passeata contra a ditadura. O diretor da Faculdade fechou as portas da escola para que os estudantes fossem impedidos de nela reentrar. Ela colocou uma cadeira contra a porta, para impedir que fosse fechada; sentou-se e com seu guarda-chuva em riste, informou ao professor Erwin Rosenthal: “Os estudantes combinaram que vão bater pique aqui. E vão fazê-lo.”
Foi premiada no XI Concurso Mario de Andrade, do Departamento de Cultura do Município de São Paulo, em 1957; vencedora do Prêmio Jabuti de Ciências Sociais, da Câmara Brasileira do Livro, com o livro O messianismo no Brasil e no mundo, em 1966, e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto, do CNPq, em 1998. O prêmio foi entregue pelo seu colega, o presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Na época esta premiação era a mais alta condecoração científica do País. Ficou conhecida como a socióloga que tentou decifrar o Brasil e faleceu em 29/12/2018, aos 100 anos