Henriqueta Lisboa nasceu em Lambari, MG, em 15/7/1901. Escritora, professora e tradutora das línguas inglesa, francesa, alemã, espanhola e essencialmente poeta. Foi destacada representante da lírica modernista e primeira mulher a ingressar na Academia Mineira de Letras. Junto com sua amiga Cecília Meireles foi uma das principais poetas de sua geração.
Filha de Maria de Vilhena e do deputado federal João de Almeida Lisboa, formou-se professora na cidade de Campanha e mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1926. Mais tarde mudou-se para Belo Horizonte (1935), onde lecionou no ensino secundário e foi professora da PUC/MG e UFMG. Seu primeiro livro de poesias – Fogo fátuo – saiu em 1924. Porém, ela desconsidera o fato e indica Enternecimento, publicado em 1929, como sua obra de estreia. Trata-se de uma obra de forte caráter simbolista, que lhe rendeu o Prêmio Olavo Bilac de Poesia da ABL-Academia Brasileira de Letras.
Em meados de 1945, aderiu ao Modernismo sob a influência de seu amigo e mentor Mario de Andrade, com quem trocava correspondência e sobre o qual escreveu dois livros: A face lívida, quando Mário faleceu em 1945 e Flor da morte, em 1949, seu livro mais conhecido. Manteve estreitos contatos com grandes poetas de sua época, como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, a chilena Gabriela Mistral e Carlos Drummond Andrade, que declarou “Muitas pessoas poderiam ter em casa um livro seu […] como têm um toca-discos, um televisor, um gravador, um eletrodoméstico de lazer ou de serviço. E não têm. As tiragens de livros de poesia são limitadas. E fazem tanta falta os poetas como Henriqueta Lisboa!” Em setembro de 1943 recepcionou Gabriela Mistral, que vivia em Petrópolis na condição de consulesa do governo chileno, numa visita oficial a Belo Horizonte, com o beneplácito do prefeito Juscelino Kubitschek e do secretário de educação Cristiano Machado. Foram 10 dias de passeios, visitas e palestras da escritora chilena, que sacudiram a cidade. A visita foi uma retribuição às visitas que Henriqueta lhe fizera no Rio de Janeiro. As duas poetas mantiveram uma amizade que se desdobrou em cartas, viagens, traduções e convívio intelectual.
Publicou vários livros de poesia, os quais junto com suas traduções e ensaios críticos, estão reunidos na obra Henriqueta Lisboa: obra completa, organizado por Reinaldo Marques e publicado em 2020 pela Editora Peirópolis. Deixou um legado literário composto de 20 obras, com destaque para Prisioneira da noite (1941); Flor da morte (1949); Além da imagem (1963); Nova Lírica (1971); O alvo humano (1973); Miradouro e outros poemas (1976); Pousada do ser (1982) e Poesia geral (1985). É Cidadã Honorária de Belo Horizonte, por decreto municipal em 1972. Foi também uma das poetas mais homenageada e premiada em sua época.
Amealhou mais de 30 comendas, prêmios e titulações, 9 delas em caráter post-mortem após seu falecimento em 9/10/1985: Prêmio Othon Bezerra de Melo, da Academia Mineira de Letras (1950); 1º Prêmio da Câmara Brasileira do Livro (1952), Medalha de Honra da Inconfidência Mineira (1955), Prêmio Presenza d’Italia in Brasile (1970), Prêmio Poesia 1976, pela APCA, Grande Medalha da Inconfidência (1980), Prêmio Machado de Assis, da ABL e Pen Club do Brasil (1984) e Prêmio Jabuti (2010), pela Câmara Brasileira do Livro, com a obra Correspondência Mário de Andrade & Henriqueta Lisboa.
Foi homenageada, também, com seu nome dado a duas premiações: ”Prêmio Literário Henriqueta Lisboa”, pela Secretaria de Cultura de Minas Gerais, em 1987 e “Prêmio Henriqueta Lisboa”, pela FNLIJ-Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 2006.
Segundo Reinaldo Marques, professor da Faculdade de Letras da UFMG, no ensaio Henriqueta Lisboa: tradução e mediação cultural, à disposição na Internet, ela “vivenciou de forma lúcida e agônica esse aspecto mediador da tradução, conforme testemunha todo o seu trabalho de tradutora de poesia. Um trabalho que envolvia a leitura, o estudo, a vivência do mundo e da técnica dos autores a serem traduzidos”. Tal forma lúcida e agônica pode ser vista na tradução que fez do “Purgatório” da Divina Comédia, de Dante Alighieri, ao contemplar outras traduções.
Outro aspecto a ser ressaltado, em sua trajetória, é a dedicação à literatura infanto-juvenil. Não por acaso, recebeu o diploma de membro fundadora da Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil e Personalidade do Ano Internacional da Criança, em 1979. Três de seus livros receberam o “Selo Altamente Recomendável” da FNLIJ-Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil: Literatura oral para a infância e a juventude (2003), Antologia de poemas portugueses para a juventude (2005) e O menino poeta (2009).
Seu sobrinho, o economista e membro da ABL, Edmar Lisboa Bacha, guarda boas memórias da tia: “Tia Henriqueta foi uma pessoa especial. Não só por sua poesia, que é admirada mundo afora. Também por sua figura frágil que parecia ser feita de porcelana, e sua personalidade a um tempo forte e reclusa. Ao contrário de minha mãe, Maria de Jesus Lisboa Bacha, que adorou a experiência do Sion, Henriqueta a detestou, mas tanto assim que da madre superiora ganhou a alcunha de la petite orguilleuse, a pequena orgulhosa. Irritava-se quando a chamavam de “poetisa”, e me dizia algo assim: “só mesmo homens para quererem se apoderar de um substantivo terminado em ‘a’, como ‘poeta’, para relegar as mulheres poetas a um diminutivo ‘poetisa’”.