AS BRASILEIRAS: Cora Coralina
José Domingos Brito
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas nasceu na Cidade de Goiás (ou Goiás Velho), GO, antiga capital do estado, em 20/8/1889. Poeta, contista e doceira, com seu estilo simples e alheio a escolas literárias, é considerada uma das maiores poetas brasileiras. Publicou seu primeiro livro aos 75 anos, mesmo escrevendo desde a adolescência.
Filha de Jacyntha Luiza do Couto Brandão e Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II. Concluiu apenas o curso primário e passou a escrever os primeiros textos aos 14 anos, publicando-os mais tarde em jornais da cidade e outros locais. Seus primeiros textos foram publicados no jornal Tribuna Espírita, do Rio de Janeiro, em 1905. Publicou seu primeiro poema –“A tua volta”- no semanário Folha do Sul, da cidade de Bela Vista, em 1906, e no semanário A Rosa, em 1907, fundado por ela junto com as amigas Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana.
Por essa época, frequentou o “Clube Literário Goiano” e escreveu o poema evocativo “Velho Sobrado”. O primeiro conto -Tragédia na roça”’- foi publicado em 1910, no Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás. Neste ano seu padrasto faleceu; a família passou por uns perrengues e ela adotou o pseudônimo “Cora Coralina”. Aos 22 anos conheceu o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo e fugiu com ele para Jaboticabal, SP, onde nasceram seus 6 filhos. Em 1922 ficou sabendo da Semana de Arte Moderna na capital e manifestou interesse em participar do evento, mas foi dissuadida pelo marido.
Dois anos depois, mudou-se para a capital em plena “Revolta Paulista”, comandada pelos tenentes contra o presidente Arthur Bernardes. Em 1926, casou-se de papel passado. Com o falecimento do marido, em 1934, vendeu a pensão que mantinham e passou trabalhar para o editor José Olympio na venda de livros. Pouco depois Mudou-se para Andradina; montou loja de retalhos de tecidos; comprou um sítio; candidatou-se a vereadora, mas não se elegeu. Retornou à Goiás em 1956, aos 67 anos, e voltou a viver em sua velha “Casa da Ponte”, no centro da cidade. Escreveu o panfleto “Cântico da volta”; retomou a escrita de poemas e passou por uma transformação que ela mesma definiu como a “perda do medo”.
Seu primeiro livro publicado -Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965), aos 75 anos, pela Editora José Olympio, foi bem recebido pelo público e crítica. Porém foi com a 2ª edição, em 1978 pela Editora da UFGO, que passou a ser admirada em todo o País. A edição primorosa foi saudada por Carlos Drummond de Andrade numa crônica publicada no Jornal do Brasil, em 27/12/1980, após ler seu poema “Vintém de cobre”: "Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia”.
A 3ª edição saiu em 1980 pela Editora da UFGO, incluída na “Coleção Documentos Goianos”. Pouco depois publicou Vintém de cobre: meias confissões de Aninha (1983) pela Editora Global. Por essa época, aos 95 anos, a saúde deu sinais de alerta e veio a falecer, lúcida, em 10/4/1985. A casa onde viveu, no centro da cidade, foi transformada em “Museu Casa de Cora Coralina”, em 20/8/1989, na comemoração do centenário de seu nascimento. 20 anos depois, O Museu da Língua Portuguesa prestou-lhe homenagem com a exposição “Cora Coralina – Coração do Brasil”, em 2000. Em Goiás, a Secretaria de Turismo inaugurou o “Caminho de Cora” (caminho dos antigos bandeirantes), um trecho de 300 km. ligando Vila Boa a Corumbá de Goiás.
Em 2019, na comemoração do seu 130º ano de nascimento, o Governo de Goiás decretou o “Ano Cora Coralina”. Deixou mais de 15 livros publicados e bastante material inédito em seus cadernos escolares para alguns livros póstumos. Conta com dezenas de obras biográficas, críticas literárias, teses e dissertações publicadas: Cora coragem; Cora poesia, de Vicência Bretas Tahan (Ed. Global, 1989), Cora Coralina: celebração da volta, de Darcy França Denófrio e Goiandira Ortiz de Camargo (Cânone Editorial, 2006) e Cora Coralina: raízes de Aninha, de Clóvis Carvalho Britto (Ed. Ideias & Letras, 2011) entre outros.
Foi contemplada com diversos prêmios e títulos: Doutora Honoris Causa pela UFGO (1983); Intelectual do Ano, com o Prêmio Juca Pato, da UBE-União Brasileira dos Escritores (1983); condecoração póstuma com a Ordem do Mérito Cultural do Governo de Goiás (2006). Em seu túmulo no cemitério São Miguel, na Cidade de Goiás, está registrado:
“Não morre aquele
Que deixou na terra
A melodia de seu cântico
Na música de seus versos”
Cora Coralina -Todas as vidas dentro de mim