Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial quinta, 22 de agosto de 2019

AS BRASILEIRAS: LUCIA MIGUEL PEREIRA

 

 

MEMORIAL DAS BRASILEIRAS: Lucia Miguel Pereira

Lucia Miguel Pereira nasceu em Barbacena, MG, em 12/12/1901. Escritora, tradutora e destacada crítica literária, integrante de uma família de escritores. “Carioca de Minas”, pois nasceu por acaso em Barbacena, numa das fugas de sua mãe, Maria Clara Tolentino Pereira, do calor do Rio de Janeiro. Ela estava grávida e não houve tempo para retornar ao Rio. Filha do conhecido médico Miguel da Silva Pereira, esposa do escritor Otávio Tarquínio de Souza, prima de Antônio Cândido e tia do poeta Bruno Tolentino. Durante as décadas de 1920 e 1930 constituiu-se numa referência do ensaísmo feminino e uma das principais biógrafas de Machado de Assis.

Escreveu muitos artigos e ensaios em revistas e jornais da época, e pediu à família que, em caso de morte, todos seus escritos inéditos só poderiam ser publicados com a autorização do marido. Na falta deste, deveriam ser incinerados. Como os dois faleceram num desastre aéreo, em 22/12/1959, a família atendeu seu pedido. Seus textos publicados foram reunidos na década de 1990 em dois volumes: A Leitora e seus personagens (1992) e Escritos da maturidade (1995) resgatando suas colaborações, entre 1931 e 1959. Um terceiro volume póstumo foi publicado em 2015: O século de Camus – Artigos para jornal, 1947-1955. São textos de crítica literária, que revelam uma aguda erudição e capacidade de percepção da arte e da vida.

Seu pendor ensaístico e biográfico foi despertado no Colégio Sion, onde, junto com as colegas criaram a revista “Elo” e passou a escrever artigos transmitindo suas impressões de leitura. Publicou o ensaio “Isabel, a redentora”, sobre a escravidão e outro sobre Euclides da Cunha: “Um bandeirante”, em 1927. Porém, foi no “Boletim de Ariel”, famosa revista literária dirigida por Gastão Cruls e Agripino Grieco, que saíram os primeiros artigos de crítica literária e permaneceu até 1937. Antes disso, publicou seus dois primeiros romances em 1933: “Maria Luísa” e “Em surdina”, editados por Augusto Frederico Schmidt e José Olympio, antigos amigos de seu pai. Em 1934, foi inaugurada a Livraria José Olympio no centro do Rio de Janeiro, que ela passou a frequentar e fazer amigas, como Adalgisa Nery, Dinah Silveira de Queiroz e Rachel de Queiroz, escritora já consagrada com o romance “O Quinze”.

Em 1936 despontou no circuito literário com sua obra-prima: “Machado de Assis (estudo crítico e biográfico)”, publicada pela Companhia Editora Nacional. O livro foi um sucesso de público e crítica, agraciado com o Prêmio da Sociedade Felippe d’Oliveira. Provocou uma revirada na interpretação psicológica do autor e renovou o interesse pela obra de Machado. Até hoje seu trabalho é considerado um clássico da fortuna crítica do autor, contando com oito edições e integrando grandes coleções de estudos brasileiros. A carreira de crítica literária foi consolidada na “Revista do Brasil”, no período 1938-1943, e prosseguiu nos jornais “Correio da Manhã” e “O Estado de São Paulo”, onde pontificou no Suplemento Literário com excelentes textos e análises literárias. Foi na Livraria do seu amigo José Olympio que conheceu Octávio Tarquínio de Souza, quarentão desquitado, historiador e Ministro do TCU-Tribunal de Contas da União. Octávio ficou encantado com a morena atraente e intelectual sofisticada; conversa vai e vem, veio o namoro seguido de casamento em 1939. Foram morar no alto do bairro do jardim Botânico, onde ficaram até 1948.

