AS BRASILEIRAS: Enedina Marques
José Domingos Marques
Enedina Alves Marques nasceu em 13/1/1913, em Curitiba, PR. Professora, primeira engenheira negra no Brasil e primeira mulher engenheira com destacada atuação profissional em seu Estado.
Filha de Virgília Alves Marques e Paulo Marques, que chegaram a Curitiba em 1910. A mãe trabalhava como empregada doméstica na casa do major Domingos Nascimento Sobrinho, que tinha uma filha da mesma idade de Enedina. Como as duas famílias se davam bem, o major bancou os estudos de Enedina, para que ela fizesse companhia a sua filha. As duas concluíram o curso Normal em 1935 e passaram a lecionar no interior do Estado: São Mateus do Sul, Cerro Azul e Campo Largo.
De volta a Curitiba, em 1936, ingressou num curso supletivo e passou a morar (e trabalhar) na residência do casal Mathias e Iracema Caron, no bairro do Juvevê, seus novos benfeitores. Ela não era formalmente empregada da família, mas pagava a guarida com alguns serviços domésticos. Pouco depois, ingressou no curso complementar em pré-Engenharia no Ginásio Paranaense (atual Colégio Estadual do Paraná) no período noturno, enquanto ainda residia com a família Caron.
Em 1940 ingressou na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná e formou-se em Engenharia Civil, em 1945. Antes dela, apenas dois negros se formaram em engenharia naquela faculdade. No ano seguinte foi contratada como auxiliar de engenharia na Secretaria de Viação e Obras Públicas. Como funcionária pública ocupou os cargos de chefia da Divisão de Hidráulica e Divisão de Estatística. Em seguida, o governador Moisés Lupion concedeu-lhe transferência para o Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, onde trabalhou no Plano Hidrelétrico do Estado e atuou no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
Conta-se que sua melhor atuação como engenheira se deu na Usina Capivari-Cachoeira. Apesar de vaidosa, usava macacão nos canteiros de obras e carregava uma arma na cintura, e de vez em quando disparava tiros para o alto para se fazer respeitar entre os homens da construção. Posteriormente dedicou-se a engenharia civil e atuou com desenvoltura na construção do Colégio Estadual do Paraná e na Casa do Estudante Universitário de Curitiba. Em 1958, o major Domingos faleceu, deixando-a como uma de suas beneficiárias em seu testamento.
Devido a sua carreira profissional, foi entrevistada, em 1961, pelo sociólogo Octávio Ianni, para uma pesquisa intitulada “Metamorfoses do escravo”, financiada pela Unesco. Aposentou-se em 1962 e recebeu do governador Ney Braga o reconhecimento de seus feitos na Engenharia, garantindo-lhe proventos equivalentes ao salário de um juiz. Passou a residir num apartamento no centro de Curitiba até agosto de 1981, quando foi encontrada morta, vitimada por um infarto dias antes. Estima-se que tenha falecido em 20/8/1981. Não tinha parentes próximos, nunca se casou nem teve filhos.
O Diário Popular, um tabloide sensacionalista, fez uma longa matéria retratando-a apenas como uma idosa excêntrica sem importância alguma e causou grande indignação entre os membros do Instituto de Engenharia do Paraná, que resultou numa razoável polêmica na mídia local e relatando seu legado como engenheira. A partir daí vieram homenagens póstumas: seu nome foi dado a uma rua no bairro Cajuru; recebeu uma inscrição no Memorial à Mulher Pioneira, local construído pelas Soroptimistas, organização internacional dedicada aos direitos humanos, da qual participou; em 2006, foi fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá; denominação do trecho da PR-340 na cidade de Antonina. Uma breve biografia ressaltando sua vida profissional foi realizada por Lindamir Salete Casagrande e publicada pela Editora Verso em 2021.
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