AS BRASILEIRAS: Alzira Soriano
José Domingos Brito
Luiza Alzira Teixeira Soriano nasceu em 29/4/1897, em Jardim de Angicos, RN, na época um distrito de Lages. Política e primeira mulher prefeita de uma cidade na América Latina numa época em que o “Feminismo” engatinhava. Assim, deu provas de sua condição com base em fatos e atitudes muito além das palavras de ordem e proclamas provenientes de uma necessidade do meio social.
Filha de Margarida de Vasconcelos e Miguel Teixeira de Vasconcellos, coronel da Guarda Nacional e lider politico regional, casou-se aos 17 anos com um promotor público, com quem teve 4 filhas e faleceu 4 anos depois vitimado pela Gripe Espanhola, em 1919. Alzira contava com 22 anos; estava grávida da quarta filha e voltou a morar na fazenda dos pais. Em seguida foi morar no Recife, afim de educar melhor as filhas, na casa da sogra. Porém, não se deu bem e retornou à Jardim de Angicos. Passou a administrar a fazenda e participava das reuniões políticas promovidas por seu pai. Nestas reuniões, chamou a atenção do governador Juvenal Lamartine de Faria e da lider feminista Bertha Lutz, que lá se encontrava justamente para propor uma candidatura feminina.
Lembremos que o Rio Grande do Norte foi o primeiro estado do Brasil a instituir o voto feminino em 1927 e Bertha Lutz foi lider feminista, fundadora da “Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher”, em 1919 e pioneira na luta pelo sufrágio feminino.
Contando com o apoio do pai, de Lamartine e Bertha Lutz, aceitou disputar a prefeitura de Lages como candidata do Partido Republicano em 1928. Durante a campanha sofreu todo tipo de preconceito e difamação. Chegaram a dizer que ela tinha um caso com o governador. Achavam, também, que pelo fato de querer ser uma “mulher pública”, poderia ser uma prostituta.
Foi eleita, em 1929, com mais de 60% dos votos e o fato revelou-se num fenômeno mundial, noticiado no jornal New York Times. O adversário político -Sérvulo Pires Neto Galvão- envergonhado por ter perdido a eleição para uma mulher, abandonou a política e a própria cidade. Seu governo foi responsável pela construção de estradas, mercado público, escolas e a implantação da iluminação pública a vapor. Na eleição presidencial de 1930, apoiou o paulista Júlio Prestes. Porém, com a Revolução de 1930 e o “Estado Novo”, que levou Getúlio Vargas ao poder, os prefeitos de todo o país foram substituídos por interventores.
Apesar de ser convidada a permanecer na prefeitura, não aceitou o cargo de interventora municipal. Antes de deixar o cargo, visitou seus eleitores para agradecer o apoio recebido. Conta a história que um de seus opositores ao vê-la na rua, passou a cantarolar versos contra ela. Sua reação consistiu nuns tapas na cara do opositor, quebrando-lhe os óculos. Em casa e repreendida pela famíla, revelou que “só tive essa reação por que disse o que faria e não quis bancar a covarde”.
Mudou-se para Natal em 1932, onde as filhas foram estudar; retornou à fazenda Primavera e reconstruiu sua atividade política. Em 1947 foi eleita vereadora de Lajes pela UDN-União Democrática Nacional. Na época enfrentou opositores políticos até em sua família, incluindo o irmão caçula, eleito prefeito. Mas os laços familiares se mantiveram intactos. Foi reeleita vereadora de Lajes por mais dois mandatos e presidiu a Câmara Municipal. Em fins de 1961, descobriu um câncer no útero e foi se tratar no Rio de Janeiro. A doença estava em estado avançado e retornou à Natal, onde veio a falecer em 28/5/1963, aos 66 anos.
Hoje o desenho de seu retrato encontra-se no brasão da bandeira do Município de Jardim de Angicos e é reconhecida como pioneira da participação política da mulher no Brasil. Em 2008, a cidade de Lages instituiu a “Semana Alzira Soriano”, evento anual para concentrar estudos e debates sobre a defesa dos direitos da muher e sua participação política. Em 2018, a Prefeitura de Jardim de Angicos adotou a data de seu nascimento como feriado municipal.
No mesmo ano recebeu, como homenagem póstuma, o “Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queiróz”, da Câmara dos Deputados. Ainda não dispomos de uma biografia disposta a relatar todos seus feitos e legado no mundo da Política municipal, aquela mais ligada ao eleitor. Mas podemos contar com um trabalho acadêmico de conclusão de curso de licenciatura em História -A primeira prefeita brasileira Alzira Soriano: o poder político coronelístico, Lages/RN, 1928- Trata-se de uma pesquisa, digna de uma dissertação de mestrado, desenvolvida por Isabel Engler e apresentada na UFFS-Universidade Federal da Fronteira Sul, em 2019, disponivel no link ENGLER.pdf (uffs.edu.br)