Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu em Portugal em 24/4/1930 e naturalizou-se brasileira em 1957. Matemática, economista, política, professora e escritora. Atuou com destaque na politica ecônomica brasileira desde o Plano de Metas, do governo Kubitschek, em 1960, até o governo Lula 3, em 2024. Foi deputada federal pelo PT-Partido dos Trabalhadores, em 1995-1999, e autora de diversos livros sobre desenvolvimmento econômico.
Filha de Maria Augusta de Almeida Caiado e Fausto Rodrigues Tavares, anarquista durante a era Salazar em Portugal. Iniciou o curso de Engenharia na Universidade de Lisboa, mas logo transferiu-se para as Ciências Matemáticas. Fugindo da ditadura salazarista, mudou-se para o Brasil em 1954. No Rio de Janeiro, passou a participar da política através das atividades e debates da SBPC-Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Não conseguindo a equivalência de diplomas para poder lecionar em universidades brasileiras, foi trabalhar como estatística no atual INCRA-Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. No ano em que naturalizou-se, ingressou no curso de Economia da Universidade do Brasil, atual UFRJ, e no ano seguinte tornou-se Analista de Matemática do BNDES-Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social até 1960. Neste periodo integrou o GEIMAPE-Grupo Executivo da Indústria Mecânica Pesada, um dos grupos no período do Governo Kubitschek.
O grupo era ligado ao Conselho do Desenvolvimento, órgão central ligado à presidência da República, encarregado de elaborar e coordenar os programas setoriais da política econômica do Governo. Em seu trabalho teve influência de 3 economistas renomados: Celso Furtado, Caio Prado e Ignácio Rangel. Publicou centenas de artigos, muitos deles reunidos em livros. No ensaio Além da estagnação (1972), demonstrou que era possível atingir elevado crescimento econômico, conforme o “milagre econômico” da época, embora com aumento ainda maior da concentração de renda.
Em fins dos anos 1960 chefiou o escritório da CEPAL-Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe no Brasil e foi designada para ocupar o escritório central da CEPAL, no Chile, onde também foi convidada a lecionar na Escolatina, ligada a Universidade do Chile, em 1968. Assim, escapou da prisão ou punição, com o AI-5. Em 1972 licensiou-se da CEPAL para iniciar uma pós-graduação na Sorbonne, em Paris e retornou ao Chile para trabalhar na assessoria econômica do governo de Salvador Allende. Em fins do ano seguinte foi lecionar na UNAM-Universidade Autônoma do México e voltou a trabalhar no escritório da CEPAL.
Ao embarcar, em 1974, no aeroporto do Galeão para uma reunião no Chile, foi detida e presa por alguns dias pelos agentes da Ditadura Militar. Foi libertada por intervenção direta dos ministros Severo Gomes e Mário Henrique Simonsen, junto ao presidente Ernesto Geisel. Na década de 1980, assessorou o PMDB enquanto lecionava no Instituto de Economia da Unicamp-Universidade de Campinas e implantava os cursos de mestrado e doutorado. Por esta época trabalhou na elaboração do Plano Cruzado, em 1986, e chegou a chorar de emoção, em rede nacional, por considerar que o plano não era prejudicial aos assalariados.
Nos anos 1993-2004 comandou a coluna semanal “Lições Contemporâneas” no jornal Folha de São Paulo, com algumas críticas ao Plano Real. Em 1994 foi eleita deputada federal pelo PT-Partido dos Trabalhadores. Ao longo de 60 anos formou uma geração de economistas e líderes políticos, dentre os quais: José Serra, Carlos Lessa, Luciano Coutinho, Luis Gonzaga Beluzzo, Aloísio Teixeira, Edward Amadeo, Dilma Rousseff. Era uma respeitada economista, muitas vezes vista como temperametal, dado o caráter incisivo de suas afirmações: “Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata”, trecho de uma entrevista no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Dentre seus livros, vale destacar Da substituição de importações ao capitalismo financeiro: ensaios sobre economia brasileira (1975) Ed. Zahar; Desajuste global e modernização conservadora (1996) Ed. Paz e Terra e Acumulação de capital e industrialização no Brasil (1998) Unicamp. Foi agraciada com diversos prêmios e comendas: Grande Oficial da Ordem de Rio Branco; Medalha de Honra da Inconfidência; Grau de Comendador, Governo de Portugal; Medalha Bernardo O’Higgins, Governo do Chile; Prêmio Visconde de Cairu, da UFRJ; Prêmio Jabuti; Medalha Pedro Ernesto entre outros.
Faleceu em 8/6/2024 e segundo a publicação inglesa A biographical dictionary of dissenting economist, do ano 2000, ela é uma das quatro mulheres selecionadas entre os 100 mais importantes economistas heterodoxos mundiais do século XX e a única mulher da América Latina. Um bom apanhado de sua vida e obra ficou registrado no livro Maria da Conceição Tavares: vida, ideias teorias e política, organizado por Hildete Pereira de Melo, publicado em 2019 pela Fundação Perseu Abramo.
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