AS BRASILEIRAS: Carolina Florence
José Domngos Brito
Carolina Krug Florence nasceu em 21/3/1828, em Kassel, Alemanha. Professora e distinguida pedagoga colaborando na fundação do Colégio Culto à Ciência, em Campinas (SP). Em 1863 fundou sua própria escola, o Colégio Florence com ajuda do marido, o cientista Hércules Florence, um dos inventores da fotografia.
Filha Elizabeth Debus e João Henrique Krug, demonstrava extraordinária capacidade intelectual e interesse pela Literatura e História. Manifestava determinação na escolha profissional e dedicou-se ao magistério. Teve os primeiros estudos na Escola Ruppel e mudou-se para a Suíça, onde ingressou numa escola de moças, o Instituto de Madame Niederer, e foi aluna de um discípulo de Pestalozzi, já famoso na época devido ao seu método inovador. Até os 24 anos, teve diversas oportunidades profissionais.
Em Altona (Suiça), lecionou no Instituto Biernatriski por 3 anos e chegaram a lhe oferecer o cargo de diretora da instituição. Não pôde aceitar devido a viagem que a família empreendeu, em 1852, para o Brasil, motivada pela perseguição política sofrida pelo pai por ser “liberal”. Vieram juntar-se ao seu irmão mais velho, Vice-Cônsul da Suiça na Província de São Paulo. Em 1854 casou-se com Hércules Florence e manteve o sonho de criar uma escola no Brasil nos moldes daquela que frequentou na Europa.
Em 1863 fundou o Colégio Florence voltado para a educação feminina. Uma escola diferenciada, com aplicação do método Pestalozzi. O Colégio ficou conhecido e famoso em pouco tempo e recebeu a visita de Dom Pedro II em duas ocasiões (1875 e 1886) em grandes festividades envolvendo a cidade. Sua história encontra-se registrada no livro -A educação feminina durante o século XIX: o Colégio Florence de Campinas 1963-1889-, de Arilda Inês Miranda Ribeiro, publicado na Coleção Campiniana, do Centro de Memória da Unicamp, em 2006.
Em 1889, durante a epidemia de febre amarela, que dizimou cerca de dois terços da cidade, transferiu o Colégio para Jundiaí, onde se manteve até 1928. De formação protestante, nunca estimulou o proselitismo no seu Colégio e procurava incentivar o ecumenismo religioso e cultural. Ao contrário dos colégios religiosos em que as alunas tinham, na maioria das vezes, apenas freiras, no Colégio Florence o contato com os professores favorecia uma educação mais voltada para a realidade social. Vale dizer que na época emergia a necessidade da educação feminina, recomendada pelo escritor José Veríssimo. No entanto, em seu livro A educação nacional, (1906) ele deixava claro que “dado serem as mulheres menos inteligentes do que os homens, elas não devem receber instrução em matemática e outras disciplinas científicas.”
O que diferenciava sua escola era o fato de ser um espaço de aprendizagem da vida cultural. Nos internatos religiosos o estímulo à educação se encontrava na assimilação e dogmas, rezas, abnegação, santificação da mulher; enquanto no Colégio Florence, por ser laico, tratava suas alunas como mulheres para viverem no espaço privado e público. Além disso, procurava absorver dos novos métodos que foram surgindo, contribuições para a melhoria do ensino. Permitia assim, que o corpo docente da instituição elaborasse seus programas de ensino livremente. A abertura às ideias que chegavam com novos professores sempre foi bem recebida.
Desde o início, procurou manter um corpo de professores qualificados. Entre os docentes que passaram por lá destacam-se Hercule Florence, Julio Ribeiro, Rangel Pestana, João Kopke, Emílio Giorgetti, Armelina Lamaneres, Leonor Gomes, Ana Krug Kupfer, Augusta e Isabel Florence, entre outros. Viajou várias vezes à Europa para recrutar professores franceses e ingleses. No ano de 1889, com o início da epidemia de febre amarela que deixou a cidade de Campinas em pânico, Carolina foi prudente. Para evitar o pior, fechou temporariamente as portas do Colégio, e mandou as alunas de volta às famílias, evitando que corressem o risco da doença que dizimou cerca de dois terços da população em um ano.
A atitude foi elogiada pela imprensa e serviu de exemplo para que outras instituições tomassem as mesmas medidas. Pouco depois o Colégio reabriu em Jundiaí e continuou nos moldes idealizado por sua fundadora até 1928, quando foi transformado em Escola Normal Livre. Após 33 anos dedicados a educação, decidiu afastar-se da direção, deixando o cargo com as professoras Hermínia Michaelis, Cecília Almeida e Augusta Florence, sua filha. Em 1907 retornou a Europa para tratar da saúde. Foi viver em Florença, onde veio a falecer em abril de 1913, aos 85 anos. Na falta de uma biografia mais completa, seu legado pode ser visto no link Carolina Krug Florence: a alemã que dedicou a vida à educação feminina no séc XIX