Ana Belmira da Fonseca Barandas ou Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, seu nome literário, nasceu em Porto Alegre, RS, em 8/9/1806. Segundo a historiadora Hilda Flores, “é a primeira mulher poeta-cronista-novelista do Brasil”; para Maria Helena de Bairros “foi uma das introdutoras da forma narrativa na literatura sulina e brasileira” e segundo Sergio Barcelos Ximenes, Eugênia ou a filósofa apaixonada (1845) é a primeira história de ficção de escritora brasileira e Diálogos (1845), o primeiro texto feminista do teatro nacional”.
A pioneira da literatura feminina e feminista no País era filha de Ana Felícia do Nascimento e Joaquim da Fonseca Barandas, um casal de portugueses. O pai, cirurgião culto, amealhou considerável riqueza e possibilitou refinada educação literária e musical à filha. Casou-se em 1822 com o advogado português José Joaquim Pena Penalta e viveram alternadamente no Rio de Janeiro e Porto Alegre até 1843, quando se deu a separação do casal.
Após a morte do pai, em 1850, ela assumiu a chefia da família. Seu primeiro contato com o feminismo se deu com a leitura do livro Direitos das mulheres e injustiça dos homens (1832), escrito por Nísia Floresta (1810-1885), de quem se tornou amiga. Na Revolução Farroupilha (1835-1845, tomou partido a favor do Império contra o separatismo. Em 1845 publicou o livro O ramalhete, ou flores escolhidas no jardim da imaginação, reeditado pela historiadora Hilda Flores, em 1990, e lançado pela Editora Nova Dimensão/EDIPUCRS.
Trata-se de uma coletânea de poesias, crônicas e contos escritos ao longo da década anterior, onde expressa o amor, suas alegrias e desilusões; a experiência da guerra; o patriotismo numa reflexão filosófica e crítica social. Segundo os críticos, “registra-se em sua obra um certo grau de erudição e um desejo de filiar-se a uma tradição pelo fato de ter invocado figuras mitológicas para traduzir a fatalidade das situações e dos atos humanos”.
O caráter feminista de sua obra foi acentuado no texto Diálogos, uma argumentação que se contrapõe ao machismo dominante. Uma batalha intelectual entre os personagens Mariana (a própria autora), Huberto (o pai ultra-conservador) e Alfredo, o primo conciliador que aceita em parte as mudanças e inovações impostas pela Revolução Farroupilha. No conto Eugênia ou a filósofa apaixonada, ela se posiciona contra o casamento arranjado pelos pais, um costume comum na época.
No texto A filosofia por amor, defendeu que as mulheres passassem a participar das preocupações políticas, ou seja, daquilo que diretamente influenciava a vida da mulher, de seus maridos e filhos. De resto, uma preocupação compreensivel em tempos de guerra. Ainda segundo Maria Helena de Bairros Campos, em sua tese de doutorado “A produção de poesia lírica das mulheres sul-riograndenses: uma escrita amarfanhada” defendida em 2004, na PUC/RGS, ela “fez uso da temática da guerra como mote para a criação literária”.
Faleceu em 23/6/1863 e não dispomos de uma biografia da autora, mas contamos com um estudo bio-bibliográfico: Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, escrito por Hilda Agnes Flores, publicado em “Travessia – Revista de Literatura Brasileira”, nº 23, 1991. Clique aqui para acessar.