Adalzira Cavalcanti de Albuquerque Bittencourt Ferrara nasceu em 2/11/1904, em Bragança Paulista, SP. Escritora, poeta, jornalista, advogada e pioneira do movimento feminista destacando o papel da mulher na literatura brasileira. Foi uma das fundadoras e primeira presidente da Academia Feminina de Letras do Rio de Janeiro, na década de 1940.
Ainda adolescente, fundou o jornal Miosótis, em Piracicaba, SP. Em seguida mudou-se para a capital paulista, onde concluiu o curso secundário e passou a escrever poemas. Seu primeiro livro de poesias, publicado em 1919, foi prefaciado pelo poeta Vicente de Carvalho. Aos 23 anos formou-se advogada pela USP-Universidade de São Paulo, a única mulher de sua turma, e no mesmo ano embarcou para a Europa, onde estudou Sociologia na Itália e Direito Internacional na Holanda.
Em Paris, conheceu o jornal La Jeunesse et La Paix Du Monde, do qual tornou-se colaboradora. Pouco depois viveu uma temporada em Buenos Aires, onde foi professora universitária. Em 1929, publicou seu primeiro romance: Sua Excelência o Presidente da República no Ano 2500, através do tornou-se conhecida no meio cultural. Trata-se de um enredo, uma utopia onde o feminismo venceu e libertou o país das calamidades causadas pelos homens.
O livro foi espelhado no romance de Monteiro Lobato – O choque de raças ou O presidente negro – Romance americano, lançado em 1926, uma utopia que mostra a divisão do eleitorado branco em 2228, com a eleição nos EUA de um presidente negro. Foi um grande sucesso editorial. Em 1932, fundou uma escola para menores abandonados e a liga infantil Pró-Paz, a primeira organização pacifista do Brasil. Seu interesse pela educação da criança, resultou mais tarde na criação do jornal Mensageiro do Lar das Crianças, em 1951.
Sempre atenta a produção bibliográfica das mulheres, organizou a Primeira Exposição do Livro Feminino, no Rio de Janeiro, em 1943. Sobre essa temática, publicou Mulheres e livros (1948), A mulher paulista na história (1954) e deixou uma obra inacabada: Dicionário bio-bibliográfico de mulheres ilustres, notáveis e intelectuais do Brasil. Outra área de interesse crucial em sua vida pessoal foi a educação. Defendia que a educação do futuro deve ser ativa, em consenso com as ideias do educador brasileiro Anísio Teixeira e do Manifesto da Escola Nova de 1932. São ideias progressistas na época. Porém, no futuro imaginado em seu romance, o exercício da memorização é uma prática vigente. Vê-se aqui uma fusão de propostas contraditórias e pouco compatíveis.
Sua obra é composta de 10 livros de poesia, 8 de polêmicas e atualidade e o romance que lhe deu notoriedade. Participou de várias comissões governamentais durante a ditadura do governo Vargas e militou no Partido Republicano Feminino, apoiada no ideário de Auguste Comte, que tinha a mulher como base natural da nação, como esposa e educadora dos futuros cidadãos do mundo. Integrou a primeira onda do feminismo no Brasil, rejeitando o feminismo importado e propondo um feminismo nacionalista.
Foi homenageada com seu nome dado à Biblioteca Pública de Bragança Paulista e faleceu em 28/10/1976. Não contamos com uma biografia exclusiva, mas é possível conhecer seu legado na área literária e sua participação na luta pela emancipação feminina no artigo – Ao Brasil dos meus sonhos: feminismo e modernismo na utopia de Adalzira Bittencourt -, publicado por Maria Bernardete Ramos, na revista Estudos Feministas vol. 10, nº 1, de 2002, à disposição no link periódicos ufsc.