AS BRASILEIRAS: Anesia Pinheiro Machado
José Domingos Brito
Anesia Pinheiro Machado nasceu em Itapetininga, SP, em 5/6/1904. Jornalista, taquígrafa e aviadora, foi a primeira mulher a realizar um voo com passageiro; primeira brasileira a realizar um voo acrobático e decana mundial da aviação feminina. Foi também pioneira como atriz do cinema mudo e ativista do movimento de emancipação da mulher ao participar do Primeiro Congresso Internacional Feminista, representando a Liga Paulista pelo Progresso Feminino, em 1922.
Filha de Aurélia de Vasconcelos Pinheiro Machado e Gustavo Pinheiro Machado, teve os primeiros estudos em sua cidade natal. A paixão pela aviação se deu em 1920, na “Festa do Divino”, quando um piloto norte-americano a convidou para dar um passeio em seu avião. No ano seguinte voltou a voar com outro piloto, de quem recebeu informações sobre o curso de pilotagem. Aos 17 anos mudou-se para São Paulo e iniciou o curso, tendo como instrutor o piloto alemão Fritz Roesler. Seu primeiro voo solo se deu em 17/3/1922, pilotando um biplano Caudron G.3., e recebeu o brevet do Aero Club do Brasil no mês seguinte, junto com Thereza de Marzo, as duas primeiras brasileiras a terem licença de voo.
No mesmo ano, nas comemorações do centenário da Independência, realizou o primeiro voo São Paulo-Rio de Janeiro, onde participou do show de acrobacias aéreas. Na ocasião foi homenageada por Santos Dumont, que lhe deu uma medalha de ouro, réplica de uma que ele recebeu da Princesa Isabel. O fato foi relevante também para a causa feminista, devido a sua participação nos eventos feministas realizados naquele ano. Dois anos após, participou da Revolta Paulista de 1924 ao lado dos capitães Joaquim e Juarez Távora, chegando a ser detida pelas tropas revoltosas.
Sua participação na Revolta deu-se com um voo sobre as tropas legalistas e sobre o encouraçado Minas Geraes, jogando flores e panfletos com a frase "E se fosse uma bomba?". Por conta disso, foi proibida de voar. Por isso, no período 1927-1928, voltou ao jornalismo e manteve um coluna sobre aviação no jornal O Paiz; trabalhou no DIP-Departamento de Imprensa e Propaganda e na Assembleia Legislativa, voltando a voar somente em 1939. Em seguida realizou um voo acrobático que impressionou a fundadora da Women’s International Association of Aeronautics, Elizabeth Lippincott McQueen, em 1940. No mesmo ano obteve licenças de piloto privado e piloto comercial do DAC-Departamento de Aviação Civil e 2 anos após, obteve a licença de piloto instrutor pelo Aeroclube do Brasil.
Recebeu, em 1943 durante a II Guerra Mundial, convite da FAA-Federal Aviation Administration para realizar um curso avançado de aviação nos EUA e trabalhou como piloto e instrutora de voo na Panair do Brasil, de 1944 a 1948 e no CPOR-Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, da FAB-Força Aérea Brasileira. São diversos feitos e pioneirismos na aviação: travessia da Cordilheira dos Andes e uma viagem transcontinental pelas três Américas, em 1951; proclamada “Decana Mundial da Aviação Feminina”, pela Federação Aeronáutica Internacional, durante a Conferência de Istambul, em 1954. Na ocasião recebeu o Diploma “Paul Tissander”, pioneiro da aviação francesa.
No livro Frontier by air (1942), a escritora e jornalista Alice Roger Hager deixou registrado que “Anesia is the finest pilot in the country, there was no question abour her ability. When we went to the Aero Club she took a little Bucher up and outflew any women stunt pilot I have ever seen”. Foi homenageada nos EUA como cidadã honorária em diversos estados: Missouri, Oklahoma, Iowa, Louisiania e Kansas. Entre nós, recebeu o título de Cidadã Carioca e Paulistana. Recebeu dezenas de condecorações civis e militares, brasileiras e estrangeiras. Sua cidade natal, orgulhosa de seus feitos, exibe hoje sua estátua em tamanho natural no Largo dos Amores.
Faleceu em 10/5/1999, aos 95 anos. Perguntada diversas vezes por que dedicou-se à aviação, dizia: “O meu desejo de voar talvez seja fruto do meu anseio, sempre cada vez mais intenso, de me elevar, de sair da banalidade do viver comum. É o incontido ímpeto de minha alma, que me impulsiona e me leva a procurar as emoções mais fortes do voo. A vida corriqueira não me satisfaz; ando sempre em busca de alguma coisa nova. É essa faceta de minha personalidade que dirão inconstante, que fez com que eu me dedicasse à aviação”.