Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa nasceu em Rio Negro, PR, em 5/12/1908. Diplomata e poliglota, trabalhou no consulado brasileiro em Hamburgo, Alemanha. Ficou conhecida como “O Anjo de Hamburgo”, devido a ajuda que prestou a muitos judeus a entrarem ilegalmente no Brasil a partir de 1938, com a proibição estabelecida no Governo Vargas.
Filha de Sidonie Moebius de Carvalho e Amadeu Anselmo de Carvalho, dono do Grande Hotel de Guarujá, onde passou a infância. Casou-se aos 22 anos com Johann Eduard Ludwig Tess, com quem teve um filho e separou-se 5 anos depois, indo morar com a tia na Alemanha. Dominando 4 idiomas, foi trabalhar no consulado brasileiro, chefiando a Seção de Passaportes. Em 1938 passou a vigorar no Brasil a circular secreta nº 1.127, restringindo a entrada de judeus no País. Ela ignorou a restrição e não colocava a letra “J”, identificando quem era judeu, nos vistos de entrada, permitindo com isto a livre entrada no Brasil.
Por essa época conheceu João Guimarães Rosa, cônsul adjunto, e passaram viver juntos até 1942, quando o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha e apoiou os países aliados na II Guerra Mundial. Devido a eclosão da guerra, o retorno ao Brasil teve algumas dificuldades. Ficaram 4 meses sob custódia do governo alemão e só foram liberados após uma troca por diplomatas alemães. Como ambos eram divorciados, tiveram que se casar no México.
Aracy ficou conhecida pela ajuda que prestou aos judeus, salvando-os do Holocausto. Mas pouco se fala de sua importância na vida do marido como escritor. As pesquisadoras Elza Miné, da USP-Universidade de São Paulo, e Neuma Cavalcanti, da UFC-Universidade Federal do Ceará, estudaram as cartas do casal e encontraram informações reveladoras: “Serás tudo para mim: mulher, amante e companheira. Sim, querida, hás de ajudar-me a escrever os nossos livros. Tu mesma não sabes o que vales. Eu sei. Serás, além de inspiradora, uma colaboradora valiosa, apesar ou talvez mesmo por não teres pretensões de ‘literata pedante”, escreveu Rosa em 1942.
Noutra carta, de 1946, escreveu: “O teu, o nosso Sagarana está quase pronto. Pegue um exemplar para nós. Seria uma alegria dupla: a chegada de ARA e SAGARANA. Mas em caso de perigo, joga fora o Sagarana e venha só a ARA, que é 300 bilhões de vezes mais importante para mim”. Sua obra prima Grande Sertão: Veredas foi dedicada a ela em 1956. Conta-se que ela não apenas revisava os textos do escritor; eventualmente modificava algumas partes.
Anos depois ela voltou a ajudar perseguidos políticos. Em 1964, após o Golpe Militar, deu guarida a alguns intelectuais e compositores, como Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga. Em 8/7/1982, o governo de Israel incluiu seu nome no Jardim dos “Justos entre as Nações” do Museu do Holocausto, devido a sua bravura na salvação de muitos judeus do extermínio comandado pelo nazismo. A homenagem foi realizada, também, no Museu do Holocausto de Washington, nos EUA.
Ficou viúva em 1967 e mais tarde foi acometida pelo mal de Alzheimer, vindo a falecer em 28/2/2011, aos 102 anos. Foi sepultada no Mausoléu da ABL-Academia Brasileira de Letras, ao lado de seu marido. No mesmo ano a historiadora Mônica Schpun lançou sua biografia enfatizando o feito heroico: Justa: Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: Trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil, publicado pela editora Civilização Brasileira, em 2011.
A história de Aracy foi retratada também no documentário “Esse viver ninguém me tira”, de Caco Ciocler, produzido em 2014, à disposição no Youtube. O governo brasileiro entrou no rol das homenagens, em 2019, quando os Correios fizeram circular 54 mil selos especiais com sua imagem estampada. Mais tarde, a TV Globo em parceria com a Sony Pictures Television, exibiu a minissérie Passaporte para a liberdade, em 2021, mostrando sua trajetória.