Mudaram-se para a cobertura no recém-inaugurado e moderno conjunto do Parque Guinle, projetado por Lúcio Costa. Como o casal gostava de receber amigos, as reuniões que se davam na casa do Jardim Botânico foram intensificadas na cobertura, tonando-se ponto de encontro da então intelectualidade do Rio de Janeiro. Entre os frequentadores assíduos encontravam-se desde o pensador católico Alceu Amoroso Lima até o comunista Astrojildo Pereira, que chegou a se utilizar do apartamento como refúgio, diversas vezes, para não ser preso. Em 1945 foi convidada pelos portugueses para organizar “O Livro do Centenário de Eça de Queiroz”, publicado em Lisboa pela editora Dois Mundos. Em 1950 mergulhou na história e escreveu“História da Literatura Brasileira: Prosa de Ficção, de 1870 a 1920”, que veio integrar, como volume XII, a “História da Literatura Brasileira”, dirigida por Álvaro Lins.

Em seguida lançou mais uma biografia, “A Vida de Gonçalves Dias”. em 1952, dando um novo significado sobre o autor e o indianismo na literatura brasileira. Para ela, o gênero biografia tinha uma importância fundamental no momento em que o País carecia de boas referências para a construção de uma identidade nacional. Só assim, segundo ela o gênero seria “capaz de fazer com que os brasileiros se interessem pelas figuras de sua terra”. Sua competência como biógrafa foi ressaltada pela professora Maria Helena Werneck, no excelente ensaio “Lúcia Miguel Pereira e a tradição da biografia no Brasil”, publicado na Revista Semear, nº 9, 2003, da PUC/RJ.

Outro aspecto de sua personalidade é o pioneirismo ao enforcar o “Feminismo”, quando o termo ainda não estava em voga. Tratou do assunto no ensaio “A valorização da mulher na sociologia histórica de Gilberto Freyre”, inserido no livro “Gilberto Freyre: sua ciência, sua filosofia, sua arte”, publicado pela José Olympio Editora, em 1962. Quanto ao papel da mulher na literatura, ela achava que as escritoras tinham visão diferente da realidade que refletia em sua escrita. Não se trata de ser uma literatura melhor ou pior e sim de um olhar renovado, revelador e diferenciado trazido pelas escritoras. Tinha um grande senso de responsabilidade com a escrita: ”Penso que o intelectial tem obrigação de escrever limpa e conrretametne. Há uma grande distância, porém, entre bom estilo e o estilo enfeitado”. Inovou também na literatura infantil, publicando belos livros: A fada menina (1939), A floresta mágica (1943), Maria e seus bonecos (1943) e A filha do rio verde (1943), acrescentando conteúdo ao trabalho de Monteiro Lobato e colaborando com o empenho de Cecília Meireles na função de cristalizar uma literatura para crianças. .

O casal não teve filhos, mas na prática foram os pais de Antonio Gabriel de Paula Fonseca, neto do primeiro casamento de Octávio. Lúcia foi mais que avó postiça, cuidando do menino como verdadeira e devotada mãe. O rapaz soube retribuir tais cuidados cultivando sua memória. Em sua Fazenda Monte Alegre, no município de Paty do Alferes, ele criou um parque de esculturas que batizou com o nome de Lucia Miguel Pereira. A grande biógrafa também teve sua biografia publicada em 2017 pela Outubro Edições, de Brasília. “Lúcia: uma biografia de Lucia Miguel Pereira”, escrita por Fabio de Souza Coutinho, seu parente e “a pessoa ideal para levar a efeito essa grande navegação biográfica”, conforme o poeta Anderson Braga Horta escreveu no prefácio. A biblioteca do casal encontra-se hoje, e pode ser consultada pelo público, no acervo da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro.

Numa época em que a mulher adquire empoderamento, como se diz hoje, seu nome anda esquecido no limbo da história brasileira. Foi uma mulher que não se prendeu as limitações impostas no seu tempo. Uma pequena lembrança ainda resta no nome da Escola Municipal Lucia Miguel Pereira, localizado no bairro de São Conrado, no Rio de Janeiro. Os interessados em conhecê-la melhor, numa conversa descontraída, podem acessar sua entrevista concedida a Homero Senna e publicada em 1944. Clique aqui para  ler.


sexta, 23 de agosto de 2019 as 11:45:41

Julano Ccorreia
disse:

Muito bom esse Memorial. Só mostra pessoas pouco conhecidas e importantissimas para nossa história


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