Ana Joaquina Jansen Pereira, conhecida como Donana por seus escravizados, nasceu em São Luís, MA, em 1798. Empresária e politica, rica proprietária de terras. Foi uma personagem controversa na história. Conta-se que devido a crueldade com seus escravizados, foi criada uma lenda sobre seu espírito vagando pelas ruas de São Luís, conduzindo uma carruagem fantasma.
Filha de Rosa Maria Jansen Muller e Vicente Gomes de Lemos Albuquerque, uma família descendente de holandeses e portugueses instalada na Província do Maranhão. Na adolescência teve um filho de pai desconhecido, tornando-se “desonrada”, e expulsa de casa pelo pai com o filho recém-nascido. Após passar por uns perrengues e grandes dificuldades, tornou-se amante por muitos anos do rico coronel Isidoro Rodrigues Pereira, pertencente à família mais rica da região. Deste relacionamento duradouro, surgiram alguns filhos, passando de amante a esposa após a morte da primeira mulher do coronel, que aceitou criar seu filho sem pai. Ele a sustentava, lhe deu casa e uma vida digna para criar seu filho. No entanto, era alvo de preconceito por criá-lo sozinha, morando na casa cedida pelo coronel.
O relacionamento era mal visto pela vizinhança na sociedade moralista da época, personificada acima de tudo por sua maior inimiga: Dona Rosalina Ribeiro, que conservava a moral e os bons costumes com muito rigor. Não admitia uma mulher não ser casada, ter filho de um homem que ninguém sabe quem é e ser amante de outro, ainda casado. Tal comportamento chocava as mulheres da época, que se casavam cedo e levavam uma vida de submissão ao marido. Após a morte de sua esposa, o coronel assumiu oficialmente a relação e permaneceram juntos por 15 anos, até a morte do marido, que deixou 6 filhos para criar. Aos poucos, ela passou a ser aceita e até respeitada pela sociedade local. Assim, tornou-se uma viúva rica e poderosa senhora proprietária de terras, escravos e líder política até que chegou a ficar conhecida como “Rainha do Maranhão”.
Empreendedora e ciente de seu poder econômico, assumiu o controle da Fazenda Santo Antônio e tempos depois conseguiu triplicar a fortuna herdada. Em seguida passou a ser uma das maiores produtoras de algodão e cana-de-açúcar do Império, além de possuir o maior número de escravos da região. Implantou um sistema de distribuição de água substituindo o anterior, cobrando a população pela prestação deste serviço por um período de 15 anos. Perseverante e ambiciosa, transformou o dinheiro em poder, assumindo a liderança política da cidade e reativando o esfacelado partido liberal Bem-te-Vi (nome do jornal do partido), passando a comandá-lo.
Além de empresária, era hábil na política, costurando acordos nos bastidores entre alguns líderes locais. Durante a revolta da Balaiada (1828-1841), conta-se na história que ajudou a financiar o exército comandado pelo Duque de Caxias, enviado para conter a revolta, uma das mais longas durante o Império. No âmbito local, manteve forte rivalidade política com o Comendador Meireles, líder do Partido Conservador. Seu temperamento forte, explosivo e competitivo, além de sua capacidade de liderança, alcançaram a corte de D. Pedro II, onde ficou conhecida como “Rainha do Maranhão”. Passou, também, a ficar famosa pela dureza com que tratava os inimigos e pelo autoritarismo extremado com seus funcionários e escravizados. Era voz corrente entre seus opositores de que não tinha piedade de quem atrapalhasse seus planos, e açoitava os negros que não a obedeciam, mutilando-os.
Embora haja certo consenso sobre sua crueldade, de acordo com o historiador Rodrigo do Norte, muitos dos relatos seriam exagerados. Ela não era mais cruel que a média dos escravagistas de sua época. Com a fama espalhada na região, tornou-se vaidosa e requereu o título nobiliárquico de Baronesa de Santo Antonio, local onde mantinha a fazenda principal, ao Imperador Dom Pedro II, que lhe foi negado. Após a morte do coronel Isidoro, seu marido, ela foi amante, por alguns anos, do Desembargador Francisco Vieira de Melo e teve mais 2 filhos. Assim, foi matriarca de uma família de 11 filhos. Ela não via nada demais em ser amante e nem ligava para o que as mulheres casadas diziam. Sempre aparecia grávida diante todos, que ficavam chocados
Mais tarde, já aos 60 anos, casou-se pela segunda vez oficialmente com o comerciante paraense Antônio Xavier e faleceu em 11/4/1869. Atualmente, em São Luís, existem ruas com o seu nome e uma lagoa em sua homenagem: a Lagoa da Jansen, um dos principais pontos de lazer da cidade. No folclore de São Luís, existe uma lenda sobre a carruagem de Ana Jansen. De acordo com esta lenda, por maltratar seus escravizados, ela foi condenada a vagar perpetuamente pelas ruas da cidade numa carruagem assombrada. O coche maldito partiria do cemitério do Gavião, em noites de quinta para sexta-feira. Um escravo sem cabeça conduziria a carruagem, puxada por cavalos também decapitados ou uma mula-sem-cabeça em outras versões.
Ana Jansen ficou muito conhecida no Maranhão, fazendo com que a hsitória de sua vida fosse mitificada ao longo do tempo, levando a exageros ampliados pelo folclore. Diante de tais exageros, duas historiadoras - Elizabeth Souza Abrantes e Sandra Regina Rodrigues Santos - empreenderam uma pesquisa embasada em fatos e documentos, que resultou no livro A Senhora do Maranhão: uma biografia de Ana Jansen, publicado pela editora da UEMA, em 2023. A biografia foi resenhada e publicada – SALVE ANA, SALVE DONANA: um olhar sobre a biografia da Senhora do Maranhão, Ana Jansen – por Nila Michele Bastos Santos na revista Outros Tempos, vol. 21, nº 37, 2024, que pode ser acessada clicando aqui.