Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em Marco de Carnaveses, Portugal, em 9/2/1909, Cantora e atriz intérprete de si mesma, devido a fama alcançada com seu estilo pessoal incorporado ao artístico. No Brasil ficou conhecida com a “pequena notável” e nos EUA como a “explosão brasileira” (“The Brazilian Bombshell”), no momento em que o Brasil surgia no Mundo. Chegou ao Rio de Janeiro com 10 meses de idade e foi morar na Travessa do Comércio, onde a mãe montou uma pensão. O pai era barbeiro e seis anos depois mudaram-se para a Lapa, reduto boêmio da metrópole que surgia. Trabalhou numa chapelaria e gostava e cantarolar no serviço. Por isto foi despedida e passou a cantar pra valer com seu “chapéu” escandalosamente brasileiro.
Assim, imprimiu uma identidade ao Brasil, que permanece até agora: alegria esfuziante, cordialidade, musicalidade, exotismo. O “Movimento Tropicalista” confirmou o estilo brasileiro na voz de Caetano Veloso: “Viva a bossa, tá, tá, Carmen Miranda, tá, tá, tá tá!”. Nesse meio tempo tivemos Juscelino, um “presidente bossa nova”. “Bossa” é uma palavra existente apenas no Brasil, saudades daquela época. “Saudade” é outra palavra existente apenas no idioma português.
Os primeiros estudos se deram na escola de freiras Santa Tereza, onde demonstrou seu talento no coral da escola. Aos 14 anos trabalhou numa loja de gravatas, e depois como aprendiz de chapeleira na “Maison La Femme Chic”, de Madame Boss.
Aos 19 anos foi apresentada pelo deputado baiano Aníbal Duarte ao compositor Josué de Barros, que passou a promovê-la em teatros e clubes. Logo veio o primeiro disco, gravado em 1929 pela RCA Victor, com as músicas “Dona Balbina e “Triste Jandaia”. No ano seguinte alcançou o sucesso com a marcha de carnaval “Pra você gostar de mim” (”Taí”), composição de Joubert de Carvalho, que levou-a ao estrelato. O disco vendeu 35 mil cópias, sendo aclamada a maior cantora do País. Foi a primeira artista a assinar um contrato de trabalho com uma emissora de rádio no País, a Rádio Mayrink Veiga. Pouco depois já era reconhecida como uma das principais cantoras no âmbito internacional. Em 1936 transferiu-se para a Rádio Tupi afim de alavancar a carreira, que chegou às telas do cinema.
No mesmo ano estrelou no filme “Alô, alô carnaval”, onde ela e a irmã Aurora interpretam as “Cantoras do rádio”, sucesso imediato em todo o País. Ainda em 1936 passaram a integrar o elenco do Cassino da Urca, os palcos do Rio de Janeiro e de Buenos Aires. Em 1939 Dorival Caymmi compôs “O que é que a baiana tem?” No mesmo instante virou produto de exportação brasileira Uma música feita sob medida para ela cantar, dançar e mostrar o traje da baiana, que virou artigo de exportação para os EUA. No mesmo ano, Lee Shubert, produtor da Broadway, ofereceu-lhe um contrato de oito semanas para se apresentar no programa “The Streets of Paris”, em Boston. O contrato não foi assinado de imediato porque ela fazia questão de levar seu grupo, o Bando da Lua, junto; enquanto o produtor estava interessado apenas nela. O impasse foi resolvido com a intervenção de Alzira Vargas, filha do presidente, que garantiu o embarque de todos em 4/5/1939, às vésperas da II Guerra Mundial
Vê-se aí o interesse do Governo Vargas em divulgar a imagem e identidade cultural do País no exterior e para isso garantiu o suporte que fosse necessário. Assim tem início uma próspera carreira internacional. No ano seguinte, fez sua estreia no cinema estadunidense, com o filme “Serenata tropical”, contracenando com Dom Ameche e Betty Grable. Os norte-americanos ficaram encantados e em poucos meses ela foi eleita a 3ª personalidade mais popular dos EUA. Em 5/3/1940 foi convidada junto com seu grupo numa apresentação para o presidente Franklin Roosevelt, num banquete na Casa Branca. Chegou a ser a artista mais bem paga de Hollywood. Foi destaque principal na boate “Copacabana Night Club”, aberto em 1940, onde os norte-americanos ficavam extasiados com seu charme e exuberância.
A partir daí até 1953 atuou em 14 filmes em Hollywood e esteve nos mais importantes programas de rádio, TV e teatros dos EUA. Tornou-se a primeira sul-americana a ter uma estrela na Calçada da Fama e a primeira latino-americana a imprimir suas mãos e pés no pátio do Grauman’s Chinese Theatre, em 1941. Após viver tantos anos nos EUA, não só falava bem inglês como não tinha sotaque estrangeiro. Mas os produtores de shows insistiam para que ela se apresentasse com o dito sotaque. Desse modo é que a pessoa acabou sendo suplantada pelo mito que representava. Em tais condições restou pouco espaço à mudança que ela própria naturalmente poderia ter conseguido, noutras condições, como intérprete e enquanto indivíduo. Em 1947 casou-se com o norte-americano David Sebastian, produtor de cinema, que também foi seu desastrado empresário.
Os biógrafos apontam o casamento como o início do comprometimento de sua saúde, quando passou a beber junto com o marido alcoólatra, além de usar barbitúricos para dar conta de uma extenuante agenda de shows e compromissos. Em 1954 retornou ao Brasil e fez um tratamento de desintoxicação no Rio de Janeiro. Após breve melhora retornou aos EUA, mas seguiu dependente dos remédios. Para complicar a saúde, passou a sentir depressão. Em 4 de agosto de 1955, ao participar de uma gravação para o programa do comediante “Jimmy Durante Show”, sentiu um ligeiro mal-estar enquanto dançava. Ao voltar para casa ainda jantou, cantou e encantou alguns amigos. Foi dormir cedo nesta noite e não acordou. Na madrugada de 5/8/1955 faleceu devido a um alegado ataque cardíaco fulminante. Foi encontrada pela manhã sem vida com apenas 46 anos.
Na Califórnia foi realizado um velório reservado antes do corpo ser transladado para o Rio de Janeiro. Mais de 500 mil pessoas acompanharam seu funeral até o Cemitério São João Batista. No ano seguinte foi criado oficialmente o Museu Carmen Miranda, no Parque do Flamengo, contendo mais de três mil itens. Em 1995 recebeu o título póstumo de Grande-Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, outorgado pelo presidente de Portugal. No mesmo ano sua memória foi resgatada através do premiado documentário “Banana is my business”, dirigido por Helena Solberg. Recebeu inúmeras homenagens, aqui e nos EUA, e diversas biografias, dentre as quais destaca-se a realizada por Ruy Castro, publicada em 2005: Carmen: uma biografia – A vida de Carmen Miranda, a brasileira mais famosa do século XX. Em 2007, a BBC produziu o documentário Carmen Miranda: Beneath the Tutti Frutti Heat, uma excepcional videobiografia. No centenário de seu nascimento, em 2009, a Academia Brasileira de Letras prestou-lhe homenagem declarando-a “Patrimônio da Cultura Brasileira”.