Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial domingo, 20 de outubro de 2024

AS BRASILEIRAS: Ana Jansen (CRÔNICA DO COLUNISTA JOSÉ DOMINGOS BITO)

AS BRASILEIRAS: Ana Jansen

José Domingos Brito

Ana Joaquina Jansen Pereira, conhecida como Donana por seus escravizados, nasceu em São Luís, MA, em 1798. Empresária e politica, rica proprietária de terras. Foi uma personagem controversa na história. Conta-se que devido a crueldade com seus escravizados, foi criada uma lenda sobre seu espírito vagando pelas ruas de São Luís, conduzindo uma carruagem fantasma.

 

 

Filha de Rosa Maria Jansen Muller e Vicente Gomes de Lemos Albuquerque, uma família descendente de holandeses e portugueses instalada na Província do Maranhão. Na adolescência teve um filho de pai desconhecido, tornando-se “desonrada”, e expulsa de casa pelo pai com o filho recém-nascido. Após passar por uns perrengues e grandes dificuldades, tornou-se amante por muitos anos do rico coronel Isidoro Rodrigues Pereira, pertencente à família mais rica da região. Deste relacionamento duradouro, surgiram alguns filhos, passando de amante a esposa após a morte da primeira mulher do coronel, que aceitou criar seu filho sem pai. Ele a sustentava, lhe deu casa e uma vida digna para criar seu filho. No entanto, era alvo de preconceito por criá-lo sozinha, morando na casa cedida pelo coronel.

O relacionamento era mal visto pela vizinhança na sociedade moralista da época, personificada acima de tudo por sua maior inimiga: Dona Rosalina Ribeiro, que conservava a moral e os bons costumes com muito rigor. Não admitia uma mulher não ser casada, ter filho de um homem que ninguém sabe quem é e ser amante de outro, ainda casado. Tal comportamento chocava as mulheres da época, que se casavam cedo e levavam uma vida de submissão ao marido. Após a morte de sua esposa, o coronel assumiu oficialmente a relação e permaneceram juntos por 15 anos, até a morte do marido, que deixou 6 filhos para criar. Aos poucos, ela passou a ser aceita e até respeitada pela sociedade local. Assim, tornou-se uma viúva rica e poderosa senhora proprietária de terras, escravos e líder política até que chegou a ficar conhecida como “Rainha do Maranhão”.

Empreendedora e ciente de seu poder econômico, assumiu o controle da Fazenda Santo Antônio e tempos depois conseguiu triplicar a fortuna herdada. Em seguida passou a ser uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior número de escravos da região. Implantou um sistema de distribuição de água substituindo o anterior, cobrando a população pela prestação deste serviço por um período de 15 anos. Perseverante e ambiciosa, transformou o dinheiro em poder, assumindo a liderança política da cidade e reativando o esfacelado partido liberal Bem-te-Vi (nome do jornal do partido), passando a comandá-lo.

Além de empresária, era hábil na política, costurando acordos nos bastidores entre alguns líderes locais. Durante a revolta da Balaiada (1828-1841), conta-se na história que ajudou a financiar o exército comandado pelo Duque de Caxias, enviado para conter a revolta, uma das mais longas durante o Império. No âmbito local, manteve forte rivalidade política com o Comendador Meireles, líder do Partido Conservador. Seu temperamento forte, explosivo e competitivo, além de sua capacidade de liderança, alcançaram a corte de D. Pedro II, onde ficou conhecida como “Rainha do Maranhão”. Passou, também, a ficar famosa pela dureza com que tratava os inimigos e pelo autoritarismo extremado com seus funcionários e escravizados. Era voz corrente entre seus opositores de que não tinha piedade de quem atrapalhasse seus planos, e açoitava os negros que não a obedeciam, mutilando-os.

Embora haja certo consenso sobre sua crueldade, de acordo com o historiador Rodrigo do Norte, muitos dos relatos seriam exagerados. Ela não era mais cruel que a média dos escravagistas de sua época. Com a fama espalhada na região, tornou-se vaidosa e requereu o título nobiliárquico de Baronesa de Santo Antonio, local onde mantinha a fazenda principal, ao Imperador Dom Pedro II, que lhe foi negado. Após a morte do coronel Isidoro, seu marido, ela foi amante, por alguns anos, do Desembargador Francisco Vieira de Melo e teve mais 2 filhos. Assim, foi matriarca de uma família de 11 filhos. Ela não via nada demais em ser amante e nem ligava para o que as mulheres casadas diziam. Sempre aparecia grávida diante todos, que ficavam chocados

Mais tarde, já aos 60 anos, casou-se pela segunda vez oficialmente com o comerciante paraense Antônio Xavier e faleceu em 11/4/1869. Atualmente, em São Luís, existem ruas com o seu nome e uma lagoa em sua homenagem: a Lagoa da Jansen, um dos principais pontos de lazer da cidade. No folclore de São Luís, existe uma lenda sobre a carruagem de Ana Jansen. De acordo com esta lenda, por maltratar seus escravizados, ela foi condenada a vagar perpetuamente pelas ruas da cidade numa carruagem assombrada. O coche maldito partiria do cemitério do Gavião, em noites de quinta para sexta-feira. Um escravo sem cabeça conduziria a carruagem, puxada por cavalos também decapitados ou uma mula-sem-cabeça em outras versões.

Ana Jansen ficou muito conhecida no Maranhão, fazendo com que a hsitória de sua vida fosse mitificada ao longo do tempo, levando a exageros ampliados pelo folclore. Diante de tais exageros, duas historiadoras - Elizabeth Souza Abrantes e Sandra Regina Rodrigues Santos - empreenderam uma pesquisa embasada em fatos e documentos, que resultou no livro A Senhora do Maranhão: uma biografia de Ana Jansen, publicado pela editora da UEMA, em 2023. A biografia foi resenhada e publicada – SALVE ANA, SALVE DONANA: um olhar sobre a biografia da Senhora do Maranhão, Ana Jansen – por Nila Michele Bastos Santos na revista Outros Tempos, vol. 21, nº 37, 2024, que pode ser acessada clicando aqui.


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