AS BRASILEIRAS: Elisa Frota Pessoa
José Domngos Brito
Elisa Esther Habbema de Maia nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 17/1/1921. Física experimental e professora, foi uma das pioneiras da ciência no Brasil e uma das primeiras a se formar em Física. Foi cofundadora do CBPF-Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e destacou-se na área da Física Nuclear.
Filha de Elisa Habbema de Maia e Juvenal Moreira Maia, passou a se interessar pela ciência no curso ginasial, sob a influência do professor de Física Plinio Sussekind da Rocha. Ingressou no curso de Física da Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, atual UFRJ, e graduou-se em 1942. Já no segundo ano do curso, foi convidada pelo professor Joaquim da Costa Ribeiro para ser assistente e trabalhou sem renumeração até 1944, quando foi contratada pela universidade.
Aos 18 anos casou-se com seu ex-professor, o biólogo Oswaldo Frota-Pessoa, com quem teve dois filhos. Em 1951 separou-se do marido e passou a viver com o físico Jayme Tiommo, um nome reconhecido na área. Assim, passou a integrar uma plêiade de cientistas, tais como José Leite Lopes, Cesar Lattes e Mario Schenberg, promotores da ciência no Brasil. Não obstante o fato de ser uma cientista, sofreu preconceitos pelo fato de ser uma mulher separada numa época em que não havia divórcio.
Nos anos 1942-1969, teve participação ativa na luta para vencer o proconceito contra o trabalho da mulher, atuando como chefe da Divisão de Emulsões Nucleares do CBPF, que ajudou a fundar em 1949. Publicou seu primeiro artigo -Sobre a desintegração do méson pesado positivo- nos Anais da Academia Brasileira de Ciências, em 1950, junto com sua colega Neusa Margem, com o qual obteve pela primeira vez resultuados que apoiavam a teoria “V-A” das interações fracas. Noutro artigo, publicado em 1969, pôs fim a uma longa controvérsia sobre a possibilidade do “méson n” ter “spin” diferente de zero. Além destes trabalhos, colaborou com pesquisadores europeus no estudo dos “mésons K”.
Em 1965 mudou-se para Brasília, indo lecionar na UnB e pouco depois transferiu-se para a USP-Universidade de São Paulo, onde lecionou até abril de 1969, quando foi aposentada compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5, promulgado pela ditadura militar no ano anterior. Não podendo mais lecionar aqui, foi trabalhar na Europa e Estados Unidos, colaborando na formação de físicos brasileiros.
De volta ao Brasil, passou a colaborar na montagem de um laboratório de emulsões na PUC/SP-Pontifícia Universidade Católica junto com Ernst Hamburger, do IFUSP-Instituto de Física da USP. Em 1980 reassumiu seus trabalhos no CBPF e implantou um laboratório de emulsões nucleares para estudo da espectroscopia nuclear e permaneceu como professora emérita do Centro até 1995, aos 74 anos.
Faleceu em 28/12/2018, aos 97 anos, e deixou um legado científico composto de diversos artigos e estudos publicados nas principais revistas internacioanais. Sobre sua trajetória de vida, temos um belo ensaio biográfico -Elisa Frota-Pessoa: suas pesquisas com emulsões nucleares e a Física no Brasil- publicado na revista “Cosmo & Contexto”, de outubro de 2012, juntamente com uma entrevista comandada por Maria Borba e disponível na Internet.
Elisa Frota Pessoa, a menininha que adorava Física. - YouTube