AS BRASILEIRAS: Fideralina Lima
José Domingos Brito
Fideralina Augusto Lima nasceu em 24/8/1832, em Lavras da Mangabeira, CE. Líder política e destacada figura do “coronelismo”, na região do Cariri Cearense. Teve papel relevante na Revolução de 1914, conhecida por “Sedição de Juazeiro”, movimento messiânico liderado, entre outros, pelo Padre Cícero. Recebeu as alcunhas de “matriarca” e “governadora” do Nordeste e inspirou Rachel de Queiroz no seu romance Memorial de Maria Moura.
Filha de Isabel Rita de São José e do tenente-coronel João Carlos Augusto, herdou a veia política do pai, que chegou a ser deputado provincial. Desde cedo cultivou o espírito de liderança e passou a comandar os negócios da família com o falecimento do pai, em 1856, e exercer o poder político após o casamento com o major Idelfonso Correia Lima, com quem teve 12 filhos. Manteve o poder político na região por longo tempo através dos casamentos arranjados por ela mesma entre seus filhos com as sobrinhas e as filhas com os filhos e sobrinhos de chefes políticos da região.
Momento marcante em sua história política foi quando teve que derrubar seu próprio filho -Honório Correia de Lima- da chefia da Intendência local, cargo equivalente a prefeito, em 1907. Na disputa política pelo poder em Lavras, seu filho Honório entrou em conflito com seu irmão, o coronel Gustavo Augusto Lima. Segundo este, a política do irmão se mostrava contrária a alguns interesses da família e entraram em conflito armado. A matriarca, chamada a encontrar uma solução, tomou o partido do coronel e enviou seus próprios homens à luta com ordens expressas para que não atirassem no filho Honório.
Ao final do conflito, Honório se rendeu e se mudou com a família para Fortaleza. O poder ficou com o coronel Gustavo e dividiu a família. A matriarca deve participação decisiva na “Sedição de Juazeiro”, movimento messiânico surgido quando o local despontava como cidade sagrada, também conhecida como “Nova Jerusalém”, para onde se dirigiam milhares de fiéis em busca dos milagres do Padre Cícero. Devido ao crescimento da cidade com os romeiros, deu-se o movimento de reivindicação de autonomia política do município com seu desligamento da cidade do Crato. A separação pacífica não foi possível e desencadeou a revolta da população contando com a liderança de Floro Bartolomeu e do Padre Cícero no embate com as forças do governo provincial, em princípios de 1912. O chamado “Pacto dos Coronéis” levou mais de 20 mil pessoas às ruas de Fortaleza e derrubou o governo de Antonio Nogueira Acióli em 24/1/1912.
Em seguida, o coronel Franco Rabelo foi eleito presidente da Província e o movimento de emancipação da cidade foi retomado com apoio dos fiéis do Padre Cícero, os homens de Floro Bartolomeu e um batalhão armado patrocinado por Fideralina. Foi decretado estado de sítio no Ceará e o conflito só terminou em março de 1914, com o envio de tropas do governo federal ao Ceará. Como troféu, Juazeiro foi elevada a categoria de cidade em 23/7/1914 e o Padre Cícero tornou-se a figura mais importante da região.
Alguns livros publicados em Fortaleza dão conta da trajetória política da matriarca: Fideralina Augusto: mito e realidade (2017), de Dimas Macedo; Uma matriarca do sertão: Fideralina Augusto Lima (2008), de Melquíades Pinto Paiva e A Vocação Política de Fideralina Augusto Lima (1991), de Rejane Augusto. Em sua crônica publicada na revista O Cruzeiro, Raquel de Queiroz disse que a matriarca lavrense “foi a mais famosa dona do Nordeste, e a senhora de maior cartaz do seu tempo... foi uma espécie de rainha sem coroa, foi uma legenda”. Hoje, no centro de Lavras é mantida a Casa-Museu de Dona Fideralina, recheada de fotos e uma biblioteca adquirida pelos herdeiros e aberta à visitação pública